1.6.10

Pela positiva


Os jornais estão cheios de más notícias. Reflexo do país, dirão alguns. Luta desesperada pela maior quota de leitores, dirão outros. Ambas as coisas contribuem, julgo, para um país que se escreve a preto e branco e se vai desenhando, diariamente, em tons de cinza.

Em Coimbra não é diferente. Seja porque, de igual forma, se atravessam tempos severos, do ponto de vista comercial. Seja porque a insegurança, o definhamento industrial, a pobreza, merecem ser reflectidos pelas redacções e acabam por sê-lo, dia após dia. E, mesmo apesar da melíflua publicação de alguns eventos politico-sociais (o que também se compreende, em ambos os sentidos), acaba por gerar-se um ciclo de desânimo, que não levará a lado nenhum.

Há doutrinas distintas quanto à classificação da comunicação social como um quarto-poder ou como um contra-poder, mas ambas reconhecem a poderosa influência dos media no conjunto da sociedade e o seu concurso para o próprio desenvolvimento. Num certo sentido, se o discurso da tanga, na boca dos políticos, abala a economia; esse registo, como timbre editorial, não terá melhor resultado.

Se a isto acrescentarmos que os habituais comentadores, em cuja veste me coloco, tendem a sobrevalorizar os desaires, mais do que os sucessos, está criado um caldo de cultura perigoso, uma atmosfera de sinal negativo.

Assim, e em jeito de redenção, apetece-me saudar a distinção Silver Award, em Roterdão, dos designers portugueses Ana Boavida e João Bicker, do ateliê coimbrão Bicker e Associados, no âmbito do Festival Europeu de Design.

Pela positiva, apetece-me dizer que o Mercado Quebra Costas, em Coimbra, é uma das mais bem sucedidas iniciativas de cultura urbana dos últimos anos e merece a maior atenção de todos.

Pela positiva, apetece-me saudar a criação do Parque de Jogos Tradicionais Pinho Dinis da responsabilidade do Agrupamento de Escolas da Pedrulha.

Pela positiva, apetece-me elogiar o Ruben Alves e o trabalho que está a desenvolver no Real da Conchada, revelando-se um exemplo para a comunidade em redor.

Pela positiva, acho que os jornais de Coimbra deviam ter todos uma secção de “boas notícias”. Para consumo moderado, mas obrigatório.