25.11.09

Manifesto

Subscrevi e recomendo a subscrição desta petição, lançada por João Silva.

Eu próprio já tive oportunidade de me pronunciar sobre o assunto, em artigo publicado ontem.

Aproveito para assinalar que a observação dos actuais subscritores (alguns ainda não por via electrónica) aponta para o facto de haver em Coimbra, afinal, denominadores comuns para a esquerda. E podemos dizer que haverá, talvez, uma esquerda presente.

24.11.09

Vergonha

O dr. Encarnação resolveu proibir o jornalismo nas sessões de Câmara. Parece que tinha dificuldades de “ponderação” na presença da comunicação social e, vai daí, correu com ela das reuniões. A mensagem não é grande de coisa? Mata-se o mensageiro. Está visto que a versão 3.0 do dr. Encarnação não é mesmo para brincadeiras.

Vejamos, daqui por diante, como se comportará na presença de jornalistas e fotógrafos, por essas festas e arraiais que, mandato afora, tratará de abençoar. Vejamos, pois, como se comportará o senhor presidente, das próximas vezes que se lhe chegar essa gente retorcida que dá pelo nome de comunicação social Em coerência, não mais o dr. Encarnação se deixará fotografar com criancinhas ao colo ou a dançar o vira do Mondego. Deixar-se-á das encenações a que tanto nos habituou. Manter-se-á ponderado, agora, o sr. presidente. Ponderado, porque longe do olhar indiscreto dos srs. jornalistas. Um olhar, sabe-se, sempre pronto a confundir a Susan Boyle com a Tieta do Agreste.

De uma ou de outra forma, o que já percebemos é que, muito injustamente, seremos privados dos altíssimos momentos de política que os jornais da caserna vinham dando à estampa, quando ainda lhes estavam franqueadas as portas, pelo dr. Encarnação. A cidade não se recomporá tão cedo e, decerto, correrão lágrimas de saudade, pela ausência de tantas e tão estimulantes ideias que têm passado pela Praça 8 de Maio. A menos que, como alguém dizia, o dr. Encarnação trate de apontar, na sua direcção, umas das câmaras de vídeo com que pretende vigiar essa actividade de extraordinário interesse público que são os nossos passeios pela Baixa de Coimbra.

Sem querer cair na tentação de moralizar, mas já tropeçando nela, creio que raramente os políticos se distinguem verdadeiramente de algumas estrelas da música popular. Ambos confundem a imprensa com a assessoria de imprensa. Sendo que – com a excepção de alguns autarcas em terceiro mandato – têm vergonha de o assumir.

23.11.09

Ainda (h)a esquerda

Verdade que não subscrevi, nem subscrevo, algumas posições de Manuel Alegre. Mas não posso deixar de assinalar o esforço que tem empreendido em nome da convergência das esquerdas, naquilo que é o essencial. E creio que esse será, mesmo, o seu legado mais significativo.

Na edição de hoje do "Público", assinalando uma edição especial da ops!, pode ler-se:

Num texto intitulado “Abertura e Inovação”, o ex-deputado socialista volta ao essencial da sua mensagem na noite eleitoral, em que recomendou ao PS que no Parlamento procure preferencialmente compromissos à esquerda.

Lembrando que “quem vota nos diferentes partidos da esquerda não quer ser governado à direita”, para Alegre “custa a crer que não seja possível um mínimo denominador comum”, pelo menos nas políticas públicas, no papel do Estado, na escola pública, no Código Laboral, e nos direitos sociais, nomeadamente no Serviço Nacional de Saúde. “Não se pede a ninguém que abdique. Pede-se apenas a cada uma das esquerdas que seja capaz de ouvir as outras.”

A revista, aliás, pretende isso mesmo: “Contrariar o tabu da incomunicabilidade das esquerdas e estabelecer pontes para um diálogo sem agendas escondidas”, elogia Alegre. Lembrando o declínio do socialismo democrático europeu de países de peso como a Alemanha, França e Inglaterra, que “não se tem mostrado capaz de dar uma resposta inovadora e convincente às causas da crise”, Alegre cita o jornalista, historiador e antigo sindicalista francês Jacques Julliard para explicar o avanço da direita. O socialismo deixou-se “colonizar pelo neo-liberalismo” e, ao mesmo tempo, as outras esquerdas continuam “a recusar a economia de mercado e permanecem barricadas no socialismo cro-magnon”


Mais sobre o assunto, aqui.

E, com a vénia devida aos Professores Elísio Estanque e Rui Namorado, também aqui e aqui.

