13.4.11

Estudantes, hospitais e prisões


Sento-me num táxi, a caminho da velha estação de Coimbra B. É fortuita a minha passagem por Coimbra, no fim-de-semana em que os socialistas se juntaram em Matosinhos, ensaiando uma espécie de estágio antes do grande jogo de 5 de Junho ou, quem sabe, de um novo congresso, lá mais para diante. Talvez por isso, na curta viagem que separa a Praça Fausto Correia da Estação Velha, tenha buscado um pouco da minha cidade, nas palavras do homem que – admitamos que sim – me colocaria de novo nos carris, a caminho de Lisboa.

“Está fraco isto”, diz-me ele. Para logo acrescentar “Os táxis estão todos na estação, à espera, mas isto hoje está fraco senhor Não sei se os estudantes já estarão todos de férias…”. Procuro aprofundar o tema mas, sem esforço, logo ouço o que, na verdade, já esperava ouvir: “Nesta terra, se não forem os estudantes, os hospitais e as prisões, não há trabalho para ninguém!”

Desconte-se, talvez, um certo excesso de simplicidade e aqui se encontrará, se não um retrato fiel, ao menos um esquisso de Coimbra, aos olhos de alguém cuja profissão é, tradicionalmente, um promontório sobre a vida em comunidade.

Sendo Domingo, vem-me à memória uma notícia de sexta-feira que, como é usual, se perderá na espuma dos dias, suavizada por comentários políticos eivados de boas intenções e molduras jornalísticas de uma sempre comovente compaixão. Coimbra passou de 10 para 9 o número de deputados a eleger nas eleições legislativas, sendo que essa circunstância varia em função do respectivo número de eleitores.

É certo que Coimbra até ganhou, desde 2009, 2239 eleitores e, aliás, isso mesmo se dirá exaustivamente, procurando dar aparência animadora a uma notícia verdadeiramente infeliz. Eu acrescento que Faro, no mesmo período, ganhou 10.000 eleitores e Lisboa uns clarividentes 26.579.

Ora, para os que se resignam – sempre se resignaram – com uma cidade de estudantes, hospitais e prisões, a receita para o crescimento será simples: abrir meia dúzia de novos cursos, atrair mais doentes, receber de braços abertos, em pleno coração da cidade, todos os reclusos que o país nos remeta para engavetar, pois então. Para os outros – entre os quais me incluo – faltará bastante mais do que isso.

Chegados ao destino, o bom do taxista ainda me oferece o número de telemóvel, “para o caso de precisar de mais algum serviço.” Agradeço-lhe, adianto que paro pouco por aqui e saio. Quase de costas voltadas, desejo-lhe felicidades e fecho a porta, com aparente convicção. Como se este não fosse, afinal de contas, o meu lugar.