Assinalo, comovido, que chegou ao fim a ideia de instalar o novo tribunal de Coimbra na margem esquerda. Mas incomoda-me que, aparentemente, todos considerem normal continuarmos, ao fim de tantos anos, a discutir a morada de um palácio.
As forças vivas da cidade, o poder, a oposição, a sociedade civil, entretiveram-se toda a semana que passou a dar beijinhos a este propósito, mas, para além da satisfação geral, creio que se justifica alguma penitência, geral também, por mais um episódio do mais infeliz diletantismo colectivo. Somos todos responsáveis.
O novo tribunal já devia estar feito há muito tempo. Na baixa, claro. E só um grande apego à “reflexão”, como aquele a que a minha cidade costuma aderir, justifica a nossa resignação com a inexistência do tribunal e o nosso entusiasmo com o anúncio, certeiro mas tardio, da sua morada.
Mas, se me permitem, não convocarei, aqui, as “partidarices” mais habituais. Aquelas que se preocupam, sobretudo, em saber se a “culpa” foi da direita ou da esquerda. Afinal, como diz o dr. Encarnação, este assunto começou-se a discutir quando ele era governador civil, “já lá vão trinta anos”, o que, para além de outras revelações, diz muito acerca da perenidade de algumas coisas.
Numa outra ocasião, alertei para o facto de Coimbra ter perdido demasiado tempo a “reflectir” sobre a criação de um parque tecnológico, enquanto assistia, candidamente, ao crescimento, pé ante pé, do Biocant em Cantanhede. Avisei, também, que quando o agora Coimbra i-Parque (outrora Tecnopólo) estivesse pronto, talvez fosse tarde demais. Pelo menos para umas duas gerações de conimbricenses desempregados. Está por provar que não seja.
Agora, admitindo que o tribunal tenha a virtude de não agravar a agonia da Baixa, aguardamos a sua construção antes que a agonia termine. E antes que termine a Baixa.
“Transporta um punhado de terra todos os dias e farás uma montanha”.
Eis uma citação que, se não fosse de Confúcio, podia muito bem ser do incrível Bruno Aleixo - também ele um conimbricense que faz jus às mais valorosas virtudes filosófico-reflexivas. Daquelas que dão para rir.
Para já, com pouco mais que um punhado de terra nas mãos, Coimbra, claramente, ainda não decidiu onde assentar o sopé da sua montanha. Coimbra suspensa. À espera. “Que nem um garçon!”
Hoje, no Jornal de Notícias.