27.2.09

Dormir descansado


Não acredito que quase todos os autarcas eleitos para a Câmara de Coimbra, no anterior mandato, sejam criminosos.

Como, para ser inteiramente justo, não tenho razões para crer que algum deles, em particular, o seja.

As notícias recentes obrigam-me a reflectir sobre as palavras que ouvi, há uns dias, da boca do Presidente da Câmara Municipal da Lousã. Um homem que considero de irrepreensível honestidade. Cito de memória:

Nos dias que correm, não basta ser-se sério, íntegro, vertical, para se poder dormir descansado.

Esta é uma reflexão que, mais tarde ou mais cedo, o regime vai ter que fazer. Sem demagogias, sem partidarices, sem má-fé e sem reservas mentais.

25.2.09

Boas Notícias (2)


A inovação e a emoção vão resistir à crise, diz Kjell Nordstrom
25.02.2009 - 12h16
Por Ana Rita Faria
DR

"Público"

Kjell Nordstrom defende, mais do que nunca, a inovação e a emoção como resposta à criseAntes de fazer as malas para partir para Lisboa, onde vai participar na conferência “Business Innovation in 2009”, o sueco Kjell Nordstrom falou ao PÚBLICO sobre que tipo de empresas e líderes vão sobreviver à crise. Aquele que é considerado um dos melhores gurus do mundo dos negócios diz que, mais do que nunca, a inovação e a emoção têm de dominar.

Vem a Portugal para falar sobre como a inovação pode conduzir-nos através de tempos difíceis.

Pensa que a inovação é agora, mais do que nunca, necessária?Sem dúvida. Numa crise como a actual, fazer o mesmo que todos os outros fazem é uma má ideia. Ninguém quer pagar mais por uma cópia ou por algo que se parece como outra coisa qualquer.

Mas será que as empresas vão arriscar e inovar? Não será mais seguro continuar a imitar?Quem o fizer está a cair numa armadilha. Claro que é mais barato e conveniente copiar do que inovar. Mas, em contrapartida, acaba por ser ainda mais arriscado porque a empresa se coloca a si mesma numa situação em que, mais tarde ou mais cedo, vai perder. Crises como a actual mostram que realmente temos de fazer as coisas de um modo diferente. E por vezes é muito simples. Por exemplo, quando se quer começar um processo de inovação, a primeira coisa a fazer é contratar pessoas que tenham outro background, diferente dos outros funcionários da companhia. É procurar pessoas com outro treino, outra visão, procurar algo não convencional. Desde o mais básico que é: se uma empresa tiver muitos homens deve contratar uma mulher.

Que tipo de companhias vão sobreviver à crise?Há dois tipos: as grandes multinacionais como a Siemens, ou as pequenas empresas especializadas como a Apple. No fundo, serão as companhias inovadoras e que, simultaneamente, têm uma relação muito próxima com o consumidor e são capazes de o seduzir.

Que empresas são essas capazes de seduzir?Basta pensar no Mini da BMW, no iPhone da Apple, nos telemóveis da Nokia...

Os líderes do futuro também terão de ser assim... sedutores?Sem dúvida. Serão uma combinação de “hard and soft” (“duro e suave”). Um líder tem de ser duro, de cortar custos e tomar decisões críticas. Mas tem também de ser emocional e capaz de, agora mais do que nunca, entender os consumidores, motivar os empregados e antecipar as tendências que estão por vir. Um dos melhores exemplos disto é Richard Branson, dono da Virgin. Ou Barack Obama, a nível político. E, em breve, serão as mulheres. Muitas serão as líderes no futuro.

Sempre disse que as mulheres têm uma vantagem competitiva e que irão dominar o mundo dos negócios. Pensa que a crise vai acelerar esse processo?É relativo. Por um lado, as empresas tendem a assumir menos riscos e, por isso, continuarão a contratar homens e a fazer as mesmas coisas que faziam, o que não será bom para as mulheres. Mas também haverá empresas que perceberão a importância de contratar pessoas diferentes em tempos de crise. Hoje, as mulheres já estão em maioria nas universidades e praticamente em todas as áreas. Ou seja, elas estão a conseguir uma boa formação e, quando saírem para o mercado, vão claramente dominar. Nalguns países como os da Escandinávia e no Reino Unido, já se nota inclusive a falta de homens.

O que vai acontecer a estes?Vão ter muitos problemas e terão tendência a aproximarem-se do mundo feminino. Isso já se nota hoje em dia. Há cada vez mais metrossexuais e, mesmo nos negócios, os homens vão tornar-se cada vez mais parecidos com as mulheres, privilegiando uma postura mais conciliadora do que agressiva. A própria relação com o risco será diferente. As mulheres não irão assumir tantos riscos como os homens.

