A proximidade de eleições autárquicas vem apimentando a actualidade coimbrã, semeando ansiedades e convidando a uma certa atmosfera de palpite que, com franqueza, nem me incomoda. São conhecidas as virtualidades do binómio “tentativa e erro”, mesmo no domínio da investigação científica e não vejo nenhuma razão para que alguma especulação não se aproveite desse saber, aliás, de experiência feito. Desde que não signifique o seu completo abandono às arbitrariedades da sorte, eis uma forma tão prestável como qualquer outra - digo, mais prestável do que algumas outras - de, falemos com clareza, desvendar a identidade do próximo candidato socialista à câmara de Coimbra.
Esta, por vezes furiosa, demanda é a missão natural - inquestionável - da comunicação social e a curiosidade que, na opinião pública, lhe corresponde, é própria de quem se interessa pela vida da cidade, sobretudo por um prenúncio de mudança, o que é inteiramente legítimo e compreensível. Cabe ao partido socialista respeitar estas incontornáveis circunstâncias, conformar-se a elas, por um lado; mas, por outro, prosseguir inabalável na concretização de uma estratégia que, para os menos atentos, já está no terreno.
Sucede que, a meu ver, a comoção dos conimbricenses, neste processo, não depende muito do nome que o PS venha a escolher para seu candidato â câmara municipal de Coimbra. Mais importante, para o efeito, é a identidade do programa que ele apresente à cidade e a promessa de um tempo novo que saiba, ou não, interpretar.
Nós, conimbricenses, procuramos quem assuma, muito claramente, o compromisso de gerar emprego, fixar a juventude, sobressaltar a cultura e reclamar o respeito do país. Creio ser isso que fará, para muitos de nós, a diferença. Num regime decente, o perfil de um candidato mede-se pelas suas propostas, não pela curvatura do nariz.
Bem sei que a própria ideia de campanha não se dissocia de um candidato, das suas habilidades retóricas, irremediavelmente, por vezes, do seu aprumo e da sua respeitável figura. Mas não creio, definitivamente não creio, que uma ideia própria de cidade se possa fundar nas frivolidades do verniz. Imagine-se Coimbra sequestrada pela acetona, uma burlesca espada de Dâmocles.
Hoje, no JN.