21.11.09

Esquerda Presente


O Clube de Política "Esquerda Presente" promoverá no próximo dia 28 de Novembro um café-tertúlia sobre "Políticas Locais de Esquerda", em Coimbra, tendo com orador o dr. Paulo Pedroso.

Mais informações aqui.

18.11.09

Coisas que me fazem feliz



Um vídeo muito Kitsch. A voz do Stevie. Uma música solar no Inverno.

17.11.09

Ética


Fala-se de ética por estes dias. A política, diz-se, deve conter um elevado sentido ético, de missão, de serviço. Eu digo que quem não aprendeu antes, não aprenderá ética na política. E que, no debate político, a ética deve ser o ponto de partida, não o ponto de chegada.

Claro que quando falo de política falo, sobretudo, de partidos, esses “pilares da democracia” que o povo conhece tão bem. E que, já agora, eu conheço ao ponto de saber que há sítios melhores para o ensino da catequese, sem considerar sequer o Santuário de Fátima e respectivas subsidiárias. Mas o que eu quero dizer mesmo é que não se entra num partido para aprender bons costumes e, quando acontece, corre-se o risco de sair excomungado. Não que os partidos não tenham papas, rosários, calvários e missais. Mas, em rigor, por terem de tudo isso um pouco. Acho – e é esse o meu ponto – que, em matéria de ética, não devemos perguntar o que os partidos podem fazer por nós. Por muito cliché que pareça, devemos perguntar o que poderão as nossas pobres almas fazer pelos “pilares da democracia”.

Por outro lado, se à ética corresponder um carácter na relação entre os homens e destes com a sociedade, enquanto seres livres e munidos de razão; e se o objectivo dos partidos for a concretização de uma certa ética, num dado tempo e lugar; quando a ética claudica dentro de um partido e se transforma no ponto único do seu debate interno, então é o partido que claudica sobre si mesmo e, por muito que esperneie, o que lhe resta é a extrema-unção.

Creio, por isso, que se no PS Coimbra é urgente a afirmação dos valores democráticos e republicanos, de uma certa ética (não necessariamente de uma certa moral), reduzir o debate interno à afirmação desses princípios oblitera o essencial da sua missão pública: transformar a sociedade coimbrã e criar melhores condições de vida para os seus cidadãos.

O que quero dizer com isto é que defendo a ética no PS Coimbra e subscrevo todas as iniciativas que apontem nesse sentido. Mas os cidadãos acharão curto esse debate, se deixarmos para trás a responsabilidade de analisar os seus problemas e avançar com propostas para a sua resolução.

Garantir o jornalismo livre nas sessões de câmara, apresentar um plano sério para a reabilitação da baixa de Coimbra ou discutir, sem reserva mental, primárias na escolha das candidaturas socialistas, em Coimbra, são formas igualmente válidas de afirmar a ética na política.

13.11.09

Evidência

Leio uma espécie de apologia à política baseada na evidência (what matters is what works) e assinalo a seguinte passagem:

"É também verdade que o mundo político se tornou um local sem certezas ideológicas e, neste contexto, a evidência pode ter um papel mais importante do que num ambiente de maiores convicções".

Subliminarmente, as convicções são menorizadas, para darem lugar à - evidente, presume-se - "evidência".

Assim não vamos lá.

9.11.09

Não chegam ao céu

Vozes de burro.

Uma assembleia de esquerda


Num texto recente, sugeri a eleição à esquerda de um presidente para a Assembleia Municipal de Coimbra. Se a lei permite e os cidadãos confiam, não devem as cúpulas partidárias excluir a possibilidade de assembleias e executivos municipais de sinal diferente. Essa seria uma oportunidade para inaugurar a convergência das esquerdas, em Coimbra, por esdrúxula que a ideia se possa afigurar. Mas não me estenderei no argumentário, senão para dizer que outra concepção defrauda quem, nas urnas, botou a cruz em quadradinhos diferentes, para a Câmara e para Assembleia. Anulando, nesses casos, pelo menos um dos votos.

Mas isso agora interessa pouco e o facto é que até me alegrei, semana fora, ao ler na imprensa que o que antes parecia ser uma posição de princípio contra a eleição de Helena Freitas dava, aparentemente, lugar à determinação contrária. Alegrei-me, não que me convencesse da persuasão dos meus argumentos, sequer da sua idoneidade moral, mas porque, no fim de contas, por razões eventualmente transcendentes, teríamos uma presidente de Assembleia Municipal eleita pela esquerda.

Observo agora, conhecida a reeleição de Manuel Porto, que a esquerda foi tímida nos esforços que desenvolveu. E que, com efeito, não é de esquerda o presidente da Assembleia Municipal de Coimbra. Mas é de esquerda, continua a ser de esquerda, a Assembleia, ela própria, facto a que, já agora, não deixarei de pedir consequência. Resolvida a eleição dos cidadãos a ou b para a mesa da assembleia, chegou a hora de tratar da política, propriamente dita.