Mas isso não poderá prejudicar a inovação? A inovação não é também assumir riscos?É, mas não demasiados. Tem de haver balanço. Se houver muito risco, pode destruir-se o sistema. Basta olhar para a crise financeira. Se Wall Street fosse dominada pelas mulheres talvez não tivesse sido assim (risos). De qualquer forma, é um caso onde foram claramente tomados demasiados riscos.

E gerou uma crise de confiança...Sim, mas não em termos gerais ou absolutos. Há algumas pessoas que perderam a confiança no sistema económico, mas a verdade é que não temos uma alternativa.

Pensa que com a crise também se esvaiu a crença nos Estados Unidos como centro do mundo económico? Era particularmente adepto dessa ideia...Admito que a imagem dos Estados Unidos tenha mudado um pouco mas, com o novo presidente, Barack Obama, o país conseguiu voltar a mudar de uma forma dramática e, sobretudo, muito rapidamente. Obama é um americano negro, de descendência africana e vê-lo como presidente dos EUA é algo que muitas pessoas consideravam impossível. Os norte-americanos tiveram uma capacidade notável de renovar-se a si mesmos com a crise.

Voltando ao mundo dos negócios, costuma dizer que as empresas bem-sucedidas são aquelas que não competem mas sim que evitar a concorrência...Sim, chamo a isso a criação de um monopólio temporário. É quando uma empresa é tão diferente das outras que não chega a competir. Para isso é preciso primeiro encontrar uma vantagem competitiva, mas claro que esta não se vai manter para sempre. A Volvo, por exemplo, distinguiu-se enquanto fabricante automóvel a fazer casos únicos no mundo, mais seguros do que os outros. Hoje em dia, todos os carros são seguros.

Então não se pode parar de inovar?Claro, a inovação nunca pode parar.

Considera que as universidades estão preparadas para formar os líderes do futuro?Não, não estão preparadas porque não é essa a sua função. As universidades não preparam líderes nem desenvolvem os seres humanos, apenas treinam pessoas em matérias específicas, como economia, medicina ou gestão, e dão o conhecimento básico sobre a sociedade. A liderança e as capacidades necessárias para ser um bom líder não se adquirem na universidade.

Então adquirem-se ao longo da vida? Ou nascem connosco?Pode haver capacidades inatas de liderança e outras que se desenvolvem ao longo da vida. No fundo, trata-se de aprender fazendo, na prática.

Além de professor, é considerado um dos maiores gurus de negócios da actualidade. Identifica-se com essa imagem?Gosto de ser chamado de guru, não tenho problemas nenhuns com isso. Comecei há 25 anos a fazer apresentações a empresas na Escandinávia, que foram muito apreciadas, tal como os meus conselhos. A partir daí comecei a aumentar a minha base de clientes e hoje faço apresentações um pouco por todo o mundo. Ao mesmo tempo, fui estudando o que podia sobre os assuntos mais variados, desde a arquitectura, a economia, a psicologia e a história. É desses vários sítios que eu recolho inspiração para construir e partilhar o meu conhecimento.

Uma curiosidade: é verdade que traz sempre consigo um bloco de “post-its” para ir tomando notas sempre que quer?Sim, é uma ferramenta de trabalho fundamental para mim.

Qual foi a última nota que tomou?(remexe em papéis) A última frase que anotei foi uma pergunta: “Do we have too much choice?” (“Teremos demasiada escolha?”). Hoje, as escolhas à nossa disposição são imensas, desde fornecedores de electricidade e telemóveis à simples decisão de fazer uma tatuagem. Isso cria confusão na cabeça das pessoas e obriga-as a despender muito tempo. Temos de encontrar forma de sair disso.

Perfil de um guru

Foi consultor de várias multinacionais, trabalhou com Richard Branson e com Tony Blair e correu meio mundo a dar conselhos sobre gestão. Licenciado em Economia e professor na Stockholm School of Business, Kjell Nordstrom confessou ao PÚBLICO que retira inspiração dos sítios mais variados, desde a economia e história, à psicologia e arquitectura. Juntamente com Jonas Ridderstrale, assinou dois best-sellers de gestão: “Funky Business” e “Karaoke Capitalism”. Amanhã, em Lisboa, além de vir falar sobre o mundo dos negócios, comemora o seu 51.º aniversário.

