João Gabriel Silva é o novo Reitor da Universidade de Coimbra e a sua eleição – arrisco dizer – ocorre ao arrepio de muitas expectativas geradas na Universidade e na cidade, ao longo dos últimos anos.
Com efeito, a eleição foi disputada com a professora da Faculdade de Letras, Cristina Robalo Cordeiro, desde sempre integrada em lugares cimeiros da equipa do reitor cessante, Fernando Seabra Santos. E para os que – mesmo distraidamente, como eu – observaram o desenrolar do processo, não é novidade dizer que a eleição daquela que seria a primeira mulher reitora da Universidade de Coimbra era dada como certa, prometida, quase escrita nas estrelas, desde há muito. Não aconteceu.
Poderá dizer-se que o novo método de eleição dos Reitores, de acordo com o actual Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, desequilibrou, num dado momento, as variáveis em presença. Mas isso, sobretudo para quem não conhece o tema de um modo rigoroso, como é o meu caso, será sempre do domínio da especulação. A mim, confesso, não me interessa especialmente seguir esse caminho. É outra a minha motivação.
Gosto, simplesmente gosto, quando em democracia as coisas não acontecem conforme foram escritas nas estrelas. E isso, neste particular, devo assegurar que não tem qualquer relação com a opinião que deixo ou deixo de ter acerca dos candidatos, vencedor e vencido, em presença.
O que me agrada é a renovada sensação de que, quando menos se espera, a política – e a reitoria é política! – vem devolvida ao arbítrio dos que votam, não podendo programar-se, com grande antecedência, pelos outros, pelos que são votados.
Este é o tipo de circunstância que remete para dois tipos de reflexão. Por um lado, a de que em democracia, como na vida, ninguém está gloriosamente talhado para o sucesso, ao mesmo tempo que ninguém deve considerar-se fatalmente condenado ao fracasso. Por outro, a ideia de que não é em nome próprio, mas em nome de quem no-lo confia, que o poder deve ser exercido.
Com a devida vénia – e sobretudo nos tempos que correm – saiba o novo reitor manter isto presente e estará já a prestar um grande serviço. À Universidade, à Academia, a Coimbra e ao País.