18.1.11

Erros a não repetir


Esta semana, a Assembleia da República discutirá uma petição apresentada por um grupo de cidadãos, sobre a paragem das obras do Metro Mondego. Dir-se-á que o país – e os deputados da nação – estarão de olhos postos em Coimbra. Não é verdade.

Para o país, mergulhado na crise, preocupado com o que o novo ano lhe reserva, a discussão do Metro Mondego no parlamento será pouco mais do que um regionalismo bizarro. Para os deputados, para a maior parte deles, a discussão desta petição, como de tantas outras, será apenas um ritual, mais ou menos penoso que, no limite, lhes dará pretexto para discutir o que – seja do lado do governo, seja do lado da oposição – entendem ser a “verdadeira”, “grande”, “política”. Lamento mas, se não estou enganado, Coimbra arrisca-se a ficar, de novo, em segundo plano.

Nas últimas duas décadas, Coimbra rumou a Lisboa por diversas vezes, para se indignar contra a política do Governo e contra o que entendeu ser uma agressão aos seus particulares, mas legítimos, interesses. Recordo-me, assim de repente, de dois processos distintos: a co-incineração e a Ponte Europa. Dois processos distintos entre si, é certo, mas com muito em comum. Em ambos a cidade se indignou contra o Governo (um do PS, outro do PSD); em ambos se esboçaram revoltas populares, se fizeram ameaças várias, em nome dos superiores interesses de Coimbra; e em ambos, vários anos depois, Coimbra perdeu a luta e se quedou ao silêncio. A co-incineração arrancou, paulatinamente, em Souselas e já ninguém quer saber do assunto. A Ponte Europa esteve parada durante vários meses, sofreu uma derrapagem orçamental de três dígitos e, nesse caso, tendo o parlamento recebido uma petição semelhante à que agora vai discutir a propósito do Metro, o coração da democracia preferiu fazer-lhe vista grossa. Não é famoso o historial de Coimbra, neste tipo de processos? Pois não. Mas quer isso dizer que estamos condenados? Também não.

A luta contra a paragem das obras do Metro Mondego é um novo capítulo da história de Coimbra, que será aquilo que os seus protagonistas (mesmo que muitos deles sejam os mesmos do passado) quiserem que ele seja. Quer na co-incineração, quer no processo da Ponte Europa, o grande erro foi que a discussão nunca saiu, verdadeiramente, de um certo espírito politiqueiro e, por isso, nasceu e morreu como sempre nascem e morrem essas coisas. Ora uma revolta de sangue, ora um silêncio de morte.

Talvez não conheçamos a solução para o problema do Metro. Mas será um bom começo se soubermos, ao menos, quais os erros a não repetir.

10.1.11

Administradores supranumerários


Não é possível dizer que o Metro Mondego acabou. Nem é possível dizer, já agora, que tenha descarrilado. Isto porque o Metro Mondego nunca existiu e, em bom rigor, nunca chegou a sentir o cheiro dos carris. Não existiu, pelo menos para a maior parte de nós.

É óbvio que, ao longo de quase vinte anos, o Metro Mondego existiu. Mas só para alguns. Existiu para quem vendeu ou arrendou a sua (dizem-me) faustosa sede, numa zona nobre da cidade de Coimbra; existiu para os seus administradores – talvez para cima de uma dúzia, se somados todos os mandatos; existiu para quem fez os estudos e ali deu consultas de toda a sorte. Dizem-me que em certos países do chamado terceiro mundo, há empresas com três administradores e dois funcionários. Não estou certo de que a Metro Mondego se possa rir muito, numa eventual comparação. Mas fico-me por aqui. Isto é o que toda a gente sabe. E a Metro Mondego nem sequer é caso único.

O que algumas pessoas talvez não saibam é que, embora o presidente da Metro Mondego tenha tido a dignidade de se demitir quando percebeu que o projecto não ia a lado nenhum, por lá ficaram, ainda – talvez à espera que lhes cortassem a luz - os restantes administradores da empresa. Dizem-me que são alguns, entre executivos e não executivos, que por ali se mantêm – passe a piada – em funções. Tanto quanto consigo alcançar, tornaram-se uma espécie de administradores supranumerários. E sobre o assunto, a cidade mantém um silêncio que, para mim, é insuportável.

Fica o alerta: o exercício de qualquer lugar público é provisório, tem subjacente um compromisso ético com os cidadãos e deve cessar quando, por algum motivo, deixa de ser possível honrar esse compromisso. Foi isso que o Professor Álvaro Seco percebeu, de imediato. Sendo lamentável que não tenha sido acompanhado pelos restantes administradores da empresa. Lamentável, mas não supreendente. A incapacidade de assumir responsabilidades próprias a troco de um prato de lentilhas é uma boa caricatura do que, afinal, parece ter condenado o próprio Metro Mondego.