30.6.09

Por Coimbra, sempre...

...a mesma coisa.

29.6.09

Um asterisco



Fazendo uso de uma justa precedência protocolar, o dr. Encarnação tomou a palavra na abertura da CIC’2009 para dizer o costume: que Coimbra é uma aldeia gaulesa, gloriosa resistente às malfeitorias do império romano-lisboeta. Nada de novo, portanto. O dr. Encarnação mantém-se confortável na pele de um Asterix e os conimbricenses terão que se resignar a essa infeliz caricatura. Em Coimbra, a palavra de ordem é, como no filme, formation Tortue!, que em português significa "formação tartaruga" e nos impõe uma espécie de posição fetal, enquanto, com a carapaça, protegemos a moleirinha.

Claro que, em Coimbra, proteger a moleirinha é particularmente importante. Como se sabe, é a moleirinha que alberga o conhecimento e, sendo Coimbra a capital do dito, está em causa uma verdadeira razão de Estado, a jóia da coroa, uma pérola desta nossa existência singular. Mas, enquanto isso, há quem avance para o campo de batalha, vença os inimigos ao invés de os lamentar, sem recurso a fantasiosas poções mágicas.

Este enredo, que podia ser cómico, não tem piada nenhuma. E Coimbra é hoje uma cidade com medo de existir, fechada sobre si própria, que acabará por morrer, esgotada e faminta.

Mas creio, na verdade, que a cidade precisa de acreditar na vida depois da morte. O que, ao contrário do que possam pensar, não será uma reencarnação, mas um renascimento. Um tempo de renovação das ideias, que abandone mitos esgotados e que exalte o humanismo, a razão e o progresso

É que, lá longe, na capital do império, Coimbra vai sendo vista, apenas, com bonomia e indulgência. E a vizinhança, como Aveiro, Leiria ou Viseu - todas cidades governadas por gente do PSD - já nem disfarça o sorriso. Agradece o despique gaulês e vai colhendo como pode, como se vê, do despautério coimbrão.

Compreendo a militância do dr. Encarnação contra Lisboa. Mas, que me perdoe, é pena que a história de Coimbra esteja há tanto tempo subjugada a um asterisco.

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(...)Mas creio, na verdade, que a cidade precisa de acreditar na vida depois da morte. O que, ao contrário do que possam pensar, não será uma reencarnação, mas um renascimento. Um tempo de renovação das ideias, que abandone mitos esgotados e que exalte o humanismo, a razão e o progresso.(...)

26.6.09

Habemus Provedor

Avisei aqui e aqui que o resultado, no final da novela, seria este.

Beat it!




Hoje acordei com vontade de bater o pé. Antes que a bolacha fique mole, toda mole.

25.6.09

Avatares



Apercebi-me pelo Daedalus e depois confirmei na fonte que o Avatares de um Desejo fez seis anos no passado dia 22 de Junho.

O Avatares foi, provavelmente, o primeiro blogue com que me cruzei e continua a ser um dos meus favoritos. Só depois das primeiras leituras percebi que era escrito pelo Bruno, a quem me ligam amizades antigas, como o Chico e o Barradas, que conheço através de muitos e bons rapazes lá para as bandas do Ameal e dos tempos em que andei perdido pelas Biologias. Hoje, pensando bem, e lembrando-me destes três cavalheiros, acho que não andei assim tão perdido.

Parabéns ao Bruno. Cuidado com ele.

Mea culpa

Jorge Miranda, desiludido com a disciplina partidária, retira completamente a sua candidatura a Provedor.

Está certo nas mágoas que expressa. A democracia, infelizmente, continua a confundir-se com uma "câmara corporativa de partidos".

Mas como, bem ou mal, somos nós, o povo, que fazemos a democracia, somos "todos responsáveis" por estas encruzilhadas.

N.B.: A expressão "todos responsáveis" atenua a responsabilidade de quem a utiliza. Em rigor, eu, que vivo muito perto do fenómeno partidário, sou mais responsável que a maior parte das pessoas.

24.6.09

Ai Coimbra, Coimbra




Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória

Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta

Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar


JORGE PALMA

Déjà vu



O cargo de Provedor de Justiça está reservado ao nome que a Assembleia da República aprove por maioria qualificada de 2/3.

