Paulo Mota Pinto salvou a visita de Ferreira Leite a Coimbra. Sem ele, a passagem da candidata “da verdade” pelo centro de Portugal teria sido uma desgraça. Mas com um empurrãozinho do novo professor do PSD, a visita a Coimbra acabou por ser, mais impressivamente, desgraçada.
O PSD teima, de facto, em ser um partido de professores – Cavaco, Marcelo, Borges, Rangel, Mota Pinto, para enumerar apenas alguns - e é notável como, de tempos a tempos, nos recorda por que devota razão continua a sê-lo. É que, realmente, aos professores do PSD parece estar reservado dizer asneiras com um ar reverencial e palpitar, mesmo assim, no coração do povo. Mas estas reminiscências do Portugal pobrezinho e humilde, suspenso pela verdade unívoca do “senhor professor”, dizem muito sobre a cultura política do PSD de Ferreira Leite.
A verdade da dra. Ferreira Leite – que é a verdade toda do mundo – caber-lhe-ia folgadamente nos bolsos. Mas como os tailleurs não têm bolsos, sempre vai contando com a algibeira do professor Mota Pinto, que ainda por lá guarda um cantinho, entre os seus já habituais“trunfos de campanha” e, diz ele, as chaves do automóvel.
Em Coimbra, por exemplo, o professor Mota Pinto levou a mão ao bolso e brindou-nos com uma mão cheia de verdade. Despiu a pele de magistrado, travestiu-se de advogado oficioso e defendeu que o juiz Rui Teixeira é “Muito Bom”. Antecipando pois o que, fosse o PSD Governo, passaria a ser o modelo de “avaliação dos juízes”: num Governo de Ferreira Leite, os juízes seriam, obviamente, avaliados por si. O que não teria mal nenhum porque o seriam sempre de acordo com a verdade que carrega, por empréstimo, na algibeira do professor Mota Pinto. E se contássemos com a externalidade positiva de podermos extinguir o Conselho Superior de Magistratura rapidamente, então essa medida, do lado da poupança, seria de um alcance democrático inexpugnável.
A sério, a sério, apetece-me dizer o seguinte: sendo estas as lições do professor Paulo Mota Pinto, da próxima vez que levar a mão ao bolso, que as deixe por lá e pegue ao invés nas lendárias chaves do carro. É que, com franqueza, Coimbra já tem professores que chegue. E em matéria de democracia, para minha surpresa confesso, ainda estamos uns furos acima.
No meio do ruído das coisas.
Há um ano