10.1.11

Administradores supranumerários


Não é possível dizer que o Metro Mondego acabou. Nem é possível dizer, já agora, que tenha descarrilado. Isto porque o Metro Mondego nunca existiu e, em bom rigor, nunca chegou a sentir o cheiro dos carris. Não existiu, pelo menos para a maior parte de nós.

É óbvio que, ao longo de quase vinte anos, o Metro Mondego existiu. Mas só para alguns. Existiu para quem vendeu ou arrendou a sua (dizem-me) faustosa sede, numa zona nobre da cidade de Coimbra; existiu para os seus administradores – talvez para cima de uma dúzia, se somados todos os mandatos; existiu para quem fez os estudos e ali deu consultas de toda a sorte. Dizem-me que em certos países do chamado terceiro mundo, há empresas com três administradores e dois funcionários. Não estou certo de que a Metro Mondego se possa rir muito, numa eventual comparação. Mas fico-me por aqui. Isto é o que toda a gente sabe. E a Metro Mondego nem sequer é caso único.

O que algumas pessoas talvez não saibam é que, embora o presidente da Metro Mondego tenha tido a dignidade de se demitir quando percebeu que o projecto não ia a lado nenhum, por lá ficaram, ainda – talvez à espera que lhes cortassem a luz - os restantes administradores da empresa. Dizem-me que são alguns, entre executivos e não executivos, que por ali se mantêm – passe a piada – em funções. Tanto quanto consigo alcançar, tornaram-se uma espécie de administradores supranumerários. E sobre o assunto, a cidade mantém um silêncio que, para mim, é insuportável.

Fica o alerta: o exercício de qualquer lugar público é provisório, tem subjacente um compromisso ético com os cidadãos e deve cessar quando, por algum motivo, deixa de ser possível honrar esse compromisso. Foi isso que o Professor Álvaro Seco percebeu, de imediato. Sendo lamentável que não tenha sido acompanhado pelos restantes administradores da empresa. Lamentável, mas não supreendente. A incapacidade de assumir responsabilidades próprias a troco de um prato de lentilhas é uma boa caricatura do que, afinal, parece ter condenado o próprio Metro Mondego.