5.1.10

Cidade criativa

Passámos os últimos dez anos a ouvir falar de tecnologia. Em especial, de como um choque da dita cuja nos salvaria da penúria, sujeitos que estávamos a um mercado globalizado, economicamente mais competitivo, embora também socialmente mais desafiante.

Nesse contexto, a qualificação dos recursos humanos, a inovação tecnológica, seriam o caminho, sobretudo para os que, recusando o atalho do dumping social, não tinham mais por onde lograr, a um só tempo, crescimento económico e emprego. Acrescentaríamos competitividade à economia nacional, inovando nos processos produtivos, ao invés de remunerar o povo operário com malgas de arroz.

Mais coisa menos coisa, foi isso que o engenheiro Guterres verteu na agenda de Lisboa, nos idos de 2000; como foi nesse trilho que, com o tonitruante choque tecnológico, o eng. Sócrates arrebatou o coração dos portugueses, corria o ano da graça de 2005. Simplesmente, não estou certo de que a ciência encerre, por si só, a inovação de que a economia precisa e, a esse respeito, a verdade é que a última década está longe de anunciar algo de inspirador.

Olhando para Coimbra, começo-me a perguntar se o facto de andarmos há vinte anos para fazer um parque tecnológico é razão de lamento, ou se, pelo contrário, nos devemos animar por o choque tecnológico, no nosso caso, nunca ter passado de um formigueiro.

É que se o objectivo estratégico, o tal que vem da agenda de Lisboa, passa por introduzir inovação na economia, não estou certo – embora tenha estado no passado – de que o caminho seja pela via da ciência, mais do que pela via da cultura. Julgo perceber que a economia precisa, sobretudo, de criatividade. E se Coimbra pretende ser uma cidade criativa, estará mais perto se investir na cultura, valorizar o seu património, for consciente da sua história e sonhadora do seu futuro. Bem mais perto do que se estiver condenada a repetir, mal, tarde e sem convicção, alguns manuais de “modernidade”.

Para todos os efeitos, é duvidoso que os novos negócios, novos produtos, novos processos produtivos que procuramos, estejam ao alcance de um pós-doc em astrofísica, mais do que de um empresário com a quarta classe que goste de olhar as estrelas, numa noite de Verão.