No princípio, o ventre materno. O que, de facto, importa abunda nesse regaço original: alimento e aconchego, não necessariamente por esta ordem, garantem uma existência que se basta a si própria, uma harmonia quase perfeita. Logo depois, os primeiros passos, os primeiros brinquedos. Antes mesmo de nos darmos conta, estamos com um micro machine nas unhas ou com uma casa de bonecas, para brincar – e disputar – com os primeiros amigos.
Lembro-me que, aos cinco anos, me entretinha a “construir” cabanas, entre os pés da cama e uma cómoda que lhes ficava em frente. Um telhado de lã, creio que um cobertor amarelo com um índio desenhado, assegurava o par de metros quadrados que era o meu castelo no mundo. Uma fortaleza que somava ao alimento e aconchego primeiros, a companhia amontoada, mas feliz, de alguns amigos.
Duram pouco esses tempos. Cumpre-se o liceu, entra-se na faculdade e suspira-se por um quarto à séria, com um sofá e uma televisão, num apartamento com serventia de cozinha. Não é possível ser-se mais feliz. Lá longe – de preferência muito longe – o ventre materno manifesta-se por depósitos bancários, sacos de roupa lavada e tupperwares de carne assada. Acha-se que é possível – e desejável – viver assim, para o resto da vida. Mas não é.
Depressa começam a tratar-nos por “você”, metem-nos um cartão de crédito no bolso, desconfiam se usamos a camisa por fora das calças (o que só volta a consentir-se depois dos quarenta e cinco) e perguntam-nos se já casámos ou se temos filhos. Começamos a pensar que somos ridículos e que não vale a pena resistir: chegou a hora de vivermos a sério. E de nos levarmos a sério.
Rapidamente damos por nós num grande condomínio, a tratar por tu madeiras como o jatobá, a cerejeira e o pinho nórdico. Antes de piscarmos os olhos estamos ao volante de um gigantesco monovolume e a sair do supermercado carregadinhos de fraldas. Um dia, encontramos os nossos filhos debaixo de um cobertor aos pés da cama e percebemos duas coisas: que são felizes e que não têm salvação possível.
É por isso que aconselho todos a experimentar o Treehouse Hotel que, no próximo dia 10, abre ao público no Jardim Botânico, em Coimbra. É uma pequena casa na árvore, engendrada por uma equipa multidisciplinar de arquitectos, biólogos, paisagístas, entre outros, que pode ser reservada como um quarto de hotel. E para quem, às vezes, ainda gostaria de se enrolar num cobertor amarelo, aos pés da cama, com um prato de bolachas e dois amigos, parece ser um sucedâneo socialmente tolerado. Já para não mencionar que algumas das madeiras que tratamos por tu ganham, no Jardim Botânico, uma perspectiva inteiramente nova.
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