6.12.11

MANIFESTO - 5 DE OUTUBRO



VIVA A REPÚBLICA!

Portugal assinala, a cada ano que passa, três momentos fundadores da sua identidade.
Comemora a 1 de Dezembro a restauração da independência em 1640, simbolizando esta data a nossa condição de Estado-Nação independente e soberano, com uma história de quase nove séculos..

Comemora a 5 de Outubro a instauração da República em 1910. Ou seja, o regime em que a legitimidade de todos os titulares dos órgãos de soberania radica no povo, único soberano, de acordo com o princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei, com as mesmas oportunidades e plenitude de direitos e deveres.

Comemora a 25 de Abril a democracia e a liberdade, conquistadas graças à revolução de 1974.

Assinalamos, desta forma, em três momentos distintos que somos um país independente, organizado numa república e constituído por cidadãos livres que escolhem quem os dirige.

E homenageamos aqueles que, em cada um destes momentos fundadores, deram o melhor de si próprios em nome da soberania e da liberdade do povo português. Recordá-los é um acto de patriotismo e inspiração.

A afirmação de um país passa também, e sempre, pelo respeito da sua memória colectiva. Esse é um dever patriótico que deve passar de geração para geração. É justamente em momentos de crise e de dificuldades que devemos fazer apelo a essa memória e à afirmação da nossa história, que nos impulsiona para superar as dificuldades do presente.

Vemos, por isso, com muita preocupação a excessiva facilidade do apagar da memória colectiva que o desaparecimento dos dias nacionais referidos necessariamente representará.

A República Portuguesa, constitucionalmente consagrada, deve ser preservada, comemorada e dignificada. O 5 de Outubro deverá, por isso, continuar a ser feriado em nome dos valores da liberdade, laicidade, progresso e dignidade humana que lhe são imanentes. Mas, também, como homenagem àqueles que durante meio século deram públicos “Vivas!” à República, em nome de um ideal hoje vencedor à escala mundial – a democracia!

Preservar o 5 de Outubro como Dia Nacional é um elementar acto de respeito pela história e a pátria, que a todos enobrece.

Viva Portugal! Viva a República! Viva a liberdade!

Coimbra, 2 de Dezembro de 2011

António Alves
António Gameiro
Carlos Cidade
Carlos Inácio
Eduardo Francisco
Francisco Alegre Duarte
Gonçalo Alves
João Goulão
João Paulo Almeida e Sousa
José Miguel Medeiros
Luis Parreirão
Manuel Alegre
Mário Ruivo
Manuel Fonseca
Paulo Valério
Pedro Coimbra
Rogério Gaspar

22.9.11

Se eu mandasse...




Fazia regressar a casa os filhos de Coimbra. Coimbra tem a melhor incubadora de empresas de base tecnológica do mundo, mas anda há décadas para pôr a funcionar um parque empresarial…de base tecnológica! Podemos agradecê-lo à partidarite, ao pequeno interesse e ao diletantismo. Falta atrevimento, competência, frescura e alegria à nossa política autárquica. O êxodo de gerações sucessivas é uma hemorragia que deve ser estancada.

Convocava os melhores para política. A liderança política deve fazer-se pelo exemplo. Caso contrário, chegaremos a um ponto crítico em que ninguém se sentirá bem representado e ninguém terá legitimidade para representar. Andaremos longe?

Acabava com o compadrio. É preciso que todos assumam as suas responsabilidades públicas e profissionais. Quando as cunhas, as calçadeiras, as vistas grossas e os jeitinhos se sobrepõem à competência e à justiça, os pilares da democracia começam a tremer.

Publicado na Revista C de 2011.09.22

13.9.11

Vamos falar de Política?

UMA IDEIA PARA COIMBRA : A CIDADE SAUDÁVEL


(...) parece haver na cidade um consenso relativo em torno do que será, afinal, a vocação de Coimbra. Especialistas vários, políticos de diversos quadrantes, cidadãos em geral, parecem convencidos de que a Saúde é o que nos pode distinguir, o que nos permite “competir”, no concurso por melhores oportunidades profissionais, crescimento económico, bem-estar geral. Coimbra parece já rendida à ideia de que a Saúde é o seu filão. Embora não pareça saber bem, ou exactamente, por onde garimpar.

A tese mais corrente é a de que os nossos hospitais, os nossos profissionais de saúde, a comunidade científica, nos atestam a liderança no sector. E que se lhes soubermos associar outros serviços, como os que resultam, por exemplo, de novas empresas ligadas à biotecnologia ou aos produtos farmacêuticos, podemos crescer mais, gerar emprego e afirmar a cidade. Resta saber se isto, como bandeira, resolverá a diversidade de problemas com que se debate Coimbra, actualmente. Respondemos que não. Não se partir de uma abordagem tão fechada e simplista.

Acreditamos que é preciso ir mais longe. Uma concepção demasiado centrada nas ciências da saúde, em sentido estrito, deve complementar-se com uma ideia de planeamento urbano sustentável. À construção, não da mirífica Capital da Saúde, mas antes de uma Cidade Saudável, acessível a todos.

Vem de longe a ideia de que o bem-estar dos cidadãos, a sua qualidade de vida – conceitos algo difusos – estão intimamente ligados ao ordenamento urbano.

A relação entre a cidade e a saúde vem, diga-se, desde as origens do urbanismo.

Veja-se, por exemplo, que a disponibilidade de alimentos, um dos problemas básicos da saúde, esteve na raiz da própria cidade. Foi a partir do momento em que as sociedades agrárias conseguiram produzir com regularidade excedentes alimentares – na China, na Índia, na Mesopotâmia – que se promoveu a diferenciação social do trabalho e foi possível concentrar funções que beneficiariam das chamadas economias de aglomeração. Tendo sido esta aglomeração que implicou novas infra-estruturas e colocou novas questões de natureza sanitária: abastecimento de água, esgotos, arejamento; além da exposição a outros riscos, como incêndios, cheias, epidemias…

Actualmente e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, um ambiente físico limpo e saudável; um ecossistema estável e sustentável; alto suporte social, sem exploração; alto grau de participação social; necessidades básicas satisfeitas; acesso a experiências, recursos, contactos, interacções e comunicações; economia local diversificada e inovativa; orgulho e respeito pela herança biológica e cultural; serviços de saúde acessíveis a todos; alto nível de saúde, são as condições para que uma cidade se torne “Saudável”.

Quanto a nós, deve ser esta a ambição de Coimbra: ser uma Cidade Saudável, adoptar a Saúde como elemento integrador do seu desenvolvimento.

ECONOMIA LOCAL, RESPONSABILIDADE SOCIAL

A afirmação de uma Cidade Saudável, como se disse, depende de uma economia local diversificada e inovativa, de um alto suporte social, sem exploração, da satisfação das necessidade básicas dos cidadãos.

Não cremos que Coimbra deva resignar-se a uma suposta vocação terciária e abdicar, definitivamente, da indústria. Resignar-se à saída dos mais jovens, por falta de oportunidades profissionais. O desenvolvimento económico e social de Coimbra deve assentar, ora no empenho em recuperar os sectores tradicionais, ora no favorecimento de novos projectos empresariais, em ambos os casos, assegurando altos níveis de responsabilidade social.

a) Conselho Municipal de Concertação Social

Acreditamos que à autarquia cabe um papel activo, de luta pela sobrevivência das empresas do Concelho e pela manutenção de postos de trabalho, mesmo nos sectores ditos tradicionais. Apostamos, aqui, num modelo de concertação social, a partir do Município.

Descontando situações de manifesta inviabilidade económica, é urgente a criação de uma plataforma que corrija assincronias naturais, articulando, especialmente, a acção dos Sindicatos, do Estado (ora credor, ora financiador) e dos Empresários, com vista à recuperação empresarial.