Bem se entende, do ponto de vista formal, que o responsável por prover a Justiça aos cidadãos seja uma personalidade amplamente reconhecida e a coberto das habituais barricadas politico-partidárias. Mas em termos substantivos, o que acontece - o que sempre aconteceu - é uma negociação prévia entre os dois principais partidos, o que resulta na escolha de um nome "ligado" a um deles, balanceado por outros nomes, noutros lugares, igualmente negociados.

Na prática, não se escolhe ninguém amplamente reconhecido. Escolhe-se um nome ligado ao PS ou ao PSD, pelo que apesar dos requisitos formais (a maioria qualificada), o resultado é o mesmo.

Ora, como os Partidos, desta vez, não se entenderam, fizeram de conta que era possível promover uma eleição transparente na Assembleia e obter, a bem da República, uma aprovação por dois terços.

Naturalmente que isso não aconteceu. Nem acontecerá.

Agora, depois de perdido imenso tempo, depois de enxovalhada a credibilidade pública do lugar, voltamos todos à estaca zero. E o Provedor, mais tarde e não mais cedo, será "eleito" como sempre foi.

Vai uma grande distância da teoria à prática nestas coisas da democracia. Infelizmente. Mas são essas, por enquanto, as regras do jogo.

O resto é conversa.

23.6.09

Goodbye Lenine



Socorro-me de um filme alemão, realizado em 2003 por Wolfgang Becker. Esta coisa de escrever todas as semanas sobre Coimbra é um exercício duro quando não se quer dizer o habitual, da mesma maneira, para não dizer coisa nenhuma. E embora a cidade seja fértil em pequenos folhetins, semanais também, todos se resumem aos problemas de sempre, com os protagonistas de sempre, o que, sejamos francos, já nem merece comentários.

Lembrei-me então da história do jovem Alex que, depois da queda do muro de Berlim, recria no quarto da sua mãe, uma doente e fervorosa socialista, a peculiar atmosfera do marxismo de leste, ocultando-lhe a unificação alemã e ficcionando a derrocada do capitalismo. Goodbye Lenine, na designação originária, é uma história de amor comovente, mas é ainda a metáfora de um fechamento que não deixa perceber, com lucidez, o mundo em redor.

No enredo, o triunfo de Lenine era uma ficção produzida pelo obscurantismo, pelo isolamento daquele quarto preparado, meticulosamente, para esse efeito. Mas o isolamento do bloco de Leste, ele próprio, foi a estratégia possível para, a coberto de outros ventos, lhe ficcionar a chama revolucionária. O que é que isto tem a ver com Coimbra? Nada.

O dr. Encarnação, não sendo uma velhinha entrevada, tinha obrigação de abrir as janelas de vez em quando e perceber a derrocada económica, cultural e social desta cidade. E os que, em seu redor, lhe alimentam a ideia de que tudo vai bem; os que lhe servem o chá a horas certas e lhe preparam as botijas de água quente, não o fazem – se é que alguma vez fizeram – por afecto ou comoção.

Quando, na crónica da semana passada, mencionei o voo rasante dos crocodilos russos, estava a lembrar-me daquela professora de um filho de Brejnev que, à resposta afirmativa de que os crocodilos são aves, replicou resignada que sim, voavam, mas baixinho. Ocorre-me dizer que qualquer coisa vai mal num regime que se nutre, apenas, de adulações e “respeitinhos”.

Hoje, no JN.

22.6.09

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Socorro-me de um filme alemão, realizado em 2003 por Wolfgang Becker. Esta coisa de escrever todas as semanas sobre Coimbra é um exercício duro quando não se quer dizer o habitual, da mesma maneira, para não dizer coisa nenhuma. E embora a cidade seja fértil em pequenos folhetins, semanais também, todos se resumem aos problemas de sempre, com os protagonistas de sempre, o que, sejamos francos, já nem merece comentários.

Lembrei-me então da história do jovem Alex que, depois da queda do muro de Berlim, recria no quarto da sua mãe, uma doente e fervorosa socialista, a peculiar atmosfera do marxismo de leste, ocultando-lhe a unificação alemã e ficcionando a derrocada do capitalismo. Goodbye Lenine, na designação originária, é uma história de amor comovente, mas é ainda a metáfora de um fechamento que não deixa perceber, com lucidez, o mundo em redor.


