18.10.10

Bons ventos


Porque de Coimbra também sopram bons ventos, é dia de felicitar a Escola Secundária D. Maria. Pela nem sei que vez consecutiva, sagrou-se primeira no ranking nacional de Escolas Públicas o que, na prática, significa que os seus alunos obtiveram a melhor média nos exames de acesso ao ensino superior. Ainda que daqui a uns anos uma parte deles se arrisque a não saber onde meter o canudo, por agora, estão de parabéns eles, está de parabéns a escola e, já agora, que me perdoem o bairrismo, está de parabéns Coimbra.

Mas não são os únicos. Gostei particularmente de ouvir a dra. Maria do Rosário Gama (declaração de interesses: tenho o prazer de a conhecer) dizer o que, de resto, tem dito mais vezes. Sente-se honrada pelos resultados mas ressalva: “A escola está inserida numa zona urbana de meio económico médio alto e os alunos têm apoios extracurriculares como é o caso de explicações, tal como acontece na maioria das escolas dos grandes centros, uma realidade que é bem diversa noutras zonas do país.” A isto acresce, segundo a Directora, o esforço e o acompanhamento dos professores da escola, a quem acaba por endossar a maior parte dos méritos. Porque gostei de a ouvir? Porque a sua postura não é comum.

Todos os dias ouvimos nas televisões ou nos jornais quem fuja às responsabilidades e seja incapaz de assumir, com grandeza, os seus fracassos. Quem, por outro lado, contemple o sucesso do alto grandiloquente da sua singular existência. São raros, cada vez mais, o que se sabem colocar no seu lugar.

Recordo-me, a propósito, de uma história antiga, que ouvi contar recentemente a um amigo, também de Coimbra. Uma formiga e um elefante correm pelo deserto (ela a “cavalo” nele, claro) e a dada altura a formiga olha para trás e exclama: olha a poeira que nós levantámos! Ora, a reacção da dra. Rosário Gama ao prémio da “sua” escola diz bem que, mesmo em sentido figurado, ela se parece muito pouco com uma formiga. Sendo que o assunto, por se passar em Coimbra, merece uma segunda nota.

O exemplo que nos chega do D. Maria é não só de uma geração de gente qualificada – ao nível do melhor que há no país – mas também, quero crer, de pessoas que sabem respeitar os outros e que, em especial, se sabem dar ao respeito. Quem ainda não desistou de Coimbra sabe o quanto precisamos disso.