22.7.09

O António faz (muita) falta!




OBAMA É UMA CONDIÇÃO NECESSÁRIA, MAS AINDA NÃO SABEMOS SE É SUFICIENTE

22.07.2009


O estado do mundo segundo o homem de quem depende a sorte das vítimas mais vulneráveis dos conflitos internacionais. O seu apelo é que seja dada aos problemas humanos a mesma atenção que é dada aos problemas financeiros. Por Teresa de Sousa

Há muito que já não olha o mundo a partir de S. Bento ou do Conselho Europeu. Passou a vê-lo do lado dos dois milhões de refugiados e deslocados que estão à sua responsabilidade no Paquistão. Com muito mais pessimismo. Não por estar ao lado das vítimas mais vulneráveis das crises internacionais mas porque pensa que os últimos 10 anos foram de retrocesso nas relações internacionais. A sua ideia é a de que é preciso "globalizar" os direitos humanos e tentar de novo colocá-los no centro da agenda mundial. Obama é a condição necessária mas ainda não a suficiente. Olha a Europa com crescente descrença.
António Guterres, 60 anos, ex-primeiro-ministro português, é há quatro anos o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Está a fazer aquilo que queria fazer nesta altura da vida. Veio a Lisboa receber o Prémio Internacional Calouste Gulbenkian.


Li recentemente no Guardian um artigo seu em que faz a seguinte afirmação: "A mesma comunidade internacional que se sentiu obrigada a gastar centenas de milhares de milhões para salvar o sistema financeiro devia também sentir-se obrigada a salvar as pessoas que estão neste grau desesperado de necessidade." É uma afirmação duríssima.
Não tem medo de ser acusado de demagogia?


Não peço que seja gasto o mesmo dinheiro que foi gasto para salvar o sistema financeiro. Se o fizesse seria demagogo. O que peço é que seja dada a mesma atenção aos problemas humanos que é dada aos problemas financeiros. Porque, se isso for feito, não tenho dúvidas de que serão adoptadas estratégias de prevenção e de apoio à solução de conflitos que evitarão que muita gente venha a encontrar-se nas situações dramáticas com que tenho convivido. E porque, se isso acontecer, os recursos à disposição dos que estão envolvidos em operações humanitárias à escala global poderão, ao menos, cobrir uma grande parte das necessidades mais dramáticas que ainda estão sem resposta.

Está a dizer que não há essa atenção.

Isso é evidente. Se reparar, verifica que o financeiro recebe sempre mais atenção que o económico, o económico mais atenção que o social e o social mais atenção do que o humanitário. Dramas humanitários como os que se vivem na República Democrática do Congo ou na República Centro-Africana estão hoje completamente esquecidos do debate internacional e nesses países continua a haver milhares e milhares de pessoas que morrem indevidamente ou que são vítimas das mais graves violações dos seus direitos, permanecendo a impossibilidade de fazer frente a estas situações.

Ler mais, no Público.