Por estes dias lança-se um livro sobre empreendedorismo. Tem como autor o deputado social-democrata Pedro Saraiva, ex-Vice Reitor da Universidade de Coimbra. E leio na imprensa que o empreendedorismo é, de acordo com o autor, uma espécie de “antídoto para ultrapassar a crise económica”. Imagino que a obra vá além de eventuais recomendações sobre a posologia e o excipiente daquela estimável aspirina colectiva, até porque o autor tem capacidade e talento para mais do que isso. Mas ocorrem-me, desde já, alguns comentários sobre o tema.
Está na hora de deixarmos de achar que o empreendedorismo é uma coisa que se aprende nos livros. Toda a vida a capacidade de criar empresas, postos de trabalho e riqueza foi qualidade que dependeu de variáveis mais prosaicas, embora não menos respeitáveis. A necessidade, por vezes a fome e aquilo a que o povo sabiamente apelidou de “olho para o negócio” fizeram sempre mais pela economia do que qualquer tese sobre o assunto e, salvo melhor opinião, é assim que continuará a ser. Não há memória de que os pequenos e médios empresários deste país se tenham lançado no negócio inspirados por discursos sobre a “criação do próprio emprego” em toada épica ou à boleia de um daqueles livros para aprender a ganhar o primeiro milhão que encontramos nas livrarias, ao lado de cartazes com sujeitos envergando gravatas
fuccia e em pose de Aladino do Nasdaq.
Criar e manter um negócio é, na maior parte dos casos, um caminho de sacrifício e superação, de tentativa e erro, de muitos fracassos e de algumas, por vezes escassas, glórias. É, por isso mesmo, um caminho que não é para todos. E não há discurso nenhum, livro nenhum, exemplo nenhum, capazes de mudar isso. Criaremos, talvez, mais empresas. Mas isso não será equivalente a criarmos mais empresários. A maior parte das empresas
a la carte acabará por se extinguir à primeira contrariedade e o país não ganhará nada com isso. No limite, passar a mensagem de que todos podemos ser empresários – acordando o “jovem empreendedor” que há dentro de nós – provocará tanta ou mais frustração e pobreza como aquela que resulta do mero desemprego.
Dir-me-ão: há vários exemplos, designadamente nas Universidades e, em especial na Universidade de Coimbra, de como é possível fomentar o empreendedorismo, casá-lo com o saber académico e criar novas empresas que são um sucesso. Sim, é verdade. Mas será um bom começo se começarmos por interiorizar que essas iniciativas, sendo bons (e indispensáveis!) ninhos, dificilmente chegarão a ser ovos. E é com ovos que se fazem omeletas.