Coimbra não pode desistir das suas empresas. Como não pode abandonar aqueles que, aos 40-50 anos, se vêem sem emprego e sem esperança.

b) Inovação e Qualificação Empresarial

A Universidade e as Instituições de Ensino em geral, com destaque para o Profissional, são um importante activo da cidade, estratégico e diferenciador. Tanto mais quanto saibamos tirar partido das suas virtualidades de modo sistemático e integrado. Sistemático, porque subordinado a um verdadeiro plano de desenvolvimento. Integrado, porque em articulação com todos os actores relevantes, como a autarquia, as associações empresariais, os sindicatos, os organismos do Estado.

É urgente colocar essas competências e energias ao serviço, quer da incubação de novos projectos empresariais, de elevado valor acrescentado, quer da incorporação de factores de inovação e qualificação, na esfera dos sectores mais tradicionais da nossa economia. O que seria, talvez, um verdadeiro Centro de Saúde para as Empresas.

COIMBRA CRIATIVA, UMA POLÍTICA CULTURAL DE ESQUERDA

A necessidade de acesso a novas experiências, recursos e interacções várias; o respeito pela herança cultural; mesmo a busca por uma economia local diversa e inovativa, impõem a centralidade da Cultura para a afirmação de uma Coimbra Saudável. É preciso assumir e explorar a relevância económica, laboral, urbanística e política da cultura e da criação artística. Pugnar ainda por uma visão plural e integradora, esbatendo a natureza “erudita” ou “popular” das manifestações culturais como eventual factor de conflito, reconhecendo todas as formas de expressão artística e cultural.

Por outro lado, é preciso construir um verdadeiro Regime de Cultura, por oposição a uma cultura de regime. Rejeitar a instrumentalização política dos agentes culturais, a sua sobrevivência à mercê de aritméticas eleitorais. Afirmar uma política cultural de esquerda determina que se invista na criação e na diversidade, que se aposte na formação dos públicos e que se trabalhe numa filosofia de rede.

a) Casa das artes

É preciso implementar um modelo de apoio à criação e formação artísticas, concedendo condições de incubação a projectos culturais de mérito, anualmente, mediante concurso público;

b) Escrita, leitura e livro

Deve ser explorada, em conjunto com os serviços educativos, a centralidade da Escrita, da Leitura e do Livro em Coimbra, contribuindo para a sua afirmação e projecção nacional e internacional.

c) SIM | Cultura – Sociedade Intermunicipal de Cultura

Promova-se, num esforço de cooperação com os Concelhos vizinhos, uma associação intermunicipal, que tenha por escopo a dinamização e promoção cultural em rede, aproveitando sinergias, quer ao nível dos agentes culturais, dos recursos e das infra-estruturas existentes, quer ao nível da respectiva programação.

UMA ESTRUTURA ECOLÓGICA URBANA ´

A presença de espaços verdes e o contacto permanente com a natureza contribui, entre outros aspectos, para a percepção de um espaço urbano de qualidade, para o desenvolvimento de estilos de vida saudáveis e para o equilíbrio do ecossistema urbano.

A promoção de uma estrutura urbana ambientalmente equilibrada, passará pela integração de todo o espaço verde existente na actividade quotidiana da cidade e dos seus habitantes. Esta integração deverá resultar da conciliação dos objectivos e expectativas de todos e, nesse sentido, o papel dos actores do sector público será traçar os objectivos comuns e promover soluções abrangentes.

A materialização destes objectivos passará por:

a) Estimular as iniciativas de criação de espaços verdes de produção e de lazer.

b) Criar uma bolsa de solo “verde” a ser disponibilizado a todas as entidades que pretendam desenvolver actividades de contacto com a natureza de uma forma organizada e continuada.

c) Construir uma rede de circulação pedonal “verde” que cubra toda a área urbana.

UMA CIDADE (RE)CENTRADA

Nos últimos anos o Centro foi abandonado, em primeiro lugar, por grande parte dos residentes, em seguida pelo comércio tradicional e, mais recentemente, pelas lojas das cadeias internacionais e pelos profissionais liberais. Para este fenómeno contribuiu também a mudança de serviços do Estado para outras áreas da cidade, assim como a concentração de serviços e a deslocalização de algumas entidades para outras cidades. Este processo conduziu a uma degradação evidente no espaço construído que resulta da degradação da estrutura económica e social.

A intervenção no Centro deve, pelas razões que estão na sua génese, ultrapassar as dimensões da recuperação do espaço construído e induzir a transformação nas dimensões económicas e sociais, na promoção da qualidade da habitação e na melhoria do ambiente urbano.

Uma proposta para a intervenção no Centro passará por aspectos como a criação de mecanismos que permitam ao município chamar a si a gestão do parque imobiliário devoluto do sector público. Com este património, envolvendo outros actores (como instituições de ensino superior, empresas privadas, associações de estudantes, etc,) será possível criar uma bolsa de espaços destinados a habitação a custos controlados, oficinas de criação artística, escritórios destinados à instalação de profissionais liberais e pequenas empresas; etc…Reverter o fenómeno da especulação imobiliária passa, também, pela reutilização do edificado existente.

Todavia, a recuperação dos edifícios em mãos de proprietários privados exige a utilização de mecanismos que, dentro do actual contexto legal e orçamental, permitam:

a) Partilhar o risco associado à obtenção de financiamento para a reabilitação, estimulando a iniciativa individual ou colectiva.

b) Assegurar a penalização dos proprietários de prédios devolutos e promover o reingresso desses imóveis num mercado regulado.

PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA

Um alto grau de participação social integra, ainda, o conceito de Cidade Saudável, de acordo com a OMS. A cidadania plena, o concurso dos cidadãos para a tomada de decisão pública, é um bem maior da Democracia e um factor de progresso de dimensões incalculáveis. Sendo inegável a sua importância para o equilíbrio da vida em comunidade, para a melhoria das condições de vida, para o próprio bem-estar individual.

Ora, o dinamismo associativo de Coimbra e até, poderá dizer-se, uma certa vocação para a cidadania, devem ser potenciados. Ao Partido Socialista cabe reconhecer as organizações da sociedade civil como parceiros privilegiados, para o aprofundamento democrático e para a afirmação das grandes causas sociais.

Fazê-lo, implicará, decerto, abdicar de uma relação pontuada, ora pela desconfiança, ora pela tentação dirigista. A Concelhia do PS deve exercer o seu mandato em relação com a sociedade civil, respeitando o espaço próprio das organizações.

A afirmação de um projecto socialista para o desenvolvimento de Coimbra deve assegurar um amplo Compromisso Cívico, participado pelos cidadãos e pelas instituições, um desígnio colectivo para que todos concorram e em que todos se revejam. É um desafio imenso a que o PS não deve virar as costas, contribuindo para a credibilização da política e mesmo do sistema partidário, em diálogo com toda a sociedade.

21.7.11

Dia da Federação de Coimbra | Unidos na Acção

Estamos quase a terminar a campanha que elegerá o próximo Secretário-geral do PS.

Independentemente do resultado, sairá vitorioso o Partido, já que ao longo dos últimos meses se debateram IDEIAS e se procurou elevar a POLÍTICA, no campo ideológico da esquerda democrática. É desta forma que interpreto a intervenção de TODOS os camaradas da Federação de Coimbra, apoiantes de um e de outro candidato que participaram, com entusiasmo, com empenho e com sentido de militância, nesta campanha.

Aos que, ao meu lado, se irmanam na ambição de ver eleito o Francisco Assis Secretário-geral do PS, agradeço o espírito combativo e a generosidade próprios de quem se move em nome daquilo em que acredita.

Aos que, por seu turno, estão ao lado do António José Seguro – vários amigos de hoje e de sempre – dirijo uma mensagem de grande respeito democrático.

A 22 e 23 de Julho, os militantes do PS, em liberdade e consciência, serão soberanos na sua decisão. E no Domingo, dia 24 de Julho, despertará UM NOVO PS, UM SÓ PS, plural e solidário no modo como acolhe a divergência de opiniões, mas UNIDO NA ACÇÃO contra a Direita, em nome e ao lado das Pessoas.

Apelo por isso, em meu nome pessoal, à participação de todos na comemoração do Dia da Federação de Coimbra, exactamente no Domingo, 24 de Julho, em Maiorca. Com a nossa presença, daremos simbolicamente um sinal de cultura e maturidade democráticas. Na certeza de que o tempo é de combate e de que TODOS OS SOCIALISTAS serão poucos para o que aí vem.