É que a política, a dita cuja, anda demasiado sequestrada pelos seus protagonistas, pelas opções de vaidade, antes de se iluminar pelas ideias que transporta, pela nobreza dos propósitos e pelos resultados da acção. O que, se pensarmos bem, nem sequer é uma tendência recente: o culto da personalidade perpassa toda a história e ciência políticas. Apenas que cada um trate de assumir, claramente, uma posição sobre o assunto. A minha inclina-se para a urgência de uma esquerda que assuma, sem ambiguidade, as suas ideias políticas. E que deixe de lado o perfil ou a estatura dos protagonistas, pelo menos na acepção que a Ana Salazar privilegiaria.

Coimbra precisa de uma esquerda una, que promova um desenvolvimento urbano sustentável; que perceba que a segurança não se resolve pelo casse-tête, antes depende da integração económica e social das comunidades; que assuma a participação dos cidadãos como condição de vitalidade democrática; que eleve as consciências através da cultura, ao invés de as apascentar; e que não se limite a assobiar para o lado do Governo, quando chamada a pronunciar-se sobre o desemprego ou o definhamento industrial.

Até desejo felicidades ao professor Manuel Porto. Mas, claro, se elas não dependerem de uma esquerda resignada, apática ou disforme.

5.11.09

Sempre ao dispor.

A ser verdadeira esta notícia, não foi mal empregue o tempo que gastei a escrever isto.

4.11.09

Vieira da Silva

Ouvi hoje o Ministro Vieira da Silva dizer que vai rever os termos de apoio às PME´s.
Quero acreditar que o fará transferindo para o Ministério da Economia a filosofia que imprimiu no Ministério da Segurança Social - Maior preocupação com as empresas em dificuldade e com os seus trabalhadores: Menor ortodoxia de mercado.

2.11.09

Regresso ao Futuro


Coimbra, 12 de Outubro de 2013. O Partido Socialista (PS) venceu ontem as eleições autárquicas em Coimbra. A afluência às urnas, que à hora de fecho concentrava centenas de eleitores junto à Escola Avelar Brotero, anunciava já uma mudança radical na relação da cidade com os seus políticos e sugeria a vitória do PS, depois de um terceiro mandato de Carlos Encarnação sem rasgo, penoso para o próprio e, novamente, marcado por conflitos no executivo municipal.

Mais de dez anos volvidos desde que os socialistas de Coimbra perderam a presidência da Câmara, em 2001 – o que lhes ditou uma travessia difícil, com divisões internas aparentemente insanáveis e com um significativo divórcio entre a esquerda democrática de Coimbra e a sua filiação natural – o PS vinha dando, paulatinamente, sinais de mudança. Acredita-se que a Declaração de Coimbra, subscrita em Abril de 2011, foi o decisivo momento de viragem, depois do Congresso “Coimbra Merece Melhor”, onde os socialistas fizeram, finalmente, a sua catarse, alcançando uma ampla base de convergência interna.

A Declaração de Coimbra confortava, nas suas propostas, aqueles que vinham reclamando uma viragem à esquerda no PS, que exigiam um compromisso ético irrepreensível e manifestavam reservas quanto à excessiva profissionalização da política; ao mesmo tempo que acolhia uma visão tolerante e fraterna na organização partidária; e revelava um caminho de irreverência para o futuro de Coimbra, negando todas as formas de conservadorismo, resignação ou favorecimento.

Já em 2009, a candidatura de Álvaro Maia Seco havia representado um passo importante no que se convencionou chamar a regeneração do PS-Coimbra. Pode dizer-se até que o perfil do candidato e a sua competência profissional eram, naquela altura, precursores do compromisso que veio a ganhar letra de forma na Declaração de Coimbra. Apenas que, à data, os sinais de mudança no partido eram pálidos e havia, ainda, um longo caminho a percorrer.

Com efeito, a derrota de 2009 acabou por confrontar os socialistas de Coimbra com o seu próprio esgotamento e o processo de renovação que daí arrancou levou a que parassem, finalmente, de ajustar contas com o passado. Era preciso ajustá-las, antes, com o futuro. E quem teve a oportunidade de olhar as mulheres e os homens, velhos e novos, milhares de conimbricenses, que se concentraram durante toda a noite de ontem na Praça 8 de Maio – um mar de povo radiante – percebe que as contas foram, agora, finalmente, saldadas. É pois tempo de lançar mãos à obra.