Estou maravilhado. O dr. Carlos Encarnação, candidato com amor à câmara de Coimbra, apresentou um plano estratégico às almas da cidade. Almas santas que, certamente, estão tão maravilhadas como eu.
Eu, que sou um rapaz respeitador e justo, já esperava que o documento fosse um exercício económico – filosófico até – de enorme fôlego. Mas nem a mim, que sou um crente, passaria pela cabeça que o dito Plano (com maiúscula) pudesse ir tão longe. Abençoadas cabeças, abençoado presidente e abençoado orçamento municipal, abençoados todos por proporcionarem à cidade conclusões tão estimulantes e inovadoras: Coimbra há-de ser um “cluster” da saúde, que será um “projecto estruturante”; e há-de ser, imagine-se (como é que se foram lembrar disto!), um “pólo de excelência da ciência, educação e investigação”.
De hoje em diante, podemos passar a dormir descansados. E recolhidos nos braços de Morfeu, podemos agora abandonar sonhos antigos, antiquados talvez, como os de haver emprego em Coimbra, gente na Baixa e ambição na Câmara Municipal. Podemos, finalmente, virar a página porque, apresentado o Plano, dedicaremos as noites a sonhar com coisas mais “estruturantes” e podemos até, nos momentos de angústia, contar “clusters” para adormecer. O que é mais saudável (note-se a subliminar alusão à saúde) do que matar os nervos a comer aqueles cereais com um esquilo na caixa, que também se chamam “clusters”, mas que o orçamento municipal não patrocina.
E podemos dormir descansados, também, porque não temos um presidente de Câmara precipitado. O que, certamente, lhe vem do tempo em que convivia com o professor Cavaco Silva. Este, nunca se engana e raramente tem dúvidas. Aquele, o dr. Encarnação, espera o tempo que for preciso para não se enganar e dissipar as dúvidas. Oito anos, bem contadinhos, foi quanto demorou a apresentar o tonitruante plano estratégico. Mas ao menos apresentou uma coisa como deve ser. E a partir de agora vai ser sempre a subir, como naquela música antiga da Manuela Moura Guedes, que ainda se há-de exilar na Argélia, em nome do jornalismo livre e independente.
Para que não me acusem de andar sempre a gozar com isto, aqui vai uma declaração séria, daquelas que encaixam na ortodoxia dominante: este plano, sendo estratégico, não é bem um plano. É antes um pano. Escuro. Onde não cairá a nódoa, porque já é uma nódoa.