12.6.11

Porque apoio Francisco Assis?


Sou socialista. Hoje, como ontem. Não mais, não menos do que em Fevereiro de 2005, quando o PS conquistou a primeira maioria absoluta da sua História. Não mais, não menos do que no passado dia 5 de Junho, quando os cidadãos eleitores afastaram o PS do Governo, com uma votação que a todos deve fazer pensar. Parar para pensar.

Mas ganhar e perder, num regime democrático, é coisa natural e ambas devem ser encaradas como manifestações livres do povo, aptas a conduzir, cada qual do seu modo, à reflexão, à construção, a uma aprendizagem cívica.

Sou socialista. E comprendo que os cidadãos, depois de nos terem depositado a confiança de uma maioria absoluta em 2005, no-la tenham retirado, seis anos depois. Terão, certamente, as suas razões - o facto de termos cometidos erros, todos nós socialistas, será uma razão de monta. Mas a derrota do último dia 5 de Junho não me retirou a convicção de que tinhamos o melhor programa de Governo para o País, sobretudo se em contraste com a cartilha ultra-liberal que a maioria de Direita se prepara para pôr em prática. As convições, quando são convicções, resistem à espuma dos dias.

Sou socialista. E sei que ao longo dos próximos anos teremos um Governo de Direita que será incansável a demonstrar ao País que os socialistas – os socialistas todos – são responsáveis pelos males do Pátria. De ponta a ponta, nas Finanças Públicas e na Educação, na Saúde e na Economia, na Administração Interna e na Agricultura, o Dr.Portas e o Dr.Passos Coelho estarão empolgados em pintar os últimos seis anos de Governação Socialista como os mais negros da democracia nacional. Sou socialista. E, neste cenário, caberá aos socialistas assumir os erros cometidos, com humildade, mas também demonstrar, de modo combativo, que o país se desenvolveu – e muito – pelas mãos de todos nós. É minha convicção de que o caminho contrário – o de encolher os ombros sobre o passado, procurando que ele se esfume num apagão mediático – não será caminho nenhum, será um atalho.

Por isto mesmo, nas eleições para Secretário-Geral do nosso Partido que se aproximam, apoiarei o camarada Francisco Assis.

E por isto, muito ponderadamente, aceitei o seu convite para dirigir a campanha que promoverá no Distrito de Coimbra.

Com franqueza, não estou convencido de que o PS que perdeu as eleições a 5 de Junho possa precipitar um novo ciclo, em menos de um mês. Sim, voltaremos às vitórias e recuperaremos a confiança dos portugueses! Mas tudo levará o seu tempo. Não haja ilusões.

Acredito que o camarada Francisco Assis possui as qualidades intelectuais e políticas necessárias para relançar o debate de fôlego sobre o futuro da Esquerda Democrática e, bem assim, sobre a Participação Política, dentro e fora do PS, de que tanto precisamos.

Sou socialista, orgulho-me da História do PS e acredito no seu Futuro. Por isso apoio o camarada Francisco Assis. Mas, devo esclarecer, isso não faz de mim mais socialista que ninguém.

Os socialistas todos farão do próximo Congresso, certamente, um momento de afirmação dos valores da Esquerda Democrática.

Os socialistas de Coimbra, em especial, farão deste Congresso mais um grande momento de afirmação da nossa Federação, do Distrito e da Região.

23.5.11

Anjos e demónios


Quem quer fazer política em Portugal deve abdicar de falar português. Quando se é político tem que se falar uma outra língua: encriptada, reservada, ambígua, manipuladora, por vezes – um dialecto que Camões teria, decerto, a maior dificuldade em reconhecer. Ganha a política, ganharão os cidadãos, alguma coisa com isso? Creio que não. Mas essa é a condição primeira para que, na era das manchetes, dos twits, dos posts, se sobreviva ao juízo dos próprios cidadãos, mais ou menos mediado pela comunicação social. Ser claro sai caro e na maior parte dos casos, - veja-se a ironia – conduz à incompreensão.

Depois, queixam-se os cidadãos, queixam-se os comentadores, queixa-se uma parte dos partidos, do chamado empobrecimento do debate político ou da aparente indistinção dos discursos dos seus principais protagonistas. Pudera, quando criámos o caldo de cultura perfeito para que ninguém se sinta confortável a analisar o fundo das questões, procurando ser intelectualmente honesto e, enfim, dizer o que pensa. Só na reforma - temos vários exemplos disso – a maior parte dos políticos se dá ao luxo de o começar a fazer, sem reservas mentais, sem rodriguinhos, sem “se” “mas” “porém”.

A recente novela em torno das declarações de Ana Jorge, cabeça-de-lista do PS por Coimbra, a propósito do Metro Mondego, é disto um exemplo bastante impressivo. O essencial das suas declarações – a “prioridade é a conclusão das obras no Ramal da Lousã, para que num horizonte temporal de 2014 o troço Serpins (Lousã)-Parque (Coimbra) seja uma realidade” – passou logo para segundo plano quando referiu, por mero dever intelectual e sentido de responsabilidade, diferentes caminhos para um problema que, nas actuais circunstâncias, merece mais do que uma abordagem a preto e branco. Claro que a façanha lhe valeu, como era de prever, um verdadeiro chilique da oposição local, com grosserias à mistura, uma oposição que parece preferir narrar a política como se de um livro do Dan Brown, com anjos e demónios, se tratasse.

Sucede que para além da ficção, na crua realidade do país real, é preciso que se mantenham firmes aqueles que se recusam a fazer da política uma espécie de fado à desgarrada, onde vence quem se apresenta com a voz mais grossa e, por mais disparates que diga, consegue sempre a última palavra. É dessa massa – da dos que resistem à vulgaridade – que se fará a política do futuro. Se houver futuro.

17.5.11

Briosa


Os tempos que aí vêm prometem grandes mudanças. Na política e na economia, nos movimentos sociais, nos media. Não se sabe bem em que medida um país em agonia, sujeito à ajuda internacional, a sujeitar ele próprio milhares de pessoas ao desemprego e, pior ainda, à desesperança, poderá transformar-se e caminhar, num outro sentido. Mas o sentimento unânime é de que assim será. Não estou propriamente a falar das mudanças que poderão, ou não, estar a chegar, com as próximas eleições legislativas. Falo de mudanças profundas, de uma reflexão colectiva que mude a relação dos cidadãos com a sociedade, em todos os aspectos.

Neste particular, em Coimbra é costume dizer-se – e eu disse-o algumas vezes - que temos responsabilidades especiais. Porque somos melhores do que os outros? Não, certamente. Mas porque em várias coisas somos, fomos sempre, diferentes. E a diferença, fruto da irreverência, da rebeldia, da vontade de questionar todas as coisas, permitam a redundância, faz toda a diferença, Disso a Associação Académica de Coimbra é um exemplo particularmente expressivo. Na luta pela República e pela democracia, na defesa dos direitos humanos, na promoção da cultura, na semente de cidadania que lançou em gerações e gerações de jovens, na promoção do desporto. Sem que em nada disto se preocupasse em ser profissional, mais do que em ser verdadeiramente amadora. Amadora como quem ama tudo o que faz e lhe deposita paixão, mais do que calculismo e mercado.

Com altos e baixos, é certo, assim tem sido com a Associação Académica. Menos assim, devo dizer, no que respeita ao seu Organismo Autónomo de Futebol.

Porque a Académica não é só uma equipa de futebol. É uma representante da Academia de Coimbra no futebol profissional, como há dias me escrevia um amigo, sobressaltado com as eleições na Briosa, que estão para chegar. E assim, devendo transportar consigo a ambição de competir no relvado, não pode descartar a história e, sobretudo, o brio de quem representa uma casa de bons costumes, que deve procurar ser um exemplo, a todos os níveis.

