12.10.10

Honra aos vencidos

Eu já perdi eleições. Mais do que uma vez, até. E não gostei nada que tivesse acontecido. Graças a isso, porém, aprendi duas coisas: que os astros não se conjugaram especialmente, predestinando-me às vitórias, no dia em que cheguei ao mundo; e que aprender a perder com dignidade seria, para os desafortundados como eu, um elementar manual de sobrevivência. Posso dizer que não me tenho saído mal.

Descobri cedo, embora com marcado pesar, que sou um cidadão mediano, com desgraçada tendência para a mortalidade. E confesso que isso tem sido da maior serventia: deixei de conduzir em excesso de velocidade, durmo oito horas por dia, tento não apanhar sol na moleirinha e evito, por via das dúvidas, andar de montanha russa. Não que isso me realize especialmente (talvez até faça de mim um chato!), mas como não posso apelar às constelações para me manter inteiro, conforto-me ao menos com estes rituais e vou-me sentindo feliz, pela mera circunstância de andar por cá.

Por outro lado, descobri que perder com dignidade tem pouco a ver com o apelo às vitórias morais. Quando se perde, perde-se mesmo, e não se aprende a perder ficcionando-se uma vitória, ainda que moral. “Ah e tal, eu era o melhor, os outros é que não perceberam!”.. Até mesmo porque nenhuma eleição serve para decidir quem é o
melhor. Mas isso é outra história.

A verdade é esta: perde-se quando houve menos pessoas a votar em nós do que no adversário, ponto final. E a partir daí, o melhor é meter a viola no saco. A dignidade(externa) advém daí e um outro tipo de dignidade (a interior) vem mesmo antes disso. Vem, digamos, nos preliminares: quando se concorre porque se acredita, com bondade, no que se está a propor, é suportável, apesar de tudo – e digno – perder. Caso contrário(e esse é o tipo de derrota que nunca tive), caso se concorra apenas “para ganhar”, o que é muito usual, admito que perder seja mesmo desagradável ou, digamos, anti-climático. É talvez, também, se quiserem, uma questão de romantismo.

Ora, no passado Domingo, o candidato Mário Ruivo saiu vencedor de umas eleições internas, tornando-se Presidente da Federação Distrital do PS de Coimbra. Por seu turno, o candidato Victor Baptista saiu derrotado das mesmas eleições, abandonando o lugar que ocupava há quase uma década. Ademais, cumpre dizer que nenhum dos dois é um ser sobrenatural predestinado aos holofotes da glória e que a ambos seria exigível que, se perdessem, se comportassem com dignidade. Um deles, eu sei que tem essa consciência. Aliás, há coisas que aprendemos juntos. O outro, bem, o outro, nem por isso.