O eng. Sócrates ganhou folgadamente as eleições legislativas. Em primeiro lugar porque liderou durante quatro anos um bom Governo; em segundo lugar porque, a dada altura na campanha, já ninguém acreditava que a dra. Ferreira Leite pudesse liderar o que quer que fosse. A candidata do PSD, achando que o secretário-geral do PS era um vendedor de sonhos, reagiu prometendo aos portugueses um pesadelo. Se para Sócrates a crise era um obstáculo a ultrapassar rapidamente, para a dra. Ferreira Leite ela era uma justa punição pela estultícia dos portugueses, algo em que deveríamos empreender, penitentes, por muitos e bons anos. A julgar pelos resultados, ficámos a saber que um calvário não é lá grande promessa eleitoral.
Mas se a dra. Ferreira Leite se desiludiu com os resultados, já o dr. Carlos Encarnação há-de andar muito satisfeito. É que uma imaginária derrota do PS nas legislativas seria, para o recandidato do PSD à câmara municipal de Coimbra, uma verdadeira dor de cabeça. Se o PS tivesse perdido as eleições, o dr. Encarnação ainda teria a maçada de deitar a mão a uma lapiseira e a uma folha de papel pardo para explicar aos conimbricenses o que pretende fazer pela cidade. Assim, basta-lhe um maço de lenços de papel para carpir os supostos desamores do Governo e continuar a sua cruzada pela essência romântica da Lusa-Atenas. Está visto que o candidato Encarnação planeia mais 15 dias de paso doble e tango argentino. Mas cabe a alguns de nós garantir que não o fará com uma rosa entre os dentes.
Entre dentes, sempre direi, já agora, que o Partido Socialista deve reflectir longamente sobre os dois deputados que perdeu, no Distrito de Coimbra. Ou nos dez mil votos que perdeu no Concelho de Coimbra, desde as legislativas de 2005. Mas essas são contas de um outro rosário, que há-se ser desfiado, serena e educadamente, como é costume fazerem os socialistas de Coimbra. E a verdade é que nas autárquicas de Coimbra – como aconteceu nas legislativas, aliás – o PS tem um excelente cabeça de lista. Sendo até maiores do que poderíamos imaginar as semelhanças entre os confrontos Sócrates-Ferreira Leite e Álvaro Maia Seco-Carlos Encarnação.
Como Sócrates, Álvaro Maia Seco representa o sonho de uma cidade nova, capaz de se reinventar e de conquistar uma liderança natural, fundada na competência, na ambição e no trabalho. Já Carlos Encarnação evoca uma Coimbra atrasada e paroquial, a Coimbra do preconceito, altiva, fechada e sombria. Afinal, uma cidade calvário que não creio, todavia, seja a Coimbra de verdade.
No meio do ruído das coisas.
Há um ano