Como também li numa entrevista recente do candidato à Direcção da Académica/OAF, António Maló de Abreu, falta Académica ao Organismo Autónomo de Futebol. Salvo melhor opinião, é esse mesmo o ponto. Isso, mais do que o barulho das luzes, há-de reconciliar Coimbra com a Briosa e, em certa medida, há de reconciliá-la consigo própria. Assim seja.

10.5.11

Ninhos, ovos e omeletas


Por estes dias lança-se um livro sobre empreendedorismo. Tem como autor o deputado social-democrata Pedro Saraiva, ex-Vice Reitor da Universidade de Coimbra. E leio na imprensa que o empreendedorismo é, de acordo com o autor, uma espécie de “antídoto para ultrapassar a crise económica”. Imagino que a obra vá além de eventuais recomendações sobre a posologia e o excipiente daquela estimável aspirina colectiva, até porque o autor tem capacidade e talento para mais do que isso. Mas ocorrem-me, desde já, alguns comentários sobre o tema.

Está na hora de deixarmos de achar que o empreendedorismo é uma coisa que se aprende nos livros. Toda a vida a capacidade de criar empresas, postos de trabalho e riqueza foi qualidade que dependeu de variáveis mais prosaicas, embora não menos respeitáveis. A necessidade, por vezes a fome e aquilo a que o povo sabiamente apelidou de “olho para o negócio” fizeram sempre mais pela economia do que qualquer tese sobre o assunto e, salvo melhor opinião, é assim que continuará a ser. Não há memória de que os pequenos e médios empresários deste país se tenham lançado no negócio inspirados por discursos sobre a “criação do próprio emprego” em toada épica ou à boleia de um daqueles livros para aprender a ganhar o primeiro milhão que encontramos nas livrarias, ao lado de cartazes com sujeitos envergando gravatas fuccia e em pose de Aladino do Nasdaq.

Criar e manter um negócio é, na maior parte dos casos, um caminho de sacrifício e superação, de tentativa e erro, de muitos fracassos e de algumas, por vezes escassas, glórias. É, por isso mesmo, um caminho que não é para todos. E não há discurso nenhum, livro nenhum, exemplo nenhum, capazes de mudar isso. Criaremos, talvez, mais empresas. Mas isso não será equivalente a criarmos mais empresários. A maior parte das empresas a la carte acabará por se extinguir à primeira contrariedade e o país não ganhará nada com isso. No limite, passar a mensagem de que todos podemos ser empresários – acordando o “jovem empreendedor” que há dentro de nós – provocará tanta ou mais frustração e pobreza como aquela que resulta do mero desemprego.

Dir-me-ão: há vários exemplos, designadamente nas Universidades e, em especial na Universidade de Coimbra, de como é possível fomentar o empreendedorismo, casá-lo com o saber académico e criar novas empresas que são um sucesso. Sim, é verdade. Mas será um bom começo se começarmos por interiorizar que essas iniciativas, sendo bons (e indispensáveis!) ninhos, dificilmente chegarão a ser ovos. E é com ovos que se fazem omeletas.

3.5.11

Verdade e consequência

Há um tempo atrás, neste mesmo espaço, pronunciei-me sobre a saída da professora Helena Freitas da liderança da bancada municipal do PS em Coimbra. Fi-lo, sobretudo, por duas razões. Porque importava valorizar e reconhecer o trabalho que vinha desenvolvendo, em representação do Partido Socialista e na defesa dos superiores interesses de Coimbra; e porque me pareceu relevante, à data, sublinhar a necessidade de ponderar, devidamente, a sua substituição no lugar. Um partido como o PS não deve contentar-se com menos do que os melhores para, em seu nome, o representarem e transportarem a sua palavra, junto dos eleitores. Não estou arrependido de o ter feito.

Hoje, certamente sem que nenhuma relevância tenha tido o que escrevi naquela altura, observo que ao lugar anteriormente ocupado pela professora Helena Freitas chega, agora, o meu camarada Luis Marinho. Ponderadamente – e bem – o PS soube resistir à tentação de optar, naquela sede, em nome de quaisquer interesses que não fossem o de se ver bem representado e de se prestigiar, assim, junto da opinião pública. É falacioso, para dizer melhor, é errado e perverso, que se diga que todos os deputados municipais poderiam representar, igualmente, o colectivo. A cada um de acordo com as suas necessidades, a cada um de acordo com as suas capacidades, creio ser uma boa filosofia.

Agora, para que o ciclo virtuoso se mantenha e renove, bastará apenas que o eleito saiba – como decerto saberá – honrar os seus pares e defender com a inteligência, brilho e desassombro que lhe são reconhecidos, os interesses de Coimbra e as bandeiras do PS, em homenagem à democracia que a Assembleia Municipal, enquanto órgão autárquico de superior relevância, deverá reclamar, a cada momento.

Haverá, certamente, quem estranhe estas minhas palavras, por não as considerar, talvez, consentâneas com as divergências políticas que, na vida interna do PS e em certos momentos, mantive com o agora líder da bancada municipal do PS em Coimbra. A esses quero adiantar que me preocupa ser consentâneo, sobretudo, com aquilo em que acredito. E que me importa ser coerente, retirando consequências, de tudo o que vou escrevendo.

Acho que o país e a cidade de Coimbra estão demasiado cansados de quem não consegue ver para além de pequenas - tantas vezes mesquinhas - querelas partidárias. Fartos, talvez, de quem só consiga observar a realidade quando filtrada pelas suas particulares contingências e singulares aspirações.

26.4.11

Representar Coimbra

Não sou dos que acreditam em governos de salvação nacional. Essa ideia, nos seus termos redutora, mas apresentada com a simplicidade das coisas geniais, não me desperta o menor entusiasmo.

O humorista Bruno Nogueira dizia há dias, e bem, mais ou menos isto: um governo de salvação nacional seria equivalente a juntar os vírus da papeira e da varicela para, com eles, produzir um antídoto contra todas as doenças infantis. Esta imagem, devo dizer, mesmo que apresentada com a displicência a que só têm direito alguns privilegiados de entre nós, faz muito sentido. Há quem pretenda salvar o país, simplesmente, colocando o PS e o PSD a governar juntos. Eu prefiro que ambos os partidos se entendam quanto a algumas questões essenciais; que desempenhem o seu papel com elevado sentido de interesse nacional; que não se percam em discussões laterais; que não se deixem aprisionar pela mera estratégia político-partidária, sim, mas que governem, qualquer deles, apenas em função dos resultados que conseguirem obter nas próximas eleições. No fundo, a salvação nacional como o simples somatório dos dois maiores partidos políticos, é uma ideia muito equivalente à da suspensão da democracia por seis meses, para resolver os problemas de Portugal. Recordam-se? Eu recordo-me, sei bem o que significa e não gosto sequer de pensar no assunto.

Posto isto, repito que há compromissos necessários entre o PS e o PSD (entre todos os partidos) e, voltando-me para Coimbra, agora que estão fechadas e entregues as respectivas listas de deputados, pretendo reforçar especialmente essa ideia. O meu ponto é este: se não me passaria pela cabeça que os problemas de Coimbra se pudesem resolver com uma coligação PS/PSD na Praça 8 de Maio, já me parece evidente que uma acção concertada entre os deputados eleitos pelo Distrito, em S. Bento, poderá beneficiar – e muito – o seu desenvolvimento e, a caminho disso, a respectiva centralidade na Região Centro.

Observando o actual rol de candidatos por Coimbra, e em todo o espectro partidário, encontramos, apesar de tudo, sinais de novidade, independência, qualificação e respeitabilidade. Creio que essas características – por oposição às pequenas habilidades individuais, prerrogativas históricas e fidelidades partidárias mais usuais – serão já um bom ponto de partida para o entendimento, sereno, entre aqueles que vão ter a responsabilidade de, nos próximos quatro anos, representar Coimbra.

Aguardemos, pois, para perceber se saberão estar à altura de semelhante responsabilidade.

19.4.11

Um desafio aos deputados por Coimbra

Transcrevo, abaixo, moção de que sou primeiro subscritor e que foi unanimemente aprovada na Comissão Política Concelhia do PS Coimbra, realizada em 4 de Abril, último. Tendo já sido endossado por aquele órgão, o texto aguarda, agora, apresentação e votação em sede de Comissão Política Distrital.

