11.8.09

Close-up



Andei uns tempos a defender que o debate político, em Coimbra, andava descentrado. Esses tempos corresponderam, grosso modo, ao zénite de estimulantes especulações sobre quem protagonizaria as próximas eleições autárquicas, quer do lado do PSD – sem grandes surpresas a esperar –, quer do lado do PS, onde a questão maior era, pelo contrário, a de saber quando deixaria de nos surpreender a todos. Em contratempo, lá fui dizendo que aguardava as propostas políticas de cada um, mais do que o close-up das prima-donas em concurso.

Houve, nesses meses venturosos, quem se apressasse a interpretar as minhas reservas como parte de uma elaborada estratégia mata-borrão. E devo dizer que não censuro essas leituras – nos tempos que correm, é mais fácil associar a defesa de ideias justas à perfídia do que à simples decência. Mas agora que os candidatos estão convenientemente chapados, em oito por três, do Choupal até à Lapa, repito a ousadia de achar que eles devem ter ideias. E, mais propriamente, que essas ideias devem ter expressão nas campanhas respectivas.

Isto porque (e observem-se os outdoors) além de nos informarem sobre a afeição de cada um ao amor, à ambição e ao trabalho – valores que, de modo algum, pretendo subestimar – as campanhas tardam a passar disso mesmo. E desde logo porque nenhum dos valores em jogo me parece inconciliável ao ponto de excluir reciprocamente algum deles. Mais: um presidente ambicioso, trabalhador e romântico, uma síntese sublime entre o Eng. Belmiro de Azevedo, a Carochinha e o Tony de Matos, nem anda longe do que para mim seria, em sonhos selvagens (tradução apócrifa de wildest dreams, entenda-se) um autarca modelo.

Não creio, porém, que Coimbra se possa sujeitar a mais uma campanha de calendário, penosamente cumprida entre as férias de Verão, a água-pé e o S. Martinho. Não sem saber, por exemplo, se queremos atrair investimento e indústria (sim!) para gerar emprego ou se vamos continuar sequestrados por complexos residuais perigosos e deslumbrados com o potencial onírico de um par de spin-offs; sem saber, já agora, se queremos envelhecer até às cinzas ou se abandonamos uma paroquial subjugação aos serviços públicos, à universidade e aos hospitais, que exclui, selectivamente, os mais novos.

Escrevo a partir de Tavira e, em quinhentos quilómetros de estrada, apreciei a passarela de candidatos autárquicos a que, com ternura, vimos chamando festa da democracia. E ocorre-me que no ano passado fiz o mesmo caminho, sem festa, para chegar, afinal, ao mesmo sítio.