16.12.09

Declaração de candidatura

O Partido Socialista é uma organização com enormes responsabilidades públicas. Sendo um partido fundador da democracia portuguesa, tendo protagonizado alguns dos seus momentos mais marcantes, tendo merecido a confiança de milhões de cidadãos ao longo da História, estando, hoje mesmo, mandatado pelos portugueses para governar Portugal, não pode, em nenhum patamar da sua intervenção, resignar-se a um papel acessório, secundário ou marginal.

Não pode o Partido Socialista reservar-se o papel de mero e descomprometido observador; nem pode - esse Partido que fundou a Democracia, criou o Serviço Nacional de Saúde, abriu as portas da Europa – abandonar a linha da frente, lá onde se oprimam as liberdades, onde mais se sintam as desigualdades sociais, onde campeie a injustiça, lá onde tarde o progresso.

Creio que o PS, apesar de tudo, tem sabido honrar essas responsabilidades. Nos relatos da História, decerto não terão lugar a pequena política, os erros de conjuntura, os deslizes pontuais. Desde 1973, o que ressalta é, ainda, a dedicação à causa pública, a excelência dos seus principais quadros, o contributo, decisivo, para o progresso económico e social do país. Esse é o património do Partido Socialista, um património que pertence a todos os seus militantes, um património que, em cada momento, devemos saber honrar e preservar. E é isso mesmo que o país, que Coimbra também, espera de nós.

No entanto, hoje, Coimbra observa o Partido Socialista com um misto de desilusão e ansiedade. Desilusão porque sente o Partido afastado do património que é o seu, um património que a cidade se habituou a admirar e reconhecer. Ansiedade porque, apesar disso, Coimbra se sente ainda demasiado próxima do PS e nele deposita as maiores expectativas.

Cabe-nos, cabe aos socialistas de Coimbra, resolver este impasse. O que, creio, só se fará arrumando as velhas discussões de família – muitas num estado de enquistamento irreversível – e refundando a nossa acção política, sem abdicar do debate, mas estabelecendo uma nova relação de confiança, entre os miltantes e com a cidade.

Neste processo, necessário, ambicioso e inadiável, é importante que cada um assuma as suas responsabilidades.

Quero, por isso, assumir, que serei candidato a Presidente da Comissão Política Concelhia de Coimbra do Partido Socialista, nas eleições que decorrerão em Abril do próximo ano.

Assumo, hoje, perante o meu Partido e perante a minha cidade, esse desafio. Ponderado e irreversível.

Torno, hoje, pública esta decisão – quando faltam cerca de três meses para o acto eleitoral - sabendo que não é desejável prolongar ou pronunciar, demasiado, as discussões internas do PS fora dos seus órgãos próprios. Logo que os órgãos próprios sejam, genuinamente, espaços de livre discussão.Mas é importante que a cidade e o Partido tomem já conhecimento desta decisão, para que, ao longo dos próximos meses, se possa construir um projecto colectivo, com a participação de todos, que seja um verdadeiro e transparente compromisso cívico. É isso que pretendo. Só isso permitirá um Partido plural na discussão e unido na acção.

Recuso-me – e quero que isso fique claro - a protagonizar qualquer projecto meramente pessoal, de conjuntura ou de facção. Mas recuso-me, também, à incoerência de não assumir as minhas opções. E, menos ainda, à política de caldeirada, assumindo todas as opções e o seu contrário.

Esta candidatura é, primeiro, um acto de responsabilidade perante o Partido e perante Coimbra. É depois um acto de vontade, condicionado apenas pela minha consciência. E é, finalmente, um compromisso colectivo, encorajado pela partilha de perspectivas e valores com muitos camaradas, com diferentes percursos, diferentes idades, diferentes proveniências, todos necessários e todos importantes.

Todos os envolvidos neste ambicioso movimento de mudança têm consciência das dificuldades que têm pela frente, apostados que estão em tornar o Partido Socialista, na Concelhia de Coimbra, uma organização eficiente, ao serviço das Secções e dos Militantes; e um espaço de reflexão política, actuante na oposição à maioria de direita que governa a Câmara de Coimbra, mas primando pela construção de alternativas credíveis, por um verdadeiro e participado projecto de cidade. A cidade próspera e solidária, insubmissa, respeitada que está, infelizmente, por cumprir.

No futuro, não nos poderão acusar de ter seguido a corrente, os ventos mais favoráveis ou o canto da sereia.

Sabemos o que queremos e assumiremos esse desafio, até às últimas consequências.

Não nos esgotaremos, porém, na praça pública, expondo à curiosidade dos outros, o que só aos militantes do Partido diz respeito.

De hoje em diante, serão os militantes, um por um, o centro das nossas atenções. Queremos propôr-lhes o nosso projecto. Mas, mais do que isso, queremos ouvi-los! E queremos que construam o Partido, ao nosso lado.

De hoje, em diante, discutiremos, apenas, o futuro. Porque o PS Coimbra está sequestrado pelo passado, há tempo demais.

Queremos um Partido melhor organizado e mais próximo dos militantes. Que reúna os mais empenhados, os mais preparados, para transformar o Concelho através de um programa político de esquerda.

Queremos uma cidade de oportunidades iguais para todos, coerentemente projectada, preocupada com a qualidade de vida dos seus habitantes, descomprometida de interesses particulares ou de estratégias obscuras.

Queremos influenciar, de novo, a vida política do País, fazendo de Coimbra e do PS Coimbra, uma voz incontornável.

E entregamo-nos a este desafio, sobretudo, porque acreditamos que Coimbra tem futuro!


Coimbra, 17 de Dezembro de 2009