24.2.09

Entre dois mundos


Cumprem-se, mais ou menos por estes dias, dois anos sobre os primeiros textos que publiquei no Jornal de Notícias. Fui desafiado a escrever sobre Coimbra e devo dizer que, exceptuando alguma pulsão partidária - de estreito fascínio, adianto já - pouco ou nada me detive no que haveria de ser, depois de pronto, este meu “passeio público”.

Fui, pois, escrevendo como pude. Às vezes, como calhou. Sozinho. Ou melhor, com Coimbra por perto. Normalmente, do outro lado da janela. O que me obriga a confessar que estes textos não são, nem sempre foram, da minha inteira autoria. São, foram-no, textos filtrados pelo vidro. E isso faz uma enormíssima diferença.

Do lado de lá da janela, Coimbra faz-se de gente e de cheiros. Faz-se de harmonias. Desfaz-se em gritarias. É a cidade que respira, a cidade que transpira. Uma cidade que desliza e que se arrasta. Que nos arrasa.

Para cá do vidro, resta-me a função da cidade. Numa acepção que pretende ser matemática. Que é, por isso, pretensiosa. E chata.

Se lá fora vivem os resultados, cá dentro buscam-se as equações. Por tentativa e erro. O que escrevo é, pois, um compromisso entre a memória fresca do que lá vai fora e a sua aparência, filtrada pelo vidro, vítrea (?), do lado de cá. É o desafio de fazer derreter o vidro, resignado à evidência de que os dois mundos, o de cá e o de lá, jamais se misturam. Jamais se dispensam, também.

Entre dois mundos, pois, tenho ensaiado que a cidade se apouca por estar “parada no tempo”. Tenho defendido, em manifesto défice criativo, o que muitos já defenderam antes de mim: que Coimbra precisa de acompanhar a “modernidade” e que se deixou “ultrapassar” por outras cidades, alegadamente, com menos “potencial”. O que pretende afirmar que o “movimento“, para lá do vidro, é resultado, apenas, de uma função circular. E que isso é mau porque impede o progresso da cidade pela via mais consensual - a reformista. Vou deixar-me dessas coisas.

Chegou a hora de revelar que me inclino, hoje, para a tese contrária. Talvez a cidade não precise de “agitação” nenhuma, de “modernidade” nenhuma. Talvez a natureza reprimida de Coimbra, um inexorável recalcamento, seja mesmo o seu maior trunfo. Talvez seja preferível que a cidade sufoque e esperneie, muito. Até, gloriosamente, rebentar. A vocação de Coimbra sempre foi, afinal, de pendor revolucionário. Pelo menos é o que parece - o que sempre pareceu - do lado de cá do vidro.
Coimbra honrará a sua história.

Hoje, no JN.

23.2.09

Boas notícias (1)


Abro aqui uma rubrica (adoro esta palavra!) que tentarei manter, o mais possível.

Como é sabido, a comunicação social - toda ela - dedica uma parte significativa do seu espaço noticioso às más notícias (crimes, desastres naturais, acidentes rodoviários, doenças, misérias, incompetências, abusos, etc...). Cumpre o seu trabalho.

Ora, tendo em vista a iminente constituição da APIAA (Associação Portuguesa dos Inimigos dos Ansiolíticos e Antidepressivos), passarei a destacar neste blogue, sempre que possível, as boas notícias que, palidamente, também vão sendo publicadas.

UE aperta o cerco a fundos especulativos e paraísos fiscais
23.02.2009, Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas
in, "Público"
Os seis maiores países da União Europeia reuniram-se ontem em Berlim para afinar posições para a segunda cimeira do G20, em Abril, na capital britânica

