A comunicação política,
maxime a opinião publicada por políticos nos jornais, padece de um mal terrível. Como se instituiu a ideia de que o povo é ignorante, muitos políticos optam por escrever num registo demasiado primário, que acaba por ser o mínimo denominador comum entre o “pouco” que o povo sabe e o “muito” que as “elites” sabem. Como ambas as presunções são exageradas, resultam prosas eivadas de
soundbytes, sem fundamentação, que tanto podem ser escritas pelos próprios como por qualquer colaborador mais diligente.
Escrevo encorajado pela profusão deste “género literário” na política coimbrã e, mais egoisticamente, porque, de quando em vez, sou acusado de me perder com “lirismos”, em vez de ser mais “claro e objectivo”.
Na política portuguesa, a “clareza” e a “objectividade” estão no patamar mais alto da consideração pública - são verdadeiras “regras de ouro” - e tomaram o lugar das análises rigorosas, de alguma profundidade e, até, da liberdade de opinião. Quem queira fazer política, deve ser “claro” e “objectivo”, para que todos “entendam”. Mesmo que para isso tenha que abdicar das opiniões não abençoadas pela maioria ou reproduzir disparates, firme e repetidamente. Que me perdoem, mas não estou para isso. Até porque essa missão está abundantemente distribuída, por outros que a carregam com maior entusiasmo.
Outra das “regras de ouro” para os políticos que escrevem nos jornais, e uma regra que, em Coimbra, atinge proporções patológicas, é transformarem os seus espaços de opinião em manifestos eleitorais. O que, notoriamente, confunde planos de intervenção, redundando em maus artigos de opinião e em programas eleitorais fora de tempo.
Por mim e no que respeita a Coimbra, tenho tentado escrever o que os outros não escrevem, criticar o que os outros não criticam, defender o que os outros não defendem, tanto no que respeita aos meus “adversários” políticos, como no que respeita ao partido a que pertenço. Adoptando um estilo, assumidamente, heterodoxo. E sujeitando-me, também por isso, a uma relativa indiferença da cidade. Mas creio que, assim, preencho melhor este “Passeio Público” e sirvo melhor a política, que não é um passeio, é uma corrida de fundo.
Recordo apenas que a política coimbrã, como a política de um modo geral, tem tido ao leme protagonistas militantemente “claros e objectivos”, com propostas “concretas”, prontos a resolver, de uma penada, os problemas todos do mundo. Sendo o resultado a que chegámos aquele que todos, decerto, também “entendem”.