23.8.10

A questão Central



A ideia de instalar uma central fotovoltaica na Alta Coimbrã, capaz de suportar os custos de iluminação pública naquela zona da cidade, merece aplausos, à partida. Embora pelo caminho se confrontem interesses vários, entre a preservação do património e a sustentabilidade energética, não se sabendo, ao certo, em que ficaremos, à chegada.

É assim com todos os projectos que ousam afastar-se dos cânones habituais e afectar, claro, a ordem estabelecida. O que não tem mal nenhum, diga-se desde já. A inovação é natural, como natural é a ponderação dos seus riscos, ainda que pelo simples temor da mudança. Sendo por isso mesmo que projectos como o da central fotovoltaica na Alta Coimbrã se hão-de sujeitar, quer ao escrutínio político, quer à validação técnica, nos domínios ambiental, patrimonial ou outros necessários para que a novidade não seja um apaixonado passo em frente…para o abismo. E é aqui, normalmente, que as coisas descambam.

No caso concreto, a saga começou pelo parecer desfavorável do IGESPAR, fundado no receio de que a colocação de painés no muro de suporte da Rua da Alegria tenha um impacto visual negativo, no casco histórico da cidade. E continua, ao que vejo, com uma arrebatada tomada de posição da Quercus, que afiança ser o risco de afectação da zona historica “residual”, ficando a central “encoberta visualmente pelos edifícios da contígua Avenida Emídio Navarro”.

Ora, a este propósito, gosto de me colocar ao lado dos que acreditam, apenas, num de dois caminhos distintos: ou bem que se confia na legislação e no desempenho das instituições que cuidam da sua aplicação; ou bem que, pelo contrário, se procura a sua substituição, no quadro do que a democracia permite. Tudo o mais, e sobretudo uma certa tendência para opinar sobre o rosário alheio, confesso que me tira do sério.

Neste caso, interessa-me saber o que pensa a Quercus, no domínio ambiental e interessa-me saber o que pensa o IGESPAR, nos domínios patrimonial e arquitectónico. O que um e o outro pensam sobre o métier do vizinho, não me interessa rigorosamente nada. Aliás, o país em geral estaria melhor se cada um de nós fizesse mais aquilo que lhe compete. Coimbra, em particular, teria muito a ganhar se olhasse mais para (por) si própria e menos, muito menos, para os vizinhos do lado.