A democracia portuguesa atravessa um momento particularmente sensível, desde a sua fundação, em Abril de 1974. Como muitas vezes na história mundial, uma crise económica e financeira de contornos ainda não completamente definidos faz adensar descontentamentos e acende no espírito dos cidadãos um particular sentido crítico quanto ao desempenho dos titulares de cargos políticos e quanto à própria sustentabilidade do regime democrático, enquanto modelo de organização colectiva, apto a servir o interesse geral.

Neste contexto, sendo necessário canalizar esforços para a resolução célere da crise económica e financeira que impende sobre a república portuguesa e que, dia após dia, vem exigindo brutais sacrifícios às famílias, importa reflectir sobre as insuficiências do sistema político em vigor e, particularmente, contribuir, o mais que seja possível, para aprofundar, consolidar e dignificar a representação democrática, verdadeiro mandato de confiança entre eleitos e eleitores.

O Partido Socialista – e o Partido Socialista em Coimbra – têm, aqui, particulares responsabilidades a assumir.

Por estes dias e face aos desafios cívicos que se nos apresentam, quando em cima da mesa se colocam as alternativas possíveis para a representação política do PS e dos cidadãos de Coimbra na Assembleia da República, importa menos discutir nomes, importa menos confrontar personalidades, importa menos disputar protagonismos.

Importa mais, acima de tudo, discutir um verdadeiro Manifesto político, assumir um Compromisso com os cidadãos e configurar um Mandato para os deputados eleitos pelo Círculo de Coimbra – especialmente para os que venham a representar o Concelho de Coimbra - no Parlamento Português, a partir do próximo dia 5 de Junho. Manifesto, Compromisso e Mandato, em moldes que possam ser permanentemente avaliados, é o que se exige àqueles que pretendam ser eleitos em representação do PS e em representação de Coimbra. A Assembleia da República terá, no cenário de dispersão de votos que se prevê resultante das próximas eleições, um papel como nunca decisivo para o futuro de Portugal e o seu desempenho obriga a um acrescido sentido de dever, a um reforçado sentido de responsabilidade.

Nestes termos, a Comissão Política Concelhia de Coimbra do Partido Socialista delibera – e recomenda à Comissão Política Distrital deliberar – que cada um dos candidatos à Assembleia da República a eleger pelo círculo de Coimbra deva assumir os compromissos seguintes:

1.Apresentar previamente às eleições um Manifesto Político que enumere, de modo claro, os principais objectivos do seu mandato e a previsão possível dos respectivos modo e prazo de concretização, no seio da actividade parlamentar;

2.Permanecer no Distrito de Coimbra um dia fixo por mês, em horário e local a definir e divulgar, atempadamente, para atendimento aos cidadãos;

3.Marcar presença, salvo por motivo justificado e escrito, em todas as reuniões da Comissão Política Distrital de Coimbra do Partido Socialista, em condições de poder reportar a actividade desenvolvida e receber recomendações políticas daquele órgão;

4.Participar, trimestralmente, em Plenários de Militantes abertos aos Cidadãos, organizados pelos órgãos próprios, Concelhios e Distritais, do PS Coimbra;

5.Elaborar, no final de cada ano e no final do Mandato, um Relatório da respectiva Actividade Parlamentar, em modelo uniforme a definir pela Federação, que possa ser divulgado e avaliado pelos militantes do Partido e pelos Cidadãos em geral.

13.4.11

Estudantes, hospitais e prisões


Sento-me num táxi, a caminho da velha estação de Coimbra B. É fortuita a minha passagem por Coimbra, no fim-de-semana em que os socialistas se juntaram em Matosinhos, ensaiando uma espécie de estágio antes do grande jogo de 5 de Junho ou, quem sabe, de um novo congresso, lá mais para diante. Talvez por isso, na curta viagem que separa a Praça Fausto Correia da Estação Velha, tenha buscado um pouco da minha cidade, nas palavras do homem que – admitamos que sim – me colocaria de novo nos carris, a caminho de Lisboa.

“Está fraco isto”, diz-me ele. Para logo acrescentar “Os táxis estão todos na estação, à espera, mas isto hoje está fraco senhor Não sei se os estudantes já estarão todos de férias…”. Procuro aprofundar o tema mas, sem esforço, logo ouço o que, na verdade, já esperava ouvir: “Nesta terra, se não forem os estudantes, os hospitais e as prisões, não há trabalho para ninguém!”

Desconte-se, talvez, um certo excesso de simplicidade e aqui se encontrará, se não um retrato fiel, ao menos um esquisso de Coimbra, aos olhos de alguém cuja profissão é, tradicionalmente, um promontório sobre a vida em comunidade.

Sendo Domingo, vem-me à memória uma notícia de sexta-feira que, como é usual, se perderá na espuma dos dias, suavizada por comentários políticos eivados de boas intenções e molduras jornalísticas de uma sempre comovente compaixão. Coimbra passou de 10 para 9 o número de deputados a eleger nas eleições legislativas, sendo que essa circunstância varia em função do respectivo número de eleitores.

É certo que Coimbra até ganhou, desde 2009, 2239 eleitores e, aliás, isso mesmo se dirá exaustivamente, procurando dar aparência animadora a uma notícia verdadeiramente infeliz. Eu acrescento que Faro, no mesmo período, ganhou 10.000 eleitores e Lisboa uns clarividentes 26.579.

Ora, para os que se resignam – sempre se resignaram – com uma cidade de estudantes, hospitais e prisões, a receita para o crescimento será simples: abrir meia dúzia de novos cursos, atrair mais doentes, receber de braços abertos, em pleno coração da cidade, todos os reclusos que o país nos remeta para engavetar, pois então. Para os outros – entre os quais me incluo – faltará bastante mais do que isso.

Chegados ao destino, o bom do taxista ainda me oferece o número de telemóvel, “para o caso de precisar de mais algum serviço.” Agradeço-lhe, adianto que paro pouco por aqui e saio. Quase de costas voltadas, desejo-lhe felicidades e fecho a porta, com aparente convicção. Como se este não fosse, afinal de contas, o meu lugar.

5.4.11

Sei lá


À beira de eleições, a história repete-se. Mesmo hoje, quando se discute a salvação do país, num quadro trágico com muito de efabulação à mistura, animam-se as hostes partidárias, sobretudo, para salvar a pele. O país político está cheio de gente sem profissão, que fez da actividade política um modo de vida e que, literalmente, dela depende para sobreviver.

Essa dependência assinala-se a vários níveis. A absoluta dependência financeira de alguns titulares de cargos políticos que, dificilmente, encontrarão alternativa comparável no mercado de trabalho, é um exemplo comum. Mas, quanto a mim, não esgota o cenário e chega mesmo a ser injusto. Com efeito, acredito que a maior parte dos actuais titulares de cargos políticos se safaria razoavelmente “cá fora”. Não deixa de ser redutora e até mesquinha a ideia de que a maior parte deles, se não fizesse política, cairia em absoluta penúria. Será assim, infelizmente, em alguns casos. Noutros, nem por isso.

Noutros casos, observam-se, essencialmente, duas situações. Por um lado, o medo, ainda que infundado, do que os possa esperar na “vida real”. Por outro, um completo viciamento na política, seja por mera vaidade, seja por absoluta sede de poder. Em qualquer destes casos, a meu ver não menos graves que o primeiro (pelo contrário até), o problema é, no fim de contas, o mesmo: o exercício de cargos políticos perde o sentido quando deixa de ser visto como uma missão, com objectivos devidamente fixados, de duração limitada e sempre sujeita à avaliação de terceiros.

À beira de eleições, também Coimbra encontrará entre os seus políticos a marca das angústias que acabo de descrever. E, em especial, no quadro parlamentar, creio que temos um pouco de tudo. Os que cairiam em desgraça, os que não teriam razões para se preocupar, os que são apenas vaidosos, os que têm sede de poder. E sim, já me esquecia, também temos os mesmo bons, que ali andam a prestar um serviço ao Pais.