(...)

16.6.09

Estou-me a fazer entender?

No balanço das Europeias ouço dizer que o PS tem falhado na comunicação. Salvo melhor opinião, isso equivale a insistir que todas as medidas estão "certas"(conceito difuso em democracia), embora sejam mal explicadas ou (ideia subliminar) mal percebidas pelo povo. Parece-me um tiro ao lado.

Nos tempos que correm, impõe-se disponibilidade para falar da substância (o conteúdo das políticas), mais do que da forma (a comunicação). Estou-me a fazer entender?

Uma cidade não é um avião



Uma cidade não é um avião. Mesmo que pareça robusta e sofisticada. Ainda que, por segurança, esteja reservada a uns quantos. Independentemente da elegância do comandante e de uma tripulação delicada, uma cidade não é, de facto, um avião. Porque raramente desafia as leis da física e porque nunca chega ao destino em piloto automático. Mas vamos por partes.

Como raramente desafiam as leis da física, as cidades não voam. Se voassem, muitos problemas de Coimbra estariam resolvidos. Faltando calor, lá iríamos todos nós, “coimbrinhas”, para o Brasil. Faltando neve, rumaríamos a Aspen. Em termos mais sérios, faltando cultura, voaríamos para Paris. Faltando emprego, mesmo em tempo de crise, voaríamos baixinho, como os crocodilos russos, para Lisboa, talvez. Mas como as cidades não voam e o TGV parece que tarda, voam os suficientes para encher um boeing. Mas não mais do que esses. Voam para o sol de Copacabana, para Paris, para a “fortuna” Lisboeta. O grosso da cidade fica-se em terra. Fica-se e enterra a cabeça na areia.

Mas as cidades, para além de não voarem, também não têm piloto automático. E é por isso, talvez, que não vamos a lado nenhum.

A presidência da câmara de Coimbra é hoje vista como um lugar de consagração. Serve para reconhecer o prestígio e o mérito das individualidades coimbrãs. Não serve para lhes desafiar o engenho. Muito menos para lhes inquietar o descanso. Talvez por isso, do ponto de vista simbólico, Obama nunca seria eleito em Coimbra. Provavelmente, a cidade bastar-se-ia com as “comprovadas” glórias militares do Senador McCain.

Sentado no seu trono, na praça 8 de Maio, o presidente da Câmara de Coimbra acena ao povo com uma côdea de pão e vai alimentando, como pode, a fidalguia triste e esgotada. “Por Coimbra”, é esse o programa. Se Coimbra fosse um avião, falaríamos de uma rota circular e perdulária, até à última gota de combustível

Não admira pois, que Coimbra esteja em queda livre. Aqui, o presente é uma caricatura do passado e o futuro a previsão ousada de que o tempo o passa.

Hoje, no JN.

15.6.09

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Uma cidade não é um avião. Mesmo que pareça robusta e sofisticada. Ainda que, por segurança, esteja reservada a uns quantos. Independentemente da elegância do comandante e de uma tripulação delicada, uma cidade não é, de facto, um avião. Porque raramente desafia as leis da física e porque nunca chega ao destino em piloto automático. Mas vamos por partes.(...)

13.6.09

Abençoada Europa

Pelo que se lê aqui, a Ponte (Santa) Europa continua abençoada. Já escrevi no JN, e aqui, no blogue, sobre o assunto.
Mas o silêncio é de "ouro".
Continuarei a escrever. Até que os surdos ouçam.

9.6.09

Um sobressalto



O eng. Pina Prata apresentou, enfim, a sua candidatura independente à Câmara Municipal de Coimbra. Fê-lo “à moderna”, com vídeos na internet e disparando, entusiasticamente, sobre as “instituições” da cidade. A emérita Universidade de Coimbra, as sua “veneráveis elites”, os Hospitais “para os amigos”, as “nódoas” de uns e outros, ninguém escapa ileso às primeiras estocadas do ex-vice presidente do dr. Encarnação.

