Penso em Oeiras, no dr. Isaltino, mas dispenso-me de proclamar a um só tempo a presunção de inocência e as vantagens de um candidato insuspeito. Tenho genuíno gosto em dispensar essas acrobacias para quem, ao contrário de mim, goste de
cheeseburgers sem queijo. E, com franqueza, não vejo aonde nos leva uma discussão que, nos momentos mais inspirados, mede a probidade dos candidatos arguidos pelo momento processual em que esse estatuto se determina. Uma concepção anfíbia, delirante, com arguidos de primeira, segunda e terceira categoria, sucessivamente menos dignos e, claro, presumivelmente menos inocentes.
Para além de dar um novo fôlego ao dr. Marques Mendes, de o apresentar como ficcionado guardião da ética republicana, não vejo qualquer serventia neste caminho. Sobretudo porque não é um caminho, é um atalho. Em rigor, não sei se devemos começar pelo estado miserável a que chegou a política partidária em Portugal. Mas tenho a certeza de que devemos passar, frequentemente, por aí.
É que o problema maior do regime não é a suspeição ou, sequer, a condenação de políticos pelos crimes que hajam cometido a bem da República. Quando muito, essas serão consequências da hipocrisia do Estado perante o financiamento partidário; reflexo de um jeito especial dos partidos para fazer campear malfeitorias.
Passe o heroísmo do dr. Marques Mendes e, diria eu, o povo sério anda todo a leste da política. O bom povo prefere deixar a política “para os políticos” e ocupar-se antes de presumir – muito, pouco ou assim-assim – a inocência dos arguidos.
É por isso que não deposito grande esperança nos resultados eleitorais de Oeiras. Menos ainda nas sentenças que a justiça há-de ler, lá nas suas subidas alturas. O Inverno anuncia-se rigoroso e punir o dr. Isaltino será, na melhor hipótese, um aconchego fugaz.