Em tempo de fazer novas escolhas (talvez menos novas que o desejável, digo eu) que bom seria que os nossos candidatos a deputados se apresentassem com um programa concreto, que definissem as suas prioridades para o mandato, que se obrigassem a receber os cidadãos (ao menos uma vez por semana) para verdadeiro trabalho político e, no fim, estivessem obrigados a apresentar um relatório de actividades, para sabermos, timtim, por timtim, o que andaram a fazer.

Tudo seria mais claro para todos e, em tempo de eleições, poupavam-se muitas angústias. Coisas de que me lembro, mas sei lá eu o que digo.

29.3.11

Entre a ferrugem e a sebenta


Milhões de fundos comunitários depois, gastos no que em "europez" se chama a "qualificação", ou o "potencial humano" ou, se quiserem, a "sociedade do conhecimento", Portugal descobriu que tem que começar a produzir e a exportar. Talvez seja mesmo essa a única saída - e talvez devêssemos ter pensado nisso antes - mas facto é que, se agora temos que andar às ordens da senhora Merkel para aguentar a vidinha, foi exactamente por termos feito o que a Europa (o mesmo é dizer a Alemanha, que agora nos recrimina) nos mandou fazer: fechar as fábricas e especializar uma geração inteira em powerpoints.

Nisso, em Portugal, uns foram melhores alunos do que outros. Mas, à distância de umas décadas, podemos também dizer, com relativa segurança, que quem se safou melhor foram, afinal, os piores da turma. Os que, teimosamente, foram resistindo a fechar as fábricas, desconfiando - mais por instinto do que por outra coisa - de quem lhes dizia que, um dia, viveríamos todos bem a fazer uploads de "ideias" na world wide web, em vez de despacharmos contentores de sapatos para o estrangeiro.

Coimbra, na equação que a Europa nos preparou - a mesma que veio a sublimar-se, por ironia, na chamada "Agenda de Lisboa" - contava com o domínio da principal variável. E, com efeito, como não sonhar um futuro próspero, em plena sociedade do conhecimento, para aquela que em Portugal se reconhecia como a capital do dito cujo? Fecharam-se, pois, as fábricas, ano após ano, uma por uma, até fecharem todas. Fecharam-se com um sorriso nos lábios, já que insistir na ferrugem seria sinal de uma rudeza em que uma certa Coimbra se não reconhecia. Foi assim - mais coisa menos coisa - que chegámos onde chegámos. E agora, se, no país, retomar a produção e a remessa de mercadorias para o exterior é uma visão longínqua, em Coimbra, esse cenário assemelha-se mais a uma miragem.

A vantagem do momento que atravessamos é, porém, a de que, se no passado, Coimbra tinha que escolher entre a ferrugem e a sebenta, actualmente, não terá escolha possível e a verdade é que precisa mesmo de viver com ambas. As chaminés das fábricas - se as conseguirmos de volta - terão que voltar a fumegar, lado a lado, com a moleirinha dos lentes. Tenho para mim que não haverá mal nenhum nisso e, entre a ferrugem e a sebenta, talvez Coimbra encontre, finalmente, a sua própria agenda. Que já não a de Bruxelas. Que não, seguramente, a agenda de Lisboa.

22.3.11

Cidade à rasca


O protesto da geração à rasca deu pano para mangas, na última semana. A seu pretexto - e da cantiga dos Deolinda e das atoardas do Jel - há quem tenha disparado os mais esforçados exercícios psicanalíticos sobre a sociedade portuguesa. Cada um -entre comentadores, jornalistas e mesmo manifestantes - tem uma teoria exclusiva. Seja sobre as motivações, seja sobre as repercussões da manifestação que, no último sábado, mais milhar menos milhar, encheu de gente avenidas largas, por esse país afora. A mais reincidente será, talvez, a que - embora com uns remoques auto-justificativos pelo meio - se empenha em colocar a nú a ingratidão dos jovens portugueses.

Uma geração que não sofreu a guerra, nem a fome, nem a ditadura - que as não sofreu, supõe-se, por acto magnânime da geração que nos governa (não me refiro apenas aos políticos!) - não tem do que se queixar. E eu entendo o que querem dizer: os que foram poupados às páginas mais negras da história portuguesa devem agradecer, reverentemente, os quinhentos euros que agora lhes aconchegam o bolso. Ou, dito de outra forma, seria injusto que, para além de terem escapado ao Ultramar, pretendessem, ainda por cima, arranjar um emprego. Só posso dizer que é uma forma tão boa como qualquer outra (ou seja, má) de enfiar a cabeça na areia.

Em Coimbra, na Praça da República, também se protestou. Parece, no entanto, que o número de manifestantes ficou aquém, bastante aquém, das expectativas. Do lado de quem governa a cidade haverá, talvez, a tentação de achar ser esse um sintoma de como em Coimbra se vive bem, a coberto dos males da pátria e de como, na cidade dos estudantes, verdadeiramente, não existe uma geração à rasca. Essa seria uma boa notícia, mas uma notícia errada. Todos os dados apontam a circunstância de Coimbra se estar a tornar numa das cidades mais envelhecidas do país e onde é mais difícil arranjar emprego. Ora, então, como justificar o aparente fracasso da manifestação?
Eu - já agora - também tenho uma teoria.

Salvo melhor opinião, creio que o problema de Coimbra é mais grave do que o de Lisboa ou mesmo do Porto. Nas manifestações de Lisboa e do Porto estiveram centenas, talvez milhares de jovens conimbricenses, à procura da oportunidade que, em Coimbra, se cansaram de procurar. Nasceram em Coimbra, mas hoje vivem, ou sobrevivem, em Lisboa ou no Porto. Nesse sentido, o futuro de Coimbra, a transformação necessária, poderão esbarrar num obstáculo a considerar, seriamente: o êxodo de uma geração inteira que, simplesmente, está a deixar de acreditar. E esse poderá bem ser ser o retrato mais acabado de uma cidade à rasca.

9.3.11

Desafios

Helena Freitas despediu-se da Assembleia Municipal de Coimbra. Aquela que foi a cabeça de lista pelo Partido Socialista à presidência daquele órgão assume agora as funções de vice-reitora da Universidade de Coimbra e ajuizou – bem, a meu ver – que o bom exercício das duas funções seria incompatível. Helena Freitas compreende que o seu dever ético para com a Universidade e para com os Munícipes não se basta com o mero cumprimento da lei. Assim, embora não constitua incompatibilidade alguma o exercício simultâneo das duas funções, preferiu arredar-se da Assembleia, para melhor interpretar e representar os interesses da Universidade. Perde-se uma excelente líder de bancada, mas o futuro promete uma extraordinária vice-reitora.

Passando os olhos pelo que foi o mandato de Helena Freitas na Assembleia Municipal, o seu mérito mede-se melhor pela impressão que deixa aos munícipes em geral, do que por uma qualquer aritmética ligada ao número de intervenções que fez ou mesmo às votações que conseguiu obter. Fica na retina dos conimbricenses uma activista política qualificada, comprometida com Coimbra e com as causas sociais em que acredita; uma protagonista desassombrada, que não deve obediência a directórios partidários, mais do que aos cidadãos e à sua própria consciência; uma profissional reconhecida que, expondo-se à política e aos partidos políticos, no momento actual, prestigia ambos, mais do que se prestigia a si própria.

Ora, devo dizer que, nestas circunstâncias, a saída de Helena Freitas da Assembleia Municipal de Coimbra impõe dois extraordinários desafios ao Partido Socialista. Um, o de garantir que o seu afastamento momentâneo não afasta, num futuro próximo, a sua disponibilidade para, ao lado dos socialistas, reconquistar a Câmara de Coimbra. Dois, o de entregar a liderança da bancada a quem saiba transportar, convenientemente, o legado que a professora nos deixa. Concretizar o primeiro depende, sobretudo, da disponibilidade da própria, bem sei. Já quanto ao segundo, não há margem, nem desculpa, para decisões precipitadas ou, mesmo, para escolhas ingénuas.

