André Freire e José Manuel Leite Viegas, do ISCTE, promoveram, segundo li, o estudo “mais exaustivo que compara as opiniões e percepções entre eleitores e eleitos jamais feito em Portugal”. Mas as suas conclusões, diga-se, estão inscritas na consciência do regime, muito antes de serem estampadas pelos investigadores de Lisboa. A confiança dos portugueses na democracia bateu fundo, é o que se conclui. Chegou mesmo ao nível mais baixo desde 1985.
Os eleitores sentem-se mal representados, não confiam nos políticos e não confiam, sobretudo, nos partidos. Sentem-se enganados, mas sentem-se, sobretudo, cansados. A renda da casa, as contas da água e da luz, a escola dos miúdos, eis o que os ocupa. Ocupa-os mais do que a “salvação do regime”, coisa em que não acreditam e que, verdadeiramente, já nem esperam. E como se ocupam disto tudo, ficam sem tempo para se pre-ocupar. Talvez o país político ainda não tenha percebido que está a falar sozinho. Perceberá, talvez, quando ficar sozinho: é cada vez maior o número de portugueses que sai do país para procurar emprego.
Em Coimbra, a agonia da Ceres e da Poceram, como o fecho da Real Cerâmica, parecem, de facto, não apoquentar ninguém. Os jovens que todos os anos abandonam a cidade, à procura de emprego – muitos para Cantanhede, Aveiro ou Viseu – não recebem do município mais do que a proverbial nostalgia coimbrã. A carestia da habitação e a degradação da baixa, para além de animarem umas palestras inconsequentes, não merecem a apresentação ou execução de uma única medida concreta. O facto de a cidade estar a ser espoliada dos seus serviços públicos, com fundamentos que suscitam as maiores reservas, abre caminho à manipulação do PSD, ao mesmo tempo que suscita reacções tímidas, na oposição. Não é difícil imaginar que o tal estudo do ISCTE, feito em Coimbra, não lograria resultados diferentes.
Mas talvez uma parte da solução resida, exactamente, na capacidade de melhorar o sistema à escala local. A maior proximidade entre eleitos e eleitores, a melhor percepção de eficácia das medidas tomadas, a participação dos cidadãos nos processos de decisão, tudo concorre para que ao nível municipal seja, talvez, mais fácil, melhorar o sistema. Assim os políticos saibam ser responsáveis, coerentes e credíveis.
Ao PS, no Concelho de Coimbra, caberá escolher entre ser parte activa numa verdadeira mudança ou ser cúmplice de uma mudança na continuidade. Ser cúmplice daquilo a que alguns chamarão uma “mudança responsável”. Há quem diga que, às vezes, é preciso mudar qualquer coisa, para que tudo fique na mesma. Eu não quero uma mudança assim. Muito menos uma mudança assim-assim.
No meio do ruído das coisas.
Há um ano