O povo de Coimbra foi às urnas e reelegeu Carlos Encarnação. E eu, depois de pensar muito no assunto, concluí o seguinte: o povo está satisfeito com o dr. Encarnação, não tem vontade de mudar e por isso lhe renovou o mandato. Ponto final? Não. Ponto e vírgula.
O povo, de um modo geral – não apenas o de Coimbra – está satisfeito com a vida que leva: satisfeito com o emprego, satisfeito com a casa, satisfeito com o carro, satisfeito com o LCD, satisfeito com as férias, satisfeito até com a sogra. O que não quer dizer que esteja feliz.
Gostaria mais do emprego se o patrão acordasse o tal aumento, de uma vez por todas; mais do carro se o pudesse levar, finalmente, à inspecção; mais do LCD se não lhe pesasse a prestação a 8 de cada mês; mais das férias se não tivesse que levar tachos com arroz de moelas para a praia; mais da sogra se a senhora fosse naquela excursão para Benidorm e não voltasse. Gostaria mais da vida que leva e seria, seguramente, mais feliz. Não sendo possível, ainda assim, sente-se muito “satisfeito”.
A satisfação portuguesa não equivale à felicidade, confunde-se, sobretudo, com a resignação.
Se no Brasil – ouvi dizer que não só – há um político que assumiu como slogan de campanha “rouba mas faz”, o slogan “não faz mas também não estraga” promete embalar Coimbra por muitos e bons anos. A cidade não quer um autarca. Prefere, a milhas, um notário.
Claro que esta tese traz encravada a minha condição de socialista e, nessa medida, de derrotado, despeitado até, na última pugna eleitoral. Mas, já agora, permitam-me que, de quando em vez, carregue aos ombros o que devem ser, hoje, os três mandamentos de um socialista de Coimbra: varrer discretamente o bafio para trás das portas, fazer oposição criativa ao PSD e escrever sobre a cidade em português fluente, o que até dispensa de o fazer com brilho ou mesmo com graça. Ora, assim seja e já me dou, prosaicamente, por “satisfeito”. Um dia seremos felizes.