Os maiores países da União Europeia (UE) insistiram ontem na sua determinação de concretizar uma grande reforma do sistema financeiro internacional, para evitar uma repetição da actual crise, insistindo na regulação dos fundos especulativos e na penalização dos paraísos fiscais.
Esta posição foi assumida pelos líderes da França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda, os seis países europeus do G20 (que reúne os países mais ricos e as principais economias emergentes), num encontro em Berlim para preparar a posição europeia para a cimeira deste fórum, a 2 de Abril, em Londres."Voltámos a sublinhar a convicção de que todos os mercados financeiros, produtos e participantes devem ser sujeitos a vigilância ou regulação, sem excepção e independentemente do país de origem", afirmam os Seis nas conclusões do encontro, que contou com a presidência checa da UE e os presidentes do Eurogrupo, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Esta necessidade de regulação é urgente para os hedge funds, ou fundos especulativos, "que podem ser um risco sistémico", e para as agências de notação de risco, afirmam. Os Seis defendem ainda a instituição, "o mais depressa possível", de uma lista de sanções contra os paraísos fiscais.Este cerco a alguns dos sectores mais opacos do sistema financeiro, acusados de terem alimentado e agravado a crise financeira, resulta da aproximação de posições dos Seis e, sobretudo, uma alteração da hesitação inicial do Reino Unido face à regulação dos fundos especulativos.Por iniciativa europeia, a primeira cimeira do G20 foi a 15 de Novembro, em Washington, e definiu 47 áreas de reforma do sistema financeiro a concretizar em Abril."Berlim é uma etapa importante entre Washington e Londres", afirmou o Presidente francês, Nicolas Sarkozy. "Em Londres não se tomarão medidas superficiais, mas estruturais". Angela Merkel, chanceler alemã que presidiu à cimeira, disse que os Seis acordaram "apoiar a duplicação dos recursos [financeiros] do Fundo Monetário Internacional", para 500 mil milhões de euros. Isto, para lhe permitir "não apenas gerir as crises mas evitá-las", precisou Gordon Brown, primeiro- ministro britânico. Outro tema de preocupação ontem teve a ver com a necessidade de evitar que os planos nacionais contra a recessão - sobretudo as ajudas ao sector automóvel em França, Espanha, Itália e Estados Unidos - se transformem em exercícios proteccionistas, prejudiciais aos parceiros comerciais. os Seis assumem o compromisso de aplicar os seus planos de uma forma que "limite as distorções de concorrência ao mínimo absoluto".

Slumdog


Não acho que seja difícil ter boas ideias. Difícil é saber o que fazer com elas. Talvez por isso, a maior parte das boas ideias dê lugar a resultados idiotas.

Explicar, com a história de vida de um jovem indiano, a improvável resposta a meia dúzia de perguntas num concurso, é uma ideia engraçada. Mas, na construção do argumento, impunha-se que fosse a "história de vida" a condicionar as perguntas (respostas) e não o contrário. Como parece ter acontecido.

Isto, mais os caricaturais "computerdjis" e "djamals"- para consumo ocidental de pipocas - faz de Slumdog Millionaire, na minha modesta opinião, um logro travestido de ode à globalização.

22.2.09

Preocupa-me.


Este senhor.
E não há quem me tire daí a ideia.

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"(...)Entre dois mundos, pois, tenho ensaiado que a cidade se apouca por estar “parada no tempo”. Tenho defendido, em manifesto défice criativo, o que muitos já defenderam antes de mim: que Coimbra precisa de acompanhar a “modernidade” e que se deixou “ultrapassar” por outras cidades, alegadamente, com menos “potencial”. O que pretende afirmar que o "movimento", para lá do vidro, é resultado, apenas, de uma função circular. E que isso é mau porque impede o progresso da cidade pela via mais consensual - a reformista. Vou deixar-me dessas coisas.(...)"

19.2.09

Trapalhães


Quem me conhece sabe que não tenho espírito de corte, mas incomoda-me o pré-conceito de algumas notícias.

À noitinha, um pivot da TVI quase obrigou o Miguel Sousa Tavares a qualificar a decisão do MP como um acto de "censura política".

Faltou explicar que as imagens "censuradas" (excessivamente?)o seriam, provavelmente, no magalhães ou noutro lado qualquer. Ou seja, o magalhães não tem mesmo nada com o assunto. Nem o Governo, diga-se. Já agora.

Em reflexão


Sou de esquerda. Não sou católico. E acho que não sou a favor da eutanásia. Será que posso?
(continua)

17.2.09

Um problema com a cultura


Não é novidade para ninguém. Coimbra, adiada “capital da cultura”, tem um problema com a cultura. Ou vários. Mas vamos por partes.

Quando se discute a “cultura”de Coimbra está-se a discutir, sobretudo, a existência ou inexistência de uma política cultural na cidade. Não está em causa a “honra” da cidade enquanto sujeito histórico-cultural e não está em causa, claro, o grau de “erudição” dos conimbricenses.

Mas são estas duas coisas, as que não estão em causa, que precisamente põem em causa uma discussão lúcida a este propósito.

Quanto à “honra” da cidade, Coimbra perde a cabeça de cada vez que a questão cultural é posta em cima da mesa. A “estatura cultural” da cidade é uma espécie de direito adquirido. Corresponde a uma certificação histórica, a uma consagração reverencial. Confunde-se com a sua própria identidade. Semelhante “estatura” não merece, pois, e não compreende, os “ataques” a que vai sendo sujeita, reclamando que se lhe vergue o mundo, um mundo “petulante” que, muitas vezes, despreza.

