1.3.11

Cumplicidades


Desconheço o contexto e, nestas coisas, o contexto é sempre importante. De todo o modo, leio na imprensa que o vereador comunista na Câmara de Coimbra, Francisco Queirós, assinala a existência de milhares de casas novas, devolutas, em Coimbra e estranha, em paralelo, que os “promotores imobiliários” continuem a construir. Leio mais de perto, faço umas pesquisas, tento perceber se tratamos da mesma Coimbra e do mesmo vereador. Chego à conclusão de que sim.

Falamos, pois, da velha Coimbra dos estudantes e do vereador que, dando continuidade à tradição inaugurada por Gouveia Monteiro, caminha de braço dado com o Partido Social Democrata, na governação da cidade. Não há mal nenhum nisso. Até acredito na bondade das suas intenções e a concomitância entre o PSD e a CDU, no plano autárquico, não só não representa novidade alguma como é, até, uma decorrência normal da lei que, embora anacronicamente, regula o exercício do poder autárquico em Portugal. Sucede que estaríamos bem melhor se a lei fosse outra.

Quando discutimos se os executivos autárquicos devem ou não ser compostos por um só Partido (o que recolheu o maior número de votos expressos), é frequente apontarmos para as vantagens de garantir uma equipa una e coesa – sem forças de bloqueio – no cumprimento de um determinado programa político. Já é menos comum, no entanto, que se aponte como vantagens da mudança de lei uma maior responsabilização dos protagonistas políticos e uma maior clarificação dos respectivos papéis.

Com outra lei – uma que não permitisse ser vereador da Oposição às segundas, quartas e sextas; e da Situação nos restantes dias da semana – a indignação do vereador comunista em referência poderia ser levada mais a sério. Assim, podemos até dedicar-lhe uma certa dose de indulgência, mas isso nunca apagará a cumplicidade da CDU com o PSD, nem a responsabilidade dos comunistas pela vergonha que, com efeito, é a política de habitação na autarquia conimbricense.