26.4.11

Representar Coimbra

Não sou dos que acreditam em governos de salvação nacional. Essa ideia, nos seus termos redutora, mas apresentada com a simplicidade das coisas geniais, não me desperta o menor entusiasmo.

O humorista Bruno Nogueira dizia há dias, e bem, mais ou menos isto: um governo de salvação nacional seria equivalente a juntar os vírus da papeira e da varicela para, com eles, produzir um antídoto contra todas as doenças infantis. Esta imagem, devo dizer, mesmo que apresentada com a displicência a que só têm direito alguns privilegiados de entre nós, faz muito sentido. Há quem pretenda salvar o país, simplesmente, colocando o PS e o PSD a governar juntos. Eu prefiro que ambos os partidos se entendam quanto a algumas questões essenciais; que desempenhem o seu papel com elevado sentido de interesse nacional; que não se percam em discussões laterais; que não se deixem aprisionar pela mera estratégia político-partidária, sim, mas que governem, qualquer deles, apenas em função dos resultados que conseguirem obter nas próximas eleições. No fundo, a salvação nacional como o simples somatório dos dois maiores partidos políticos, é uma ideia muito equivalente à da suspensão da democracia por seis meses, para resolver os problemas de Portugal. Recordam-se? Eu recordo-me, sei bem o que significa e não gosto sequer de pensar no assunto.

Posto isto, repito que há compromissos necessários entre o PS e o PSD (entre todos os partidos) e, voltando-me para Coimbra, agora que estão fechadas e entregues as respectivas listas de deputados, pretendo reforçar especialmente essa ideia. O meu ponto é este: se não me passaria pela cabeça que os problemas de Coimbra se pudesem resolver com uma coligação PS/PSD na Praça 8 de Maio, já me parece evidente que uma acção concertada entre os deputados eleitos pelo Distrito, em S. Bento, poderá beneficiar – e muito – o seu desenvolvimento e, a caminho disso, a respectiva centralidade na Região Centro.

Observando o actual rol de candidatos por Coimbra, e em todo o espectro partidário, encontramos, apesar de tudo, sinais de novidade, independência, qualificação e respeitabilidade. Creio que essas características – por oposição às pequenas habilidades individuais, prerrogativas históricas e fidelidades partidárias mais usuais – serão já um bom ponto de partida para o entendimento, sereno, entre aqueles que vão ter a responsabilidade de, nos próximos quatro anos, representar Coimbra.

Aguardemos, pois, para perceber se saberão estar à altura de semelhante responsabilidade.

19.4.11

Um desafio aos deputados por Coimbra

Transcrevo, abaixo, moção de que sou primeiro subscritor e que foi unanimemente aprovada na Comissão Política Concelhia do PS Coimbra, realizada em 4 de Abril, último. Tendo já sido endossado por aquele órgão, o texto aguarda, agora, apresentação e votação em sede de Comissão Política Distrital.

A democracia portuguesa atravessa um momento particularmente sensível, desde a sua fundação, em Abril de 1974. Como muitas vezes na história mundial, uma crise económica e financeira de contornos ainda não completamente definidos faz adensar descontentamentos e acende no espírito dos cidadãos um particular sentido crítico quanto ao desempenho dos titulares de cargos políticos e quanto à própria sustentabilidade do regime democrático, enquanto modelo de organização colectiva, apto a servir o interesse geral.

Neste contexto, sendo necessário canalizar esforços para a resolução célere da crise económica e financeira que impende sobre a república portuguesa e que, dia após dia, vem exigindo brutais sacrifícios às famílias, importa reflectir sobre as insuficiências do sistema político em vigor e, particularmente, contribuir, o mais que seja possível, para aprofundar, consolidar e dignificar a representação democrática, verdadeiro mandato de confiança entre eleitos e eleitores.

O Partido Socialista – e o Partido Socialista em Coimbra – têm, aqui, particulares responsabilidades a assumir.

Por estes dias e face aos desafios cívicos que se nos apresentam, quando em cima da mesa se colocam as alternativas possíveis para a representação política do PS e dos cidadãos de Coimbra na Assembleia da República, importa menos discutir nomes, importa menos confrontar personalidades, importa menos disputar protagonismos.

Importa mais, acima de tudo, discutir um verdadeiro Manifesto político, assumir um Compromisso com os cidadãos e configurar um Mandato para os deputados eleitos pelo Círculo de Coimbra – especialmente para os que venham a representar o Concelho de Coimbra - no Parlamento Português, a partir do próximo dia 5 de Junho. Manifesto, Compromisso e Mandato, em moldes que possam ser permanentemente avaliados, é o que se exige àqueles que pretendam ser eleitos em representação do PS e em representação de Coimbra. A Assembleia da República terá, no cenário de dispersão de votos que se prevê resultante das próximas eleições, um papel como nunca decisivo para o futuro de Portugal e o seu desempenho obriga a um acrescido sentido de dever, a um reforçado sentido de responsabilidade.

Nestes termos, a Comissão Política Concelhia de Coimbra do Partido Socialista delibera – e recomenda à Comissão Política Distrital deliberar – que cada um dos candidatos à Assembleia da República a eleger pelo círculo de Coimbra deva assumir os compromissos seguintes:

1.Apresentar previamente às eleições um Manifesto Político que enumere, de modo claro, os principais objectivos do seu mandato e a previsão possível dos respectivos modo e prazo de concretização, no seio da actividade parlamentar;

2.Permanecer no Distrito de Coimbra um dia fixo por mês, em horário e local a definir e divulgar, atempadamente, para atendimento aos cidadãos;

3.Marcar presença, salvo por motivo justificado e escrito, em todas as reuniões da Comissão Política Distrital de Coimbra do Partido Socialista, em condições de poder reportar a actividade desenvolvida e receber recomendações políticas daquele órgão;

4.Participar, trimestralmente, em Plenários de Militantes abertos aos Cidadãos, organizados pelos órgãos próprios, Concelhios e Distritais, do PS Coimbra;

5.Elaborar, no final de cada ano e no final do Mandato, um Relatório da respectiva Actividade Parlamentar, em modelo uniforme a definir pela Federação, que possa ser divulgado e avaliado pelos militantes do Partido e pelos Cidadãos em geral.