Quanto à “erudição” dos conimbricenses, a coisa tem contornos de maior requinte. Por um lado, com homenagens e flores, disciplina-se a gente “erudita”, contextualmente resignada, que claramente não percebe, ou não quer perceber, que patrocina uma farsa. Por outro lado, em contradição apenas aparente, ergue-se a bandeira da cultura “popular” e alimenta-se uma guerra “contra os eruditos”, mesquinha, como todas as guerras, diga-se, aliás.

Mas neste particular, a contradição entre a “defesa” dos eruditos e a “exaltação” dos populares é, como já se disse, apenas aparente.

Dar sustento a esta guerra parte de uma mesma filiação reaccionária, que ignora a cultura como direito humano e ignora, igualmente, a sua promoção, livre de preconceitos, como um dever social. A cultura, como direito de todos - e como responsabilidade pública - inquieta-se com este tipo de manipulações. Simplesmente, porque lhe interessa o progresso, a igualdade entre os homens e a sua dignidade.

Não pode, por isso, estar em causa que a cultura de Coimbra seja uma prerrogativa de erudição ou, em alternativa, uma afirmação popular. A política cultural deve abrir as portas do mundo, de todo o mundo, aos homens, a todos os homens. Não lhes pode reservar, apenas, um esgar recortado, pelo buraco da fechadura. E isso, sim, seria uma desonra.

Hoje, no JN.

15.2.09

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"Não pode, por isso, estar em causa que a cultura de Coimbra seja uma prerrogativa de erudição ou, em alternativa, uma afirmação popular. A política cultural deve abrir as portas do mundo, de todo o mundo, aos homens, a todos os homens. Não lhes pode reservar, apenas, um esgar recortado, pelo buraco da fechadura. E isso, sim, seria uma desonra."

10.2.09

Porque não?


"Numa outra intervenção, Daniel Rioja, vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores, defendeu mais liquidez para o crescimento do emprego e propôs que os governos, as empresas e os sindicatos têm uma responsabilidade especial para trabalharem em conjunto. "O diálogo social é uma realidade concreta se quisermos empresas e empregos sustentáveis", concluiu Rioja." Aqui


O tal diálogo, de que os portugueses se "vingam"...

Coimbra Suspensa



Assinalo, comovido, que chegou ao fim a ideia de instalar o novo tribunal de Coimbra na margem esquerda. Mas incomoda-me que, aparentemente, todos considerem normal continuarmos, ao fim de tantos anos, a discutir a morada de um palácio.

As forças vivas da cidade, o poder, a oposição, a sociedade civil, entretiveram-se toda a semana que passou a dar beijinhos a este propósito, mas, para além da satisfação geral, creio que se justifica alguma penitência, geral também, por mais um episódio do mais infeliz diletantismo colectivo. Somos todos responsáveis.

O novo tribunal já devia estar feito há muito tempo. Na baixa, claro. E só um grande apego à “reflexão”, como aquele a que a minha cidade costuma aderir, justifica a nossa resignação com a inexistência do tribunal e o nosso entusiasmo com o anúncio, certeiro mas tardio, da sua morada.

Mas, se me permitem, não convocarei, aqui, as “partidarices” mais habituais. Aquelas que se preocupam, sobretudo, em saber se a “culpa” foi da direita ou da esquerda. Afinal, como diz o dr. Encarnação, este assunto começou-se a discutir quando ele era governador civil, “já lá vão trinta anos”, o que, para além de outras revelações, diz muito acerca da perenidade de algumas coisas.

Numa outra ocasião, alertei para o facto de Coimbra ter perdido demasiado tempo a “reflectir” sobre a criação de um parque tecnológico, enquanto assistia, candidamente, ao crescimento, pé ante pé, do Biocant em Cantanhede. Avisei, também, que quando o agora Coimbra i-Parque (outrora Tecnopólo) estivesse pronto, talvez fosse tarde demais. Pelo menos para umas duas gerações de conimbricenses desempregados. Está por provar que não seja.

Agora, admitindo que o tribunal tenha a virtude de não agravar a agonia da Baixa, aguardamos a sua construção antes que a agonia termine. E antes que termine a Baixa.

“Transporta um punhado de terra todos os dias e farás uma montanha”.

Eis uma citação que, se não fosse de Confúcio, podia muito bem ser do incrível Bruno Aleixo - também ele um conimbricense que faz jus às mais valorosas virtudes filosófico-reflexivas. Daquelas que dão para rir.

Para já, com pouco mais que um punhado de terra nas mãos, Coimbra, claramente, ainda não decidiu onde assentar o sopé da sua montanha. Coimbra suspensa. À espera. “Que nem um garçon!”