15.12.09

Cidade centrífuga



Um novo livro sobre a Associação Académica, coordenado por João Pedro Campos, foi pretexto para que se voltasse a falar das glórias da instituição e para que se reunissem, na cidade, vários dos seus ex-presidentes. Saúde-se a iniciativa e assinale-se o costume: a Associação Académica mantém uma espantosa capacidade agregadora; Coimbra manifesta-se, porém, uma cidade centrífuga.

Quanto à capacidade agregadora, sublinho que são os afectos, os que se forjaram na luta associativa, mas também nas ruas da cidade, à mesa de uns e de outros, o que conta no final das contas. O que une muito dos que passaram pela Académica é, admite-se, uma comunhão de ideias, um certo sentido de luta pela igualdade de direitos e pelo progresso social, mas isso, provavelmente, não juntaria tanta gente, apesar de tudo. Simplesmente, a Académica integra-lhes a identidade de uma forma que poucas organizações são capazes de fazer. Alude, simbolicamente, ao início da idade adulta, no que isso tem de aventura pessoal, social e política. E o encontro dos que por lá passaram, mesmo a espaços, é um ritual de reconhecimento poderoso.

Por isso mesmo se esperaria curta a viagem dos que vieram ao lançamento do novo livro. O que, sublinhe-se, não foi o caso. Vieram muitos de fora, sobretudo de Lisboa. Como quem visita uma tia da província, os ex-presidentes da Associação Académica confortam-se nos braços da cidade e - com um “sou capaz de ir aí pelo Natal” - abalam para ganhar a vida noutras paragens. Pelo meio, suspiram três vezes e levam, talvez, uma caixa de pastéis de tentúgal para o caminho. Sabem que isso é tudo o que a cidade, essa tia extremosa, tem hoje para lhes oferecer.

A respeito, quem manda na cidade encolhe os ombros e responde, de modo infantil , não ser possível absorver todos os licenciados da Academia. Lembro-me do Jorge Amado que também dizia não ser possível dormir com todas as mulheres do mundo. O escritor Baiano sempre acrescentava, porém, que se deve tentar.