13.4.11

Estudantes, hospitais e prisões


Sento-me num táxi, a caminho da velha estação de Coimbra B. É fortuita a minha passagem por Coimbra, no fim-de-semana em que os socialistas se juntaram em Matosinhos, ensaiando uma espécie de estágio antes do grande jogo de 5 de Junho ou, quem sabe, de um novo congresso, lá mais para diante. Talvez por isso, na curta viagem que separa a Praça Fausto Correia da Estação Velha, tenha buscado um pouco da minha cidade, nas palavras do homem que – admitamos que sim – me colocaria de novo nos carris, a caminho de Lisboa.

“Está fraco isto”, diz-me ele. Para logo acrescentar “Os táxis estão todos na estação, à espera, mas isto hoje está fraco senhor Não sei se os estudantes já estarão todos de férias…”. Procuro aprofundar o tema mas, sem esforço, logo ouço o que, na verdade, já esperava ouvir: “Nesta terra, se não forem os estudantes, os hospitais e as prisões, não há trabalho para ninguém!”

Desconte-se, talvez, um certo excesso de simplicidade e aqui se encontrará, se não um retrato fiel, ao menos um esquisso de Coimbra, aos olhos de alguém cuja profissão é, tradicionalmente, um promontório sobre a vida em comunidade.

Sendo Domingo, vem-me à memória uma notícia de sexta-feira que, como é usual, se perderá na espuma dos dias, suavizada por comentários políticos eivados de boas intenções e molduras jornalísticas de uma sempre comovente compaixão. Coimbra passou de 10 para 9 o número de deputados a eleger nas eleições legislativas, sendo que essa circunstância varia em função do respectivo número de eleitores.

É certo que Coimbra até ganhou, desde 2009, 2239 eleitores e, aliás, isso mesmo se dirá exaustivamente, procurando dar aparência animadora a uma notícia verdadeiramente infeliz. Eu acrescento que Faro, no mesmo período, ganhou 10.000 eleitores e Lisboa uns clarividentes 26.579.

Ora, para os que se resignam – sempre se resignaram – com uma cidade de estudantes, hospitais e prisões, a receita para o crescimento será simples: abrir meia dúzia de novos cursos, atrair mais doentes, receber de braços abertos, em pleno coração da cidade, todos os reclusos que o país nos remeta para engavetar, pois então. Para os outros – entre os quais me incluo – faltará bastante mais do que isso.

Chegados ao destino, o bom do taxista ainda me oferece o número de telemóvel, “para o caso de precisar de mais algum serviço.” Agradeço-lhe, adianto que paro pouco por aqui e saio. Quase de costas voltadas, desejo-lhe felicidades e fecho a porta, com aparente convicção. Como se este não fosse, afinal de contas, o meu lugar.

5.4.11

Sei lá


À beira de eleições, a história repete-se. Mesmo hoje, quando se discute a salvação do país, num quadro trágico com muito de efabulação à mistura, animam-se as hostes partidárias, sobretudo, para salvar a pele. O país político está cheio de gente sem profissão, que fez da actividade política um modo de vida e que, literalmente, dela depende para sobreviver.

Essa dependência assinala-se a vários níveis. A absoluta dependência financeira de alguns titulares de cargos políticos que, dificilmente, encontrarão alternativa comparável no mercado de trabalho, é um exemplo comum. Mas, quanto a mim, não esgota o cenário e chega mesmo a ser injusto. Com efeito, acredito que a maior parte dos actuais titulares de cargos políticos se safaria razoavelmente “cá fora”. Não deixa de ser redutora e até mesquinha a ideia de que a maior parte deles, se não fizesse política, cairia em absoluta penúria. Será assim, infelizmente, em alguns casos. Noutros, nem por isso.

Noutros casos, observam-se, essencialmente, duas situações. Por um lado, o medo, ainda que infundado, do que os possa esperar na “vida real”. Por outro, um completo viciamento na política, seja por mera vaidade, seja por absoluta sede de poder. Em qualquer destes casos, a meu ver não menos graves que o primeiro (pelo contrário até), o problema é, no fim de contas, o mesmo: o exercício de cargos políticos perde o sentido quando deixa de ser visto como uma missão, com objectivos devidamente fixados, de duração limitada e sempre sujeita à avaliação de terceiros.

À beira de eleições, também Coimbra encontrará entre os seus políticos a marca das angústias que acabo de descrever. E, em especial, no quadro parlamentar, creio que temos um pouco de tudo. Os que cairiam em desgraça, os que não teriam razões para se preocupar, os que são apenas vaidosos, os que têm sede de poder. E sim, já me esquecia, também temos os mesmo bons, que ali andam a prestar um serviço ao Pais.

Em tempo de fazer novas escolhas (talvez menos novas que o desejável, digo eu) que bom seria que os nossos candidatos a deputados se apresentassem com um programa concreto, que definissem as suas prioridades para o mandato, que se obrigassem a receber os cidadãos (ao menos uma vez por semana) para verdadeiro trabalho político e, no fim, estivessem obrigados a apresentar um relatório de actividades, para sabermos, timtim, por timtim, o que andaram a fazer.

Tudo seria mais claro para todos e, em tempo de eleições, poupavam-se muitas angústias. Coisas de que me lembro, mas sei lá eu o que digo.