8.2.11

Em nome dos cidadãos


Não tenho da vida uma visão maniqueísta. Talvez por isso, tento manter alguma abertura a diferentes perspectivas das coisas, ainda que vindas de quem não torça pelo mesmo clube, não professe a mesma religião, não vote no mesmo partido. E, deste logo, porque não é do meu feitio (feitio que, adianto, nem é grande coisa) perder tempo a tentar decifrar reservas mentais. Não se trata de especial benevolência, nem de uma particular ingenuidade. É mais, se quiserem, uma razão de ordem prática. Não se vai a lado nenhum quando se é incapaz de estabelecer pontes com os outros. E procurar uma motivação cabeluda no espírito de cada não é, para tal, um grande começo.

Vem isto a propósito do dossier Metro Mondego e dos seus desenvolvimentos recentes. Para todos os efeitos, o ponto em que estamos hoje é significativamente mais auspicioso do que aquele em que estávamos há uns tempos atrás. Graças ao Governo? Graças ao PS Coimbra? Graças ao Movimento de Cidadãos? Graças aos Autarcas? Graças a todos eles, digo eu.

Maniqueísta seria dizer que nunca houve problema nenhum, que o Governo sempre esteve comprometido com o Metro e que as suspeitas de abandono, lançadas na praça pública, não tiveram qualquer fundamento. Maniqueísta seria dizer, por outro lado, que o Metro esteve morto, enterrado e apenas devolvido à vida pela acção de um Movimento de Cidadãos.

Com efeito, momentos houve em que a guerra pareceu definitivamente perdida, face a um Governo que, a espaços, assumiu sobre o assunto posições desconexas e autistas. Mas também é verdade que, ao contrário do que alguns quiseram fazer crer, o Governo não chegou a sentenciar de morte o sistema de mobilidade essencial às populações que o projecto Metro Mondego pressupõe. E, no meio disso tudo, faça-se a justiça de reconhecer que foi um certo esforço de concertação – partilhado entre todos os intervenientes – que permitiu trazer à tona as garantias mais recentes sobre o projecto. Garantias que atendem às especiais dificuldades que o país atravessa, sem deixarem de atender ao compromisso assumido com as populações.

É por isso que – e permitam-me o desabafo – não percebo uma certa ansiedade de manifestação sobre o assunto, ainda há dias patente na inauguração do novo Pediátrico de Coimbra. Com franqueza, faço votos para que o maniqueísmo não estrague o que a sensatez e a convergência de esforços foram capazes de construir. Em nome dos cidadãos, claro.