Álvaro Seco, vereador socialista na câmara de Coimbra, pronunciou-se publicamente contra a degradação que envolve o renascido Mosteiro de Santa Clara-a -Velha. Aproveitou a ocasião para verberar o “anátema” que recai sobre as “margens esquerdas”. E em jeito de resposta, também publicada no Jornal de Notícias, veio o dr. Encarnação afirmar que ”Álvaro Seco está parado no tempo, virado para trás, para o antes do Convento de São Francisco, de Santa Clara-a-Velha…”. Eu creio que a deselegância deste comentário, mais ou menos despercebido, marca o princípio do fim da história para o dr. Encarnação. Mas vamos por partes.
Bem entendo as preocupações do vereador Álvaro Seco. Como as entendem, claro, todos os que passaram por Santa Clara-a-Velha e se arrepiaram com a miséria urbana que emoldura o monumento.
A minha mãe costuma dizer - e as mães dizem sempre bem - que, sem calçado a preceito, não há fatiota que me valha. Claro que, se não fosse minha mãe, outras recomendações lhe assaltariam o espírito. Mas como é, sustenta-se na convicção de que os andrajos sejam o maior dos meus pecados; e de que são, obviamente, a mácula possível, na candura deste que, a espaços, vos impacienta. Essa é, no entanto, uma outra conversa.
O que aqui importa é que, naquela sábia perspectiva, Santa Clara-a-Velha é, verdadeiramente, um monumento descalço. E que não tardará até que as mães de Coimbra se debrucem sobre o problema, firme e diligentemente, daquela maneira que só elas, as nossas estimadas mães, sabem fazer. Desvalorizar as coisas que o senso perfeito das mães de Coimbra nunca deixaria escapar é, pois, um erro grosseiro - a propósito, infantil - que, ao dr. Encarnação, sairá caro.
Mas o epílogo do presidente que se aparenta a uma encarnação da própria divindade - mesmo quando ao leme de um executivo profano - cumpre-se na tardia, embora inevitável, revelação da sua natureza autêntica. Cruamente plasmada nas infelizes acusações que dirigiu ao vereador Álvaro Seco.
Mas o epílogo do presidente que se aparenta a uma encarnação da própria divindade - mesmo quando ao leme de um executivo profano - cumpre-se na tardia, embora inevitável, revelação da sua natureza autêntica. Cruamente plasmada nas infelizes acusações que dirigiu ao vereador Álvaro Seco.
Conclui-se que o dr. Encarnação é, afinal, um homem como nós. E, como todos nós, simples mortais, é mesmo capaz das maiores intolerâncias e ingratidões. Quando se dispôs a acompanhá-lo na gestão do município, aliviando-o da muito incómoda protecção civil - perante, até, alguma incompreensão -, o vereador Álvaro Seco, decerto, não previa uma tão fatídica recompensa.