Coimbra, 12 de Outubro de 2013. O Partido Socialista (PS) venceu ontem as eleições autárquicas em Coimbra. A afluência às urnas, que à hora de fecho concentrava centenas de eleitores junto à Escola Avelar Brotero, anunciava já uma mudança radical na relação da cidade com os seus políticos e sugeria a vitória do PS, depois de um terceiro mandato de Carlos Encarnação sem rasgo, penoso para o próprio e, novamente, marcado por conflitos no executivo municipal.
Mais de dez anos volvidos desde que os socialistas de Coimbra perderam a presidência da Câmara, em 2001 – o que lhes ditou uma travessia difícil, com divisões internas aparentemente insanáveis e com um significativo divórcio entre a esquerda democrática de Coimbra e a sua filiação natural – o PS vinha dando, paulatinamente, sinais de mudança. Acredita-se que a Declaração de Coimbra, subscrita em Abril de 2011, foi o decisivo momento de viragem, depois do Congresso “Coimbra Merece Melhor”, onde os socialistas fizeram, finalmente, a sua catarse, alcançando uma ampla base de convergência interna.
A Declaração de Coimbra confortava, nas suas propostas, aqueles que vinham reclamando uma viragem à esquerda no PS, que exigiam um compromisso ético irrepreensível e manifestavam reservas quanto à excessiva profissionalização da política; ao mesmo tempo que acolhia uma visão tolerante e fraterna na organização partidária; e revelava um caminho de irreverência para o futuro de Coimbra, negando todas as formas de conservadorismo, resignação ou favorecimento.
Já em 2009, a candidatura de Álvaro Maia Seco havia representado um passo importante no que se convencionou chamar a regeneração do PS-Coimbra. Pode dizer-se até que o perfil do candidato e a sua competência profissional eram, naquela altura, precursores do compromisso que veio a ganhar letra de forma na Declaração de Coimbra. Apenas que, à data, os sinais de mudança no partido eram pálidos e havia, ainda, um longo caminho a percorrer.
Com efeito, a derrota de 2009 acabou por confrontar os socialistas de Coimbra com o seu próprio esgotamento e o processo de renovação que daí arrancou levou a que parassem, finalmente, de ajustar contas com o passado. Era preciso ajustá-las, antes, com o futuro. E quem teve a oportunidade de olhar as mulheres e os homens, velhos e novos, milhares de conimbricenses, que se concentraram durante toda a noite de ontem na Praça 8 de Maio – um mar de povo radiante – percebe que as contas foram, agora, finalmente, saldadas. É pois tempo de lançar mãos à obra.