22.6.10

A Alta em alta


Coimbra tem discutido, com recorrência, o seu Centro Histórico. Na origem, uma genuína preocupação com a salubridade das casas, com a sobrevivência do comércio, com a conservação de edifícios e monumentos, com a afeição histórico-cultural da cidade, talvez. Mas também, admita-se, uma certa agenda política, quando não político-partidária, que se alimenta de um tema clássico, para progredir, pé ante pé, no seu caminho. Nem sempre na posse dos dados todos do problema; nem sempre conhecedora, sequer, dos seus elementos essenciais; por vezes, limitando-se a reproduzir velhos clichés e desfocando, de modo radical, a questão. Sugere-se a ideia de que o “poder” – na autarquia, na administração central, na própria Universidade – logrará todas transformações necessárias, decretando a ressureição da Alta.

Ei-lo, um dos equívocos da democracia: votamos de quatro em quatro anos, os políticos que façam resto. Pouco ocorre que não caiba à política qualquer mediação com a divina providência.

No caso do Centro Histórico de Coimbra, não é a política que fará o essencial. E mesmo a reabilitação urbana, por si só, não produzirá as mudanças sociais, económicas e culturais necessárias. É a sociedade civil que, em boa medida, as ditará. E, a propósito, Coimbra parece ter boas razões para se animar.

Basta uma volta pelas Ruas do Quebra-Costas e Fernandes Tomás para perceber o que digo: o Mercado Quebra-Costas e o bar com o mesmo nome, a associação Arte à Parte, a Mau Feitio, o Fangas, a recém inaugurada Companhia Portugueza, são contributos muito significativos para a revivescência da Alta, nas suas várias dimensões. Mais do que à política – sem prejuízo de alguns, bons, projectos PRAUD – é aos cidadãos, à sua criatividade, ao seu empreendedorismo, que ficaremos a dever uma nova relação da cidade com o Centro Histórico. Pouco a pouco, a barbearia “O Carlos”, o mini-mercado Lopes, o café Oásis ou a mercearia Serenata parecem ter encontrado, afinal, a quem passar o testemunho.