O dr. Encarnação apresenta-se, a solo, nestas eleições. Cansou-se de partilhar palco com o seu habitual conjunto e como, em regra, todos os vocalistas, acha que o êxito se lhe deve, mais do que àqueles que obsequiosamente o acompanham. Os instrumentistas são, na opinião de alguns, instrumentais, mas o vocalista - então se for romântico! - não se muda.
Além do dr. Encarnação, outros vocalistas seguiram pelo mesmo caminho. Mas devo adiantar que, para seu infortúnio (às vezes para sorte nossa, diga-se) as respectivas carreiras a solo acabaram por redundar em fracasso. Com gradações diferentes, é certo: o McCartney, depois dos Beatles, por exemplo, não foi tão grave como o Melão depois dos Excesso, mas este último, ao menos, não se pode queixar de falta de aviso. “Melão, por amor” podia bem ter sido o nome do seu primeiro álbum a solo. Mas não foi: foi “Coração de Melão”(!) o que não é muito diferente e, já na altura, não augurava nada de bom.
Comparações à parte, que a personalidade grave do dr. Encarnação não consente o jogo de cintura do Melão, nem tão pouco os agudos do Paul McCartney, a verdade é que, com excepção da quota do CDS/PP, foram todos corridos, corridinhos, os vereadores do dr. Encarnação. Cuspidos como caroços comuns ou requintadamente subtraídos pela empregada da Carolina Patrocínio, pouco importa. Não estão lá. Não poderão ser julgados pelos conimbricenses. Para o bem e para o mal. E eu não me conformo com isso.
Claro que as minha reservas se justificariam mais numa democracia em que as listas – exceptuando a opinião e interesse dos galardoados – não fossem meramente ornamentais. Mas a verdade é que, normalmente, são-no e, nisso, acabam por ser diferentes dos “conjuntos musicais” (adoro esta expressão!). Pelo menos dos bons.
Ao contrário do que alguns vocalistas possam pensar, ninguém concebe o Hey Jude sem aquela batida solta do Ringo Starr, ninguém recordaria o Sweet Child of Mine sem aquele riff de guitarra do Slash ou o Under Pressure sem aquela nervosa linha de baixo do John Deacon. E embora haja muito quem dispense os latidos do Melão, em êxitos como o “Eu sou aquele” há, consabidamente, quem se deleite com eles.
Enfim, seja como for. Está nas bancas o novo trabalho a solo de Carlos Encarnação –“Coimbra, por Amor” – e promete animar as pistas, pelo menos até ao Outono.