1.2.11

Um ponto de Ordem


Não há nada de extraordinário no facto de uma cidade, uma só cidade, dispensar ao país ambos os representantes das duas classes profissionais mais influentes de Portugal. Desde logo porque não é crível que a cidade em causa tenha, enquanto tal, grande responsabilidade nisso. Mas também porque a representação dos respectivos bairros é, seguramente, uma tarefa, se não ausente, pelo menos marginal no dia-a-dia dos dois bastonários, António Marinho e Pinto e José Manuel Silva. A verdade, porém, é que ambos chegam de Coimbra e representam hoje, respectivamente, os advogados e os médicos portugueses.

Assim sendo, para além da minha vaidade – talvez misturada com um certo provincianismo – poucas razões concorrem para que se assinale o que parece ser pouco mais do que uma feliz casualidade. Com efeito, não foi um suposto lóbi de Coimbra que colocou os bastonários nos respectivos lugares; a promoção da cidade não preenche, decerto, a agenda de qualquer um deles; e, verdade seja dita, são timidas (ou nulas) as manifestações coimbrãs, a este propósito.

Está, pois, tudo muito certo. Nada de especial a assinalar. E esta crónica, para não destoar, deveria acabar por aqui. Mas há qualquer coisa de muito errado numa cidade que lamenta a sua perda de influência quando, ao mesmo tempo, “cede” ao país dois bastonários e, já agora, um Presidente do Tribunal Constitucional. Apetece perguntar se Coimbra não tem influência ou se, pelo contrário, não sabe (ou não quer) usar a influência que tem.

É que, independentemente de qualquer cidadão de mediano entendimento perceber que as duas ordens profissionais em presença não se transformaram em embaixadas coimbrãs, pela naturalidade ou proximidade dos respectivos titulares; independentemente de parecer óbvio que, menos ainda, o Palácio Ratton seja uma sucursal da Universidade de Coimbra, isso não é razão para que a cidade não procure em cada um deles a provedoria necessária, em momentos decisivos.

Se não o faz porque ainda não tinha pensado nisso, tem agora bom remédio. Se não o faz porque, simplesmente, não o quer fazer, então, acho que não tem remédio nenhum.