1.3.11

Cumplicidades


Desconheço o contexto e, nestas coisas, o contexto é sempre importante. De todo o modo, leio na imprensa que o vereador comunista na Câmara de Coimbra, Francisco Queirós, assinala a existência de milhares de casas novas, devolutas, em Coimbra e estranha, em paralelo, que os “promotores imobiliários” continuem a construir. Leio mais de perto, faço umas pesquisas, tento perceber se tratamos da mesma Coimbra e do mesmo vereador. Chego à conclusão de que sim.

Falamos, pois, da velha Coimbra dos estudantes e do vereador que, dando continuidade à tradição inaugurada por Gouveia Monteiro, caminha de braço dado com o Partido Social Democrata, na governação da cidade. Não há mal nenhum nisso. Até acredito na bondade das suas intenções e a concomitância entre o PSD e a CDU, no plano autárquico, não só não representa novidade alguma como é, até, uma decorrência normal da lei que, embora anacronicamente, regula o exercício do poder autárquico em Portugal. Sucede que estaríamos bem melhor se a lei fosse outra.

Quando discutimos se os executivos autárquicos devem ou não ser compostos por um só Partido (o que recolheu o maior número de votos expressos), é frequente apontarmos para as vantagens de garantir uma equipa una e coesa – sem forças de bloqueio – no cumprimento de um determinado programa político. Já é menos comum, no entanto, que se aponte como vantagens da mudança de lei uma maior responsabilização dos protagonistas políticos e uma maior clarificação dos respectivos papéis.

Com outra lei – uma que não permitisse ser vereador da Oposição às segundas, quartas e sextas; e da Situação nos restantes dias da semana – a indignação do vereador comunista em referência poderia ser levada mais a sério. Assim, podemos até dedicar-lhe uma certa dose de indulgência, mas isso nunca apagará a cumplicidade da CDU com o PSD, nem a responsabilidade dos comunistas pela vergonha que, com efeito, é a política de habitação na autarquia conimbricense.

22.2.11

Aqui e agora


Vivemos tempos cinzentos. Por muito que o Governo anuncie e por mais que Oposição nos prometa. Chamando as coisas pelos nomes, a volta de que o país precisa não depende do entusiasmo que Sócrates saiba imprimir nas boas notícias, nem, sublinhe-se, da condolência que Passos Coelho possa depositar nas notícias más. É louvável o esforço de ambos. Mas não chega.

Sabedor de que o país precisa de ânimo para ultrapassar a crise – ou de que isso é, afinal, tudo o que nos resta – o primeiro-ministro anuncia, todos os dias, um novo dia. O líder do PSD, por seu turno, vai mantendo um ar grave, ao mesmo tempo que deixa entrever, numa quase lágrima, as ideias salvíficas com que, a bem da Nação, nos há-de ungir, a nós, pobres portugueses. Ambos se esquecem do essencial: se existem vários caminhos para redimir o país, a política, tal como a conhecemos hoje, não será um deles.

De toda a parte – e de todas as partes do Mundo – nos chegam ecos de descontentamento, ao mesmo tempo que nos sopram ventos de mudança. A política, o tipo de política que conhecemos, tem os dias contados. E a urgência de um tempo novo está longe de ecoar apenas no peito daqueles a que habitualmente chamámos profetas da desgraça. A desgraça – sob a forma de opressão ou de violência; bem como sob a veste do desemprego, da precariedade e do abandono – há muito que se abateu sobre nós e já não precisa, está visto, de maiores profecias. Não é tempo de exorcizar o passado, nem é tempo de efabular sobre o futuro. O tempo, o nosso tempo, é aqui e agora.

Aqui e agora, uma nova forma de fazer política há-de surgir e, para essa mudança, é tanto ou mais importante o que se faça à escala nacional como o contributo que cada cidadão e as comunidades locais forem capazes de dar. Para começo de conversa, gostaria que, ao invés de discutirmos a redução do número de deputados, discutíssemos quais os candidatos que se hão-de apresentar ao país. Em Coimbra, interessa-me mais saber quais serão os escolhidos do que quantos serão os eleitos.

Verdadeiramente, as próximas listas de deputados pelo círculo de Coimbra serão uma oportunidade única para – sobretudo os dois maiores partidos – fazerem a sua prova de vida. As lideranças frescas que ambos apresentam – Mário Ruivo por um lado e Marcelo Nuno por outro – não resistirão a um novo ciclo de escolhas erradas, como aquelas que ao longo dos anos têm apoucado – e de que maneira – a cidade de Coimbra.

15.2.11

Tempos de mudança


João Gabriel Silva é o novo Reitor da Universidade de Coimbra e a sua eleição – arrisco dizer – ocorre ao arrepio de muitas expectativas geradas na Universidade e na cidade, ao longo dos últimos anos.

Com efeito, a eleição foi disputada com a professora da Faculdade de Letras, Cristina Robalo Cordeiro, desde sempre integrada em lugares cimeiros da equipa do reitor cessante, Fernando Seabra Santos. E para os que – mesmo distraidamente, como eu – observaram o desenrolar do processo, não é novidade dizer que a eleição daquela que seria a primeira mulher reitora da Universidade de Coimbra era dada como certa, prometida, quase escrita nas estrelas, desde há muito. Não aconteceu.

Poderá dizer-se que o novo método de eleição dos Reitores, de acordo com o actual Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, desequilibrou, num dado momento, as variáveis em presença. Mas isso, sobretudo para quem não conhece o tema de um modo rigoroso, como é o meu caso, será sempre do domínio da especulação. A mim, confesso, não me interessa especialmente seguir esse caminho. É outra a minha motivação.

Gosto, simplesmente gosto, quando em democracia as coisas não acontecem conforme foram escritas nas estrelas. E isso, neste particular, devo assegurar que não tem qualquer relação com a opinião que deixo ou deixo de ter acerca dos candidatos, vencedor e vencido, em presença.

O que me agrada é a renovada sensação de que, quando menos se espera, a política – e a reitoria é política! – vem devolvida ao arbítrio dos que votam, não podendo programar-se, com grande antecedência, pelos outros, pelos que são votados.

Este é o tipo de circunstância que remete para dois tipos de reflexão. Por um lado, a de que em democracia, como na vida, ninguém está gloriosamente talhado para o sucesso, ao mesmo tempo que ninguém deve considerar-se fatalmente condenado ao fracasso. Por outro, a ideia de que não é em nome próprio, mas em nome de quem no-lo confia, que o poder deve ser exercido.

Com a devida vénia – e sobretudo nos tempos que correm – saiba o novo reitor manter isto presente e estará já a prestar um grande serviço. À Universidade, à Academia, a Coimbra e ao País.

8.2.11

Em nome dos cidadãos


Não tenho da vida uma visão maniqueísta. Talvez por isso, tento manter alguma abertura a diferentes perspectivas das coisas, ainda que vindas de quem não torça pelo mesmo clube, não professe a mesma religião, não vote no mesmo partido. E, deste logo, porque não é do meu feitio (feitio que, adianto, nem é grande coisa) perder tempo a tentar decifrar reservas mentais. Não se trata de especial benevolência, nem de uma particular ingenuidade. É mais, se quiserem, uma razão de ordem prática. Não se vai a lado nenhum quando se é incapaz de estabelecer pontes com os outros. E procurar uma motivação cabeluda no espírito de cada não é, para tal, um grande começo.

Vem isto a propósito do dossier Metro Mondego e dos seus desenvolvimentos recentes. Para todos os efeitos, o ponto em que estamos hoje é significativamente mais auspicioso do que aquele em que estávamos há uns tempos atrás. Graças ao Governo? Graças ao PS Coimbra? Graças ao Movimento de Cidadãos? Graças aos Autarcas? Graças a todos eles, digo eu.

Maniqueísta seria dizer que nunca houve problema nenhum, que o Governo sempre esteve comprometido com o Metro e que as suspeitas de abandono, lançadas na praça pública, não tiveram qualquer fundamento. Maniqueísta seria dizer, por outro lado, que o Metro esteve morto, enterrado e apenas devolvido à vida pela acção de um Movimento de Cidadãos.

