Dois selos e um carimbo, é o nome do último álbum dos Deolinda. Mas também podia ser o título do último livro do dr. Carlos Encarnação. Os muitos fãs da banda portuguesa talvez não se revejam no peculiar paso doble do presidente da Câmara de Coimbra e é natural que estranhem, por isso, esta minha comparação. Mas a esses falta-lhes conhecer, porventura, o que levou os Deolinda a baptizar, naqueles termos, o seu segundo – e último, para já – trabalho de temas originais. Esclarece a vocalista, Ana Bacalhau, que pretendem selar, com todas as formalidades, a sua identidade artística. Ora, aqui já se antevêem, com maior nitidez, os termos da comparação.
Com efeito, no caso do edil de Coimbra, não se tratará de uma afirmação artística já que, arte por arte, devo reconhecer que a sua é sobejamente conhecida e reclama, a todo o tempo, ser coroada com um prémio carreira. Mas a verdade é que “A justiça transparente” – nome aliás de particular inspiração – casa lindamente com a intenção de “Dois selos e um carimbo”. Usando de todas as formalidades – chamando mesmo a Coimbra o notário do regime, leia-se, o professor Marcelo – o dr. Encarnação ditou ante a cidade aquela que é, afinal, a derradeira palavra sobre si próprio: uma compilação de decisões judiciais, todas a contento da Câmara Municipal de Coimbra. Ocorre-me dizer que, nestes tempos de incerteza, poucas coisas serão tão tranquilizadoras e dignas de crédito como uma sentença de um juiz, homologada por um político e registada por um comentador televisivo. Pode, pois, descansar em paz, o bom povo coimbrão.
Mas colocando os elogios de parte – às vezes excedo-me nestes mimos – o que eu quero mesmo é desmentir, com quantas forças trago no corpo, o boato vil que, ainda o livro não estava nas bancas, já pululava nos jornais, nos blogues e nas conversas de corredor. A insinuação malévola de que o dr. Encarnação seria capaz de trair a confiança dos seus munícipes e dar às de Vila Diogo, antes mesmo de acabar o mandato. Mais, que isso faria tudo parte de um plano, combinado antes das eleições, no interior do PSD (imagine-se!), para passar o testemunho e ir gozar a reforma descansadinho. Não há direito. Só quem não leu as suas declarações, na própria apresentação do livro, seria capaz de reproduzir semelhante baboseira. Ele não aceita, e muito bem, que ponham em causa a sua honorabilidade. E eu, para dizer a verdade, acho de muito mau gosto que o façam deste modo infame.