Muitos dirão que é excessivo, irresponsável, infundado, o tom que o agora candidato utilizou no seu debute de campanha. Eu, por mim, acho que de entre os defeitos do eng. Pina Prata não se destaca a falta de esperteza, pelo que, passado o primeiro embate – e as reacções virginais que, decerto, não tardam – este argumentário de prata fará, naturalmente o seu caminho.

Claramente, o eng. Pina Prata não fala para a Coimbra instalada, para o “povo” que se move na órbita das “instituições” da cidade. Menos ainda para as distintas personalidades que são, elas próprias, “instituições”. Esses são os que, jamais, subscreverão algumas “independências”. É para os outros, para os que estão fartos de uma cidade quadrada, que o eng. Pina Prata dirige os seus argumentos.

Mesmo com a cabeça enterrada na areia, qualquer avestruz medianamente provida percebe que, independentemente do estilo, o discurso do candidato fará eco em boa parte da cidade. E que não é clara a proporção entre os poucos que se acomodam no Olimpo Coimbrão e os inúmeros proscritos desta cidade de oportunidades perdidas, “resignada” e aparentemente condenada a uma “maldição surda”.

Resta, pois, saber, se os partidos políticos serão capazes de abrir os olhos para o problema, ou se pretendem reservar este tipo de “independências” para o eng. Pina Prata.

Por mim, não vejo razão para que não sejam os partidos políticos – e o PS, em especial – a interpretar devidamente o sobressalto de que a cidade precisa. O sobressalto de que precisamos todos. Ou quase todos.

5.6.09

Dr. Portas, o Paulo



Apreciei a visita do dr. Portas, o Paulo, à fábrica de cerâmica Ceres, no âmbito da campanha que, com grande probabilidade, conduzirá o seu partido a não sentar ninguém no Parlamento Europeu. Será um desfecho injusto, ante a comoção, ela própria comovente, do dr. Portas, o Paulo, sempre que as desgraças populares lhe batem à porta. Mas sabemos todos que a justiça rareia no mundo e, mesmo que não soubéssemos, o dr. Portas, o Paulo entenda-se, logo trataria de nos avisar, lacrimejante. Ele que, como também se sabe, tem à sua guarda parte, não desprezível, das virtudes do mundo.

Mas o dr. Portas, saberão já que é ao Paulo que me refiro, revelou ainda, na sua visita à fábrica de cerâmica Ceres, notáveis conhecimentos sobre o processo que se desenrolou, desde o fecho da fábrica, em 2006, à sua reabertura, já no ano de 2009. O que só acrescenta, diga-se com euforia, às suas qualidades terrenas, já que a elas se vêm juntar, agora, habilidades divinas que, decerto, não deixarão de encorajar romarias futuras à improvável, mas agora revelada, localidade de Fornos – Torre de Vilela.

É que este que modestamente vos escreve esteve em todas, repito, todas as reuniões – e decisões – que desde 2006 até 2009 ditaram, finalmente, a reabertura da Ceres. E não teve, em nenhum desses momentos, ao longo de mais de três anos, o privilégio de se cruzar com o dr. Portas, o Paulo, o das Feiras, o da Lavoura, o agora, bem-vindo seja, Padroeiro do Mosaico. Nem com o dr. Encarnação, diga-se, de passagem.

Porém e ao contrário de espíritos mais sensatos, o dr. Portas não se coibiu de palpitar, com a glória que se lhe conhece, sobre os apoios que o Governo “não deu” à Ceres. O que, dizendo o mínimo, é um exercício paranormal.

Fique, pois, sabendo que foi em nome do esconjurado Governo que tomei parte naquelas decisões. E que posso provar o apoio que os Ministérios da Economia, Finanças e Segurança Social deram àquela empresa. A par com o Sindicato, é bom que se diga, cuja integridade e coragem, ao longo do processo, devem ficar ressalvados.

Antes de insistir em fazer embarcar o dr. Nuno Melo para Bruxelas às cavalitas dos trabalhadores da Ceres, sugiro ao dr. Portas, o Paulo, que se informe bem sobre o processo. Deixo-lhe até, caridosamente, a minha disponibilidade para um par de memorandos. Pelo que lemos, o calor dos fornos tolda a memória de algumas gentes.