Uma cidade não é um avião. Mesmo que pareça robusta e sofisticada. Ainda que, por segurança, esteja reservada a uns quantos. Independentemente da elegância do comandante e de uma tripulação delicada, uma cidade não é, de facto, um avião. Porque raramente desafia as leis da física e porque nunca chega ao destino em piloto automático. Mas vamos por partes.
Como raramente desafiam as leis da física, as cidades não voam. Se voassem, muitos problemas de Coimbra estariam resolvidos. Faltando calor, lá iríamos todos nós, “coimbrinhas”, para o Brasil. Faltando neve, rumaríamos a Aspen. Em termos mais sérios, faltando cultura, voaríamos para Paris. Faltando emprego, mesmo em tempo de crise, voaríamos baixinho, como os crocodilos russos, para Lisboa, talvez. Mas como as cidades não voam e o TGV parece que tarda, voam os suficientes para encher um boeing. Mas não mais do que esses. Voam para o sol de Copacabana, para Paris, para a “fortuna” Lisboeta. O grosso da cidade fica-se em terra. Fica-se e enterra a cabeça na areia.
Mas as cidades, para além de não voarem, também não têm piloto automático. E é por isso, talvez, que não vamos a lado nenhum.
A presidência da câmara de Coimbra é hoje vista como um lugar de consagração. Serve para reconhecer o prestígio e o mérito das individualidades coimbrãs. Não serve para lhes desafiar o engenho. Muito menos para lhes inquietar o descanso. Talvez por isso, do ponto de vista simbólico, Obama nunca seria eleito em Coimbra. Provavelmente, a cidade bastar-se-ia com as “comprovadas” glórias militares do Senador McCain.
Sentado no seu trono, na praça 8 de Maio, o presidente da Câmara de Coimbra acena ao povo com uma côdea de pão e vai alimentando, como pode, a fidalguia triste e esgotada. “Por Coimbra”, é esse o programa. Se Coimbra fosse um avião, falaríamos de uma rota circular e perdulária, até à última gota de combustível
Não admira pois, que Coimbra esteja em queda livre. Aqui, o presente é uma caricatura do passado e o futuro a previsão ousada de que o tempo o passa.
Hoje, no JN.