17.11.09

Ética


Fala-se de ética por estes dias. A política, diz-se, deve conter um elevado sentido ético, de missão, de serviço. Eu digo que quem não aprendeu antes, não aprenderá ética na política. E que, no debate político, a ética deve ser o ponto de partida, não o ponto de chegada.

Claro que quando falo de política falo, sobretudo, de partidos, esses “pilares da democracia” que o povo conhece tão bem. E que, já agora, eu conheço ao ponto de saber que há sítios melhores para o ensino da catequese, sem considerar sequer o Santuário de Fátima e respectivas subsidiárias. Mas o que eu quero dizer mesmo é que não se entra num partido para aprender bons costumes e, quando acontece, corre-se o risco de sair excomungado. Não que os partidos não tenham papas, rosários, calvários e missais. Mas, em rigor, por terem de tudo isso um pouco. Acho – e é esse o meu ponto – que, em matéria de ética, não devemos perguntar o que os partidos podem fazer por nós. Por muito cliché que pareça, devemos perguntar o que poderão as nossas pobres almas fazer pelos “pilares da democracia”.

Por outro lado, se à ética corresponder um carácter na relação entre os homens e destes com a sociedade, enquanto seres livres e munidos de razão; e se o objectivo dos partidos for a concretização de uma certa ética, num dado tempo e lugar; quando a ética claudica dentro de um partido e se transforma no ponto único do seu debate interno, então é o partido que claudica sobre si mesmo e, por muito que esperneie, o que lhe resta é a extrema-unção.

Creio, por isso, que se no PS Coimbra é urgente a afirmação dos valores democráticos e republicanos, de uma certa ética (não necessariamente de uma certa moral), reduzir o debate interno à afirmação desses princípios oblitera o essencial da sua missão pública: transformar a sociedade coimbrã e criar melhores condições de vida para os seus cidadãos.

O que quero dizer com isto é que defendo a ética no PS Coimbra e subscrevo todas as iniciativas que apontem nesse sentido. Mas os cidadãos acharão curto esse debate, se deixarmos para trás a responsabilidade de analisar os seus problemas e avançar com propostas para a sua resolução.

Garantir o jornalismo livre nas sessões de câmara, apresentar um plano sério para a reabilitação da baixa de Coimbra ou discutir, sem reserva mental, primárias na escolha das candidaturas socialistas, em Coimbra, são formas igualmente válidas de afirmar a ética na política.