25.1.10

Responsabilidades


Parece que vai fechar a delegação de Coimbra da agência Lusa. Nada de especial se pensarmos que, nos últimos anos, perdemos as Direcções Regionais da Economia, do Instituto Português da Juventude, da Agricultura ou do Instituto de Desporto de Portugal. Nada que surpreenda se pensarmos que, em simultâneo, fecharam portas a POCERAM, a Real Cerâmica ou a Marcopolo, só para dar alguns exemplos. Mais uma maçada, portanto, que torna estas primeiras linhas especialmente enfadonhas, é certo, mas altera pouco o que já sabemos: Coimbra equilibra-se, a custo, sobre um plano demasiado inclinado.

A respeito, vão-se ouvindo as vozes do costume. Umas, que a culpa é do Governo, que não gosta de Coimbra. Outras, que a culpa é da Câmara, que tem afundado a cidade. Ambas, na simplicidade, quase pueril, dos seus argumentos, interessadas em fazer valer as normais disputas entre PS e PSD, mais do que em revelar as razões fundas da nossa agonia. Ora, não pretendo eu, na “simpatia” da minha “juventude”, cavar mais fundo esse terreno. Mas, contando com alguma condescendência, atrevo-me a dizer duas coisas: uma, que têm ambos razão. Outra, que não têm razão nenhuma.

Tenho pouco jeito para teorias da conspiração e obrigo-me a resistir-lhes, vai para uma mão cheia de anos. Mas começo a ficar impaciente com esta sucessão de “lamentáveis coincidências”, talvez conjugações astrais, que apoucam Coimbra semana após semana e que, se não têm culpados, terão pelo menos autores. Não me parece interessante integrar o assunto na categoria das coisas que ninguém faz, mas que aparecem feitas. E vai sendo tempo de pedir responsabilidades, quer ao Governo, quer à Câmara. Se não têm culpa, que encontrem os culpados. Se não carregam a culpa toda, pois que a dividam entre si.

Mas o apuramento dos culpados, mesmo o seu sacrifício na fogueira, não resolveria, por si só, o problema. Governo e Câmara, para este efeito, são reflexo de uma cidade que não mudará enquanto não assumir, ela própria, as suas responsabilidades. Cabe-nos a todos, de todas as idades e em todos os partidos, defender os interesses de Coimbra mas, sobretudo, afirmá-la por inteiro, com excelência, em várias frentes: na ciência, na economia, na cultura e – muito especialmente – na política. Nenhum vento será favorável, se não soubermos para onde vamos. E se, depois de sabermos, não formos mesmo.

12.1.10

Um outro mundo é possível


Não é genial a afirmação de que um partido deve reflectir a vontade dos seus militantes. Na melhor das hipóteses, oblitera que a adesão partidária impõe já uma certa conformação ideológica, limitadora da “soberana” vontade de quem o compõe; na pior delas, desbrava o perigoso caminho da prepotência das maiorias que, se devem ser respeitadas, é duvidoso merecerem grande sacralização. Não sendo, pois, uma afirmação genial, nem por isso deve deixar de ser repetida. Um partido deve reflectir a vontade dos seus militantes, sim. Mas dos militantes todos. E é aí que começa o problema.

É muito comum achar-se que a democracia é uma forma de legitimação do poder pela maioria. É menos comum perceber-se que a democracia, ela própria, deve, não apenas catalisar o aparecimento de várias correntes de opinião, mas também dar expressão aos anseios de cada uma delas, como parte de uma realidade plural e em permanente mutação. Não admira – é mais fácil gerir uma facção do que um partido inteiro. E é mais fácil manter uma facção por sobre a aniquilação moral das restantes.

Em Coimbra, nos últimos anos, o Partido Socialista tem-se demitido de ser um partido inteiro. Em certo sentido, deixou-se sequestrar por divisionismos redutores. E, pelo caminho, traiu a sua própria natureza. Na história do PS Coimbra, houve um dia de menor inspiração em que alguém se lembrou de dizer que o PS se dividia entre a “gente que pensa” e a “gente que faz”. E a partir desse dia, o PS Coimbra passou a distrair-se com esse folhetim, mais do que com a política, propriamente dita.

Por mim, creio que o PS, no Concelho de Coimbra, deve afirmar-se como um “partido que faz”, um partido “de terreno”, já que nenhuma organização sobrevive sem decisões, sem mangas arregaçadas e sem proximidade entre quem lidera e o conjunto dos seus militantes. Mas isso não significa que o PS, no Concelho de Coimbra, não deva ser também um “partido que pensa”, na perspectiva de que a reflexão, a análise, a espessura do discurso político são condição da sua sobrevivência enquanto instituição credível, fiel aos seus princípios estruturantes e propulsora da sociedade como um todo. Por outro lado, achar-se que “quem faz não pensa” e que “quem pensa não faz” é, essencialmente, um preconceito.

Dissociar estas duas realidades implica, ou uma grande dose de ignorância – o que é lamentável – ou uma certa queda para a manipulação – o que é perigoso.

Em todo o caso, enquanto o “partido que faz” pretender aniquilar o “partido que pensa”, e vice-versa, estaremos sempre condenados a um partido que “pensa que faz” ou a um “partido que faz que pensa”. Um outro mundo é possível!

8.1.10

1 ano


Foi há um ano, o primeiro post.

5.1.10

Cidade criativa

Passámos os últimos dez anos a ouvir falar de tecnologia. Em especial, de como um choque da dita cuja nos salvaria da penúria, sujeitos que estávamos a um mercado globalizado, economicamente mais competitivo, embora também socialmente mais desafiante.

Nesse contexto, a qualificação dos recursos humanos, a inovação tecnológica, seriam o caminho, sobretudo para os que, recusando o atalho do dumping social, não tinham mais por onde lograr, a um só tempo, crescimento económico e emprego. Acrescentaríamos competitividade à economia nacional, inovando nos processos produtivos, ao invés de remunerar o povo operário com malgas de arroz.

Mais coisa menos coisa, foi isso que o engenheiro Guterres verteu na agenda de Lisboa, nos idos de 2000; como foi nesse trilho que, com o tonitruante choque tecnológico, o eng. Sócrates arrebatou o coração dos portugueses, corria o ano da graça de 2005. Simplesmente, não estou certo de que a ciência encerre, por si só, a inovação de que a economia precisa e, a esse respeito, a verdade é que a última década está longe de anunciar algo de inspirador.

Olhando para Coimbra, começo-me a perguntar se o facto de andarmos há vinte anos para fazer um parque tecnológico é razão de lamento, ou se, pelo contrário, nos devemos animar por o choque tecnológico, no nosso caso, nunca ter passado de um formigueiro.

É que se o objectivo estratégico, o tal que vem da agenda de Lisboa, passa por introduzir inovação na economia, não estou certo – embora tenha estado no passado – de que o caminho seja pela via da ciência, mais do que pela via da cultura. Julgo perceber que a economia precisa, sobretudo, de criatividade. E se Coimbra pretende ser uma cidade criativa, estará mais perto se investir na cultura, valorizar o seu património, for consciente da sua história e sonhadora do seu futuro. Bem mais perto do que se estiver condenada a repetir, mal, tarde e sem convicção, alguns manuais de “modernidade”.

Para todos os efeitos, é duvidoso que os novos negócios, novos produtos, novos processos produtivos que procuramos, estejam ao alcance de um pós-doc em astrofísica, mais do que de um empresário com a quarta classe que goste de olhar as estrelas, numa noite de Verão.