Com balanço positivo, chegou ao fim mais uma edição da Feira do Livro de Coimbra. Para os que por lá passaram, para os que acompanham a sua afirmação, mesmo no contexto nacional, não surpreende o balanço.
Mas por falar em balanço, a feira despediu-se de Coimbra e, aos poucos, uma memória de tardes caídas restará na cidade: a memória de Coimbra e dos seus na aventura, promíscua e fecunda, de uma feira de cultura. A cultura, embora invoque uma certa divindade - a transcendência da condição humana - é normalmente convocada pelas venalidades do mundo. E nessa medida, uma feira eivada por mãos e vozes e cheiros - promíscua -, se invoca a cultura, também a convoca. É fecunda e, assim, perigosa.
Talvez por isso, não vá o povo pôr-se com ideias, não vá o bom povo beliscar o “regular funcionamento das instituições” - coisa que, embora ninguém saiba muito bem o que é, importa, por via das dúvidas, preservar - a posologia da cultura coimbrã se situe em meia dúzia de tomas ao ano. Talvez por isso a modéstia, assinalável, do nosso receituário público.
Mas como se não bastasse, chega-nos a notícia de que, este ano, nem uma das escolas de Coimbra organizou visitas à Feira do Livro. Desconheço, em súbita bonomia, as responsabilidades pelo feito, mas reconheço-lhe algumas das consequências. Desde logo, o facto de terem sido menos as mãos, as vozes e os cheiros cruzados na Feira. Editando, já agora, a menos jovem de todas as Feiras. Na menos jovem de todas as terras.
Não sou dos que se comovem com a virtude infinita dos jovens, pela razão simples de que a juventude, em si mesma, é pouco mais que uma contingência. Recuso-me, por isso, a panegíricas conjugações com o futuro, a esperança, o sonho e coiso e tal. Mas subtrair à juventude as esporádicas manifestações culturais da cidade, se não é o abismo, é um passo em frente, nessa exacta direcção.