À beira de eleições, a história repete-se. Mesmo hoje, quando se discute a salvação do país, num quadro trágico com muito de efabulação à mistura, animam-se as hostes partidárias, sobretudo, para salvar a pele. O país político está cheio de gente sem profissão, que fez da actividade política um modo de vida e que, literalmente, dela depende para sobreviver.
Essa dependência assinala-se a vários níveis. A absoluta dependência financeira de alguns titulares de cargos políticos que, dificilmente, encontrarão alternativa comparável no mercado de trabalho, é um exemplo comum. Mas, quanto a mim, não esgota o cenário e chega mesmo a ser injusto. Com efeito, acredito que a maior parte dos actuais titulares de cargos políticos se safaria razoavelmente “cá fora”. Não deixa de ser redutora e até mesquinha a ideia de que a maior parte deles, se não fizesse política, cairia em absoluta penúria. Será assim, infelizmente, em alguns casos. Noutros, nem por isso.
Noutros casos, observam-se, essencialmente, duas situações. Por um lado, o medo, ainda que infundado, do que os possa esperar na “vida real”. Por outro, um completo viciamento na política, seja por mera vaidade, seja por absoluta sede de poder. Em qualquer destes casos, a meu ver não menos graves que o primeiro (pelo contrário até), o problema é, no fim de contas, o mesmo: o exercício de cargos políticos perde o sentido quando deixa de ser visto como uma missão, com objectivos devidamente fixados, de duração limitada e sempre sujeita à avaliação de terceiros.
À beira de eleições, também Coimbra encontrará entre os seus políticos a marca das angústias que acabo de descrever. E, em especial, no quadro parlamentar, creio que temos um pouco de tudo. Os que cairiam em desgraça, os que não teriam razões para se preocupar, os que são apenas vaidosos, os que têm sede de poder. E sim, já me esquecia, também temos os mesmo bons, que ali andam a prestar um serviço ao Pais.
Em tempo de fazer novas escolhas (talvez menos novas que o desejável, digo eu) que bom seria que os nossos candidatos a deputados se apresentassem com um programa concreto, que definissem as suas prioridades para o mandato, que se obrigassem a receber os cidadãos (ao menos uma vez por semana) para verdadeiro trabalho político e, no fim, estivessem obrigados a apresentar um relatório de actividades, para sabermos, timtim, por timtim, o que andaram a fazer.
Tudo seria mais claro para todos e, em tempo de eleições, poupavam-se muitas angústias. Coisas de que me lembro, mas sei lá eu o que digo.