Com efeito, momentos houve em que a guerra pareceu definitivamente perdida, face a um Governo que, a espaços, assumiu sobre o assunto posições desconexas e autistas. Mas também é verdade que, ao contrário do que alguns quiseram fazer crer, o Governo não chegou a sentenciar de morte o sistema de mobilidade essencial às populações que o projecto Metro Mondego pressupõe. E, no meio disso tudo, faça-se a justiça de reconhecer que foi um certo esforço de concertação – partilhado entre todos os intervenientes – que permitiu trazer à tona as garantias mais recentes sobre o projecto. Garantias que atendem às especiais dificuldades que o país atravessa, sem deixarem de atender ao compromisso assumido com as populações.

É por isso que – e permitam-me o desabafo – não percebo uma certa ansiedade de manifestação sobre o assunto, ainda há dias patente na inauguração do novo Pediátrico de Coimbra. Com franqueza, faço votos para que o maniqueísmo não estrague o que a sensatez e a convergência de esforços foram capazes de construir. Em nome dos cidadãos, claro.

1.2.11

Um ponto de Ordem


Não há nada de extraordinário no facto de uma cidade, uma só cidade, dispensar ao país ambos os representantes das duas classes profissionais mais influentes de Portugal. Desde logo porque não é crível que a cidade em causa tenha, enquanto tal, grande responsabilidade nisso. Mas também porque a representação dos respectivos bairros é, seguramente, uma tarefa, se não ausente, pelo menos marginal no dia-a-dia dos dois bastonários, António Marinho e Pinto e José Manuel Silva. A verdade, porém, é que ambos chegam de Coimbra e representam hoje, respectivamente, os advogados e os médicos portugueses.

Assim sendo, para além da minha vaidade – talvez misturada com um certo provincianismo – poucas razões concorrem para que se assinale o que parece ser pouco mais do que uma feliz casualidade. Com efeito, não foi um suposto lóbi de Coimbra que colocou os bastonários nos respectivos lugares; a promoção da cidade não preenche, decerto, a agenda de qualquer um deles; e, verdade seja dita, são timidas (ou nulas) as manifestações coimbrãs, a este propósito.

Está, pois, tudo muito certo. Nada de especial a assinalar. E esta crónica, para não destoar, deveria acabar por aqui. Mas há qualquer coisa de muito errado numa cidade que lamenta a sua perda de influência quando, ao mesmo tempo, “cede” ao país dois bastonários e, já agora, um Presidente do Tribunal Constitucional. Apetece perguntar se Coimbra não tem influência ou se, pelo contrário, não sabe (ou não quer) usar a influência que tem.

É que, independentemente de qualquer cidadão de mediano entendimento perceber que as duas ordens profissionais em presença não se transformaram em embaixadas coimbrãs, pela naturalidade ou proximidade dos respectivos titulares; independentemente de parecer óbvio que, menos ainda, o Palácio Ratton seja uma sucursal da Universidade de Coimbra, isso não é razão para que a cidade não procure em cada um deles a provedoria necessária, em momentos decisivos.

Se não o faz porque ainda não tinha pensado nisso, tem agora bom remédio. Se não o faz porque, simplesmente, não o quer fazer, então, acho que não tem remédio nenhum.

18.1.11

Erros a não repetir


Esta semana, a Assembleia da República discutirá uma petição apresentada por um grupo de cidadãos, sobre a paragem das obras do Metro Mondego. Dir-se-á que o país – e os deputados da nação – estarão de olhos postos em Coimbra. Não é verdade.

Para o país, mergulhado na crise, preocupado com o que o novo ano lhe reserva, a discussão do Metro Mondego no parlamento será pouco mais do que um regionalismo bizarro. Para os deputados, para a maior parte deles, a discussão desta petição, como de tantas outras, será apenas um ritual, mais ou menos penoso que, no limite, lhes dará pretexto para discutir o que – seja do lado do governo, seja do lado da oposição – entendem ser a “verdadeira”, “grande”, “política”. Lamento mas, se não estou enganado, Coimbra arrisca-se a ficar, de novo, em segundo plano.

Nas últimas duas décadas, Coimbra rumou a Lisboa por diversas vezes, para se indignar contra a política do Governo e contra o que entendeu ser uma agressão aos seus particulares, mas legítimos, interesses. Recordo-me, assim de repente, de dois processos distintos: a co-incineração e a Ponte Europa. Dois processos distintos entre si, é certo, mas com muito em comum. Em ambos a cidade se indignou contra o Governo (um do PS, outro do PSD); em ambos se esboçaram revoltas populares, se fizeram ameaças várias, em nome dos superiores interesses de Coimbra; e em ambos, vários anos depois, Coimbra perdeu a luta e se quedou ao silêncio. A co-incineração arrancou, paulatinamente, em Souselas e já ninguém quer saber do assunto. A Ponte Europa esteve parada durante vários meses, sofreu uma derrapagem orçamental de três dígitos e, nesse caso, tendo o parlamento recebido uma petição semelhante à que agora vai discutir a propósito do Metro, o coração da democracia preferiu fazer-lhe vista grossa. Não é famoso o historial de Coimbra, neste tipo de processos? Pois não. Mas quer isso dizer que estamos condenados? Também não.

A luta contra a paragem das obras do Metro Mondego é um novo capítulo da história de Coimbra, que será aquilo que os seus protagonistas (mesmo que muitos deles sejam os mesmos do passado) quiserem que ele seja. Quer na co-incineração, quer no processo da Ponte Europa, o grande erro foi que a discussão nunca saiu, verdadeiramente, de um certo espírito politiqueiro e, por isso, nasceu e morreu como sempre nascem e morrem essas coisas. Ora uma revolta de sangue, ora um silêncio de morte.

Talvez não conheçamos a solução para o problema do Metro. Mas será um bom começo se soubermos, ao menos, quais os erros a não repetir.

10.1.11

Administradores supranumerários


Não é possível dizer que o Metro Mondego acabou. Nem é possível dizer, já agora, que tenha descarrilado. Isto porque o Metro Mondego nunca existiu e, em bom rigor, nunca chegou a sentir o cheiro dos carris. Não existiu, pelo menos para a maior parte de nós.

É óbvio que, ao longo de quase vinte anos, o Metro Mondego existiu. Mas só para alguns. Existiu para quem vendeu ou arrendou a sua (dizem-me) faustosa sede, numa zona nobre da cidade de Coimbra; existiu para os seus administradores – talvez para cima de uma dúzia, se somados todos os mandatos; existiu para quem fez os estudos e ali deu consultas de toda a sorte. Dizem-me que em certos países do chamado terceiro mundo, há empresas com três administradores e dois funcionários. Não estou certo de que a Metro Mondego se possa rir muito, numa eventual comparação. Mas fico-me por aqui. Isto é o que toda a gente sabe. E a Metro Mondego nem sequer é caso único.

O que algumas pessoas talvez não saibam é que, embora o presidente da Metro Mondego tenha tido a dignidade de se demitir quando percebeu que o projecto não ia a lado nenhum, por lá ficaram, ainda – talvez à espera que lhes cortassem a luz - os restantes administradores da empresa. Dizem-me que são alguns, entre executivos e não executivos, que por ali se mantêm – passe a piada – em funções. Tanto quanto consigo alcançar, tornaram-se uma espécie de administradores supranumerários. E sobre o assunto, a cidade mantém um silêncio que, para mim, é insuportável.

Fica o alerta: o exercício de qualquer lugar público é provisório, tem subjacente um compromisso ético com os cidadãos e deve cessar quando, por algum motivo, deixa de ser possível honrar esse compromisso. Foi isso que o Professor Álvaro Seco percebeu, de imediato. Sendo lamentável que não tenha sido acompanhado pelos restantes administradores da empresa. Lamentável, mas não supreendente. A incapacidade de assumir responsabilidades próprias a troco de um prato de lentilhas é uma boa caricatura do que, afinal, parece ter condenado o próprio Metro Mondego.