17.5.11

Briosa


Os tempos que aí vêm prometem grandes mudanças. Na política e na economia, nos movimentos sociais, nos media. Não se sabe bem em que medida um país em agonia, sujeito à ajuda internacional, a sujeitar ele próprio milhares de pessoas ao desemprego e, pior ainda, à desesperança, poderá transformar-se e caminhar, num outro sentido. Mas o sentimento unânime é de que assim será. Não estou propriamente a falar das mudanças que poderão, ou não, estar a chegar, com as próximas eleições legislativas. Falo de mudanças profundas, de uma reflexão colectiva que mude a relação dos cidadãos com a sociedade, em todos os aspectos.

Neste particular, em Coimbra é costume dizer-se – e eu disse-o algumas vezes - que temos responsabilidades especiais. Porque somos melhores do que os outros? Não, certamente. Mas porque em várias coisas somos, fomos sempre, diferentes. E a diferença, fruto da irreverência, da rebeldia, da vontade de questionar todas as coisas, permitam a redundância, faz toda a diferença, Disso a Associação Académica de Coimbra é um exemplo particularmente expressivo. Na luta pela República e pela democracia, na defesa dos direitos humanos, na promoção da cultura, na semente de cidadania que lançou em gerações e gerações de jovens, na promoção do desporto. Sem que em nada disto se preocupasse em ser profissional, mais do que em ser verdadeiramente amadora. Amadora como quem ama tudo o que faz e lhe deposita paixão, mais do que calculismo e mercado.

Com altos e baixos, é certo, assim tem sido com a Associação Académica. Menos assim, devo dizer, no que respeita ao seu Organismo Autónomo de Futebol.

Porque a Académica não é só uma equipa de futebol. É uma representante da Academia de Coimbra no futebol profissional, como há dias me escrevia um amigo, sobressaltado com as eleições na Briosa, que estão para chegar. E assim, devendo transportar consigo a ambição de competir no relvado, não pode descartar a história e, sobretudo, o brio de quem representa uma casa de bons costumes, que deve procurar ser um exemplo, a todos os níveis.

Como também li numa entrevista recente do candidato à Direcção da Académica/OAF, António Maló de Abreu, falta Académica ao Organismo Autónomo de Futebol. Salvo melhor opinião, é esse mesmo o ponto. Isso, mais do que o barulho das luzes, há-de reconciliar Coimbra com a Briosa e, em certa medida, há de reconciliá-la consigo própria. Assim seja.