"Será a vida uma fórmula circular?"
Acaba assim o tão anunciado "Second Life", em cuja ante-estreia tive a oportunidade de estar graças a um convite "just in time" da minha querida maninha.
Não sendo comentário de especial rasgo, posso dizer que, à parte os preconceitos usuais relativamente ao "cinema português", gostei.
Perdemos demasiado tempo a pensar no que faríamos com o que "não temos" e esquecemo-nos de dar o melhor de nós ao que "nos pertence". Mas afinal, o que é que temos e não temos? E o que é que nos pertence, na verdade?
Em todo o caso, sempre a contemplar as "grandes" pedras e sempre a tropeçar nas "pequenas"...
Noutro contexto, e quanto às "circularidades", aproveito para repescar um texto escrito há cerca de um ano, sobre as famigeradas taxas de utilização do queimódromo.
Vejamos se ficam os dedos
Consta que a Queima das Fitas passará a pagar pelo “Queimódromo”. Não se sabe quanto e, digamos, nem se sabe ao certo se tal irá acontecer. Mas, para todos os efeitos, a ideia está na rua e quem se lhe quiser opor que o faça depressa. Como pressinto estarmos perante uma espécie de “atira a ver se cola”, talvez o melhor seja garantir, mesmo, que a ideia não cola e, principalmente, que não “descola”.
O comum dos cidadãos julgaria que, estando em causa a cobrança de uma taxa de utilização de um espaço municipal, a Câmara se preparava para arrecadar uns trocos com a iniciativa e aliviar os cofres para “festas futuras”. Mas justamente esclarecidos, percebemos que a responsável por tão ditosa proposta é, afinal e “apenas”, uma empresa municipal que, claro está, “define os seus critérios e negoceia com quem quer negociar”. Num quadro de esotérica autonomia a que a Câmara, obvia e democraticamente, não poderá obstar. E que, de resto, o presidente da Câmara sublinha afirmando que “não tem que ser favorável” à decisão.
Assim sendo, ficamos “apenas” sem saber se, não tendo que ser favorável, terá que ser desfavorável. Ou se, não estando obrigado a ser favorável tem, ao menos, essa possibilidade. Ou, ainda, se podendo sê-lo, também poderá não sê-lo e acabar depressa com as nossas angústias. Confusos? Suponho ser isto o que se chama “a dialéctica parlamentar”.
Mas pondo de lado as vertentes dúvidas de paternidade e passando ao que nos interessa, parece-me óbvio que o simples facto de se considerar semelhante hipótese nos remete para uma cidade vácua, fragmentada e sem o menor sentimento de si.
Com efeito, se todas as cidades exemplares parecem apostar na identidade e na diferença, Coimbra prefere ater-se a uma irrelevância de alguidar o que, entenda-se, é a forma mais branda de qualificar o sentido estratégico de uma tal intenção.
Mas o pior é que, no meio de tamanha desorientação, tudo indica que ainda se não percebeu um facto simples: submeter a Queima das Fitas a uma espécie de saque administrativo equivale, no contexto da biografia coimbrã, a meter no prego as jóias da família. Um último, irreflectido e desesperado reduto. Chegados a este ponto e como a história sempre insiste em repetir-se, tudo o que resta é um final triste e anunciado. Vão-se os anéis. Vejamos, porém, se ficam os dedos.
Publicado